Livraria da Vila

“Em qual outro lugar o cliente terá chance de folhear um livro embaixo de uma jabuticabeira?”. A pergunta, feita por Aldo Bocchini nos primórdios da Livraria da Vila, dá há mais de quarenta anos a pista que conduz às origens de uma das mais tradicionais e queridas livrarias paulistanas. 

Fundada em abril de 1985 por Bocchini e sua mulher, Miriam Gouvêa, a Vila — como os donos e funcionários gostam de chamar — começou atraindo os moradores da Vila Madalena, bairro que então se glamourizava com a proliferação de lojinhas alternativas, residências estudantis e com a vida boêmia trazida por novos bares e restaurantes. Folheando livros entre um café e outro debaixo da jabuticabeira, até hoje fincada nos fundos da loja da rua Fradique Coutinho, os frequentadores mais assíduos viram o lugar se tornar a mais famosa livraria independente da cidade.        

Até que, perto da Vila já completar duas décadas de existência, a “epifania” de um ex-jornalista prestes a se tornar também ex-varejista do setor de móveis acabaria levando o negócio a outras oito cidades do Brasil, convertendo a pequena livraria de bairro em uma das maiores redes livreiras do país. Pelo menos é assim que Samuel Seibel, o Samuca, define o momento decisivo em que resolveu que queria trabalhar com livros. 

“Em 2002, me deu uma epifania: ser livreiro. Não fazer outra coisa qualquer na vida, ser livreiro”, resume o empresário. “Eu contei essa história na época ao poeta Affonso Romano de Sant'Anna [morto em março de 2025] e disse ‘ah, me deu um insight’. Ele falou que não era um insight, era uma epifania eu ser livreiro”.

O livreiro Samuel Seibel, da Livraria da Vila (Divulgação)

Depois de dez anos no jornalismo e outros vinte trabalhando na empresa moveleira da família, Samuca mudou mais uma vez de ramo quando se deparou com a possibilidade de adquirir a Livraria da Vila das mãos do casal Aldo Bocchini e Miriam Gouvêa. Fechou o negócio com os fundadores, trouxe os filhos Flavio Seibel e Rafael Seibel para ajudá-lo na administração e, como não deixa ninguém esquecer, herdou conhecimento e vivência de vendedores como a livreira Cida Saldanha, que já trabalhava na Vila antes dele e continua a dar dicas de leitura a quem visita a loja matriz — nos últimos anos, ela também é presença constante nas redes sociais da livraria.  

Sem abandonar a vocação original de juntar amigos e leitores que, além de ler, falam de livros, o negócio foi ganhando toques mais modernos e sendo expandido aos poucos. A começar pela própria arquitetura da loja da Fradique Coutinho, que cresceu com a aquisição do pequeno restaurante que ficava ao lado e ganhou mais espaço, incluindo um auditório para eventos literários e outros encontros culturais. 

Intervenções projetadas por arquitetos premiados como Greg Bousquet e Isay Weinfeld resultaram em mudanças no mobiliário e no visual, de estantes claras que contrastam com o colorido dos livros e têm prateleiras sempre ao alcance das mãos ao tom azul que cobre o teto das lojas mais novas da rede — hoje são 22 unidades, espalhadas pela capital e o interior paulista (Campinas, Guarulhos, São Caetano, Ribeirão Preto), além de Curitiba, Brasília, Londrina e Goiânia.

Interior da loja da Livraria da Vila na rua Fradique Coutinho, em São Paulo (Divulgação)

Em 2016, os encontros e debates literários promovidos constantemente nas lojas físicas ganharam uma versão amazônica: o Projeto Navegar é Preciso. Mistura de excursão turística e colóquio literário, a iniciativa junta anualmente leitores que adquirem os pacotes, grandes autores e expoentes da música brasileira para navegar durante cinco dias pelas águas do rio Negro, no Amazonas, enquanto discutem literatura e outros assuntos relevantes para a sociedade. 

Para Samuel Seibel, o grande projeto da Livraria da Vila é levar a cultura do livro a lugares e pessoas que podem se redescobrir lendo e conversando sobre livros. Ele cita como exemplo sua própria vida. “Para quem, como eu, sempre foi um leitor — e eu não leio hoje muito mais do que lia antes de me tornar livreiro — o mais estimulante é poder conviver com o que esse universo dos livros oferece”. 

Quem escreveu esse texto

Vitor Pamplona

Jornalista, é editor da Quatro Cinco Um

Informações atualizadas em 25/04/2025

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