Jacaré Livros

“Enquanto a minha geração estiver viva, vai existir livro de papel.”

A vontade de ter uma livraria sempre esteve no horizonte de Giuseppe Zani. Mas, de primeira, a vida o foi levando para outros lados. Quis o destino que a realização do desejo viesse quando tantos outros negócios fecharam: na pandemia. Aproveitando que seguiu vivo, e até pelo senso de urgência que os tempos de confinamento trouxeram, Zani tratou de investir na criação da Jacaré Livros, especializada em exemplares usados.

Gaúcho de Porto Alegre e morador do Rio de Janeiro desde 2004, o jornalista trabalhou por quinze anos com gestão de patrocínio a projetos culturais na Petrobras. Nesse tempo, deu seu jeito para estar próximo dos livros: fez mestrado em literatura brasileira, coordenou editais de criação literária e foi responsável por projetos do Instituto Estação das Letras.

No momento em que o mundo parou, também sua vida profissional sofreu uma reviravolta. Funcionário da BR Distribuidora, que acabou privatizada durante o governo Bolsonaro, pegou a indenização do programa de demissão voluntária e resolveu arriscar.

Em janeiro de 2021, começou com vendas online. A pequena loja na Galeria Hollywood, ao lado do largo do Machado, acabou sendo aberta apenas quando a primeira vacina contra a covid-19 já tinha chegado para boa parte da população, em agosto. O nome Jacaré Livros não apareceu naquele contexto, garante Zani: “Queria algo para cima, alegre. Daí minha filha voltou com uma conversa da escola de que jacaré chocava os ovos com o olhar, uma expressão que existe. E a gente achou que tinha tudo a ver com leitura. Desde então, a realidade brasileira só tratou de trazer novos atributos positivos ao nome”. 

Nos primeiros meses, ele logo entendeu que o garimpo era a alma do negócio. “Não dá para ter livro meia-boca. Acho que os sebos lutam mais para comprar livros do que para vender.” A prioridade é para ficção, poesia e ciências humanas. Novas aquisições costumam ser negociadas por WhatsApp. Quando a coleção tem mais de duzentos exemplares, o livreiro vai até a casa do possível vendedor para os avaliar. “Não é raro virem exemplares zerados, que nem foram abertos”, conta.

Eventos não são prioridade. Zani conta que já fez alguns, mas acha a loja pequena para receber muita gente. Tem um funcionário fixo e alguns colaboradores. Limita-se, então, a organizar uma feira no espaço da galeria quando a livraria faz aniversário, em agosto. E oferece um curso de conserto e reparo de livros que, graças à boa procura, tem acontecido de dois em dois meses.

O negócio vem se sustentando sobretudo pelas vendas na loja física, mas também pela divulgação de livros no Instagram. A atuação na rede social foi motivada por um post do vizinho Gregorio Duvivier em agosto de 2021, mês da abertura: “Sebo novo em Laranjeiras/Largo do Machado com curadoria espetacular”.

Zani aponta para uma prateleira no alto, tomada por sacolas cheias: “Isso aí é tudo encomenda de outros estados. Acho que muita gente criou a rotina de participar de leilãozinho de livro on-line, virou passatempo na pandemia”, constata ele, que fez questão de fixar na vitrine a frase: “Duas pessoas jamais leram o mesmo livro”.

(Helena Aragão visitou a livraria em setembro de 2024)

Endereço Rua das Laranjeiras, 21, loja 18, Galeria Hollywood, Laranjeiras, Rio de Janeiro (RJ)

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