Livraria do Belas

Literatura e cinema andam lado a lado. Em Belo Horizonte não é diferente: na década de 1920, o poeta Carlos Drummond de Andrade costumava frequentar cinemas de rua como o Odeon, homenageado com o poema “O fim das coisas” quando a casa fechou as portas. Hoje, com as salas de exibição do tipo em processo avançado de extinção, o Cine Una Belas Artes, que fica pertinho da praça da Liberdade, é um sobrevivente. Nele funciona uma das mais tradicionais livrarias de rua de BH — ou seria livraria de cinema?

A Livraria do Belas nasceu em 2006, por iniciativa da comunicóloga e empresária Ingrid Silva Melo. Antes do Cine Belas Artes, funcionou no Usina, um cinema de rua que ela frequentava e já não existe mais. Entre um filme e outro, Ingrid abriu a Usina das Letras e começou a vender livros.

“Como eu sou formada em comunicação social, a minha formação foi muito focada em cinema. Por isso, todas as minhas livrarias sempre estiveram coladas em espaços culturais e sempre conversam muito com outras artes”, conta a livreira. Do Usina, Ingrid levou sua livraria para o Palácio das Artes, grande complexo cultural no centro da capital mineira, onde foi rebatizada de Livraria do Palácio e a curadoria conversava também com as apresentações musicais e as exposições nas galerias. 

Até que chegou ao endereço atual, de novo num cinema: em estilo modernista, o prédio projetado pelo arquiteto Sylvio de Vasconcellos foi construído em 1953 para sediar o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo transformado em 1992 no Cine Belas Artes. É lá dentro, junto aos cartazes dos filmes em exibição, que ficam visíveis as prateleiras da Livraria do Belas.

Além dos títulos de ficção, a curadoria dá um peso especial para livros de ciências políticas, até pela grande quantidade de estudantes e professores da área que frequentam o cinema — e, por consequência, a livraria. Há cerca de vinte anos no mercado livreiro, Ingrid sabe que o papel de um negócio do gênero vai muito além do comércio. “Uma livraria é um espaço onde as pessoas conversam, trocam ideias sobre livros, vida e política. A livraria sempre foi um espaço cultural e um ponto de encontro”, defende. 

Por isso, além de vender livros, a casa promove eventos literários e conta com dois clubes de leitura mensais. O de ficção contemporânea existe há dez anos. Já o de poesia é mais recente: foi criado em setembro de 2024, numa parceria com a editora Fósforo, para promover leituras e conversas sobre títulos publicados na coleção Círculo de Poemas.