Listão da Semana,

Mutirão de escritoras, Saramago e mais cinco lançamentos

O primeiro romance da poeta e contista Jarid Arraes, poemas icônicos de Aleksandr Púschkin, as memórias do cronista José Simão e mais

30jun2022 | Edição #59

Um livro nascido na Documenta de Kassel, o maior evento de artes do mundo, que neste ano é dirigido por um coletivo da Indonésia. O trabalho conjunto que norteia a curadoria da exposição inspirou editoras de diferentes países a publicarem junto uma coletânea de textos em que cada autora escreve sobre coletividade em sua própria cultura. Lumbung, o título da coletânea, que, no Brasil, é publicada pela Dublinense, designa na Indonésia o celeiro de arroz comunal. Os livros foram traduzidos também colaborativamente e chegam simultaneamente às livrarias dos países das editoras e autoras participantes.  

Completam a seleção da semana o primeiro romance da poeta e contista cearense Jarid Arraes, poemas icônicos de Aleksandr Púschkin, um álbum biográfico do Nobel português José Saramago, as memórias do cronista José Simão, um compêndio do pensamento do diretor, ator e professor de teatro Amir Haddad e uma introdução ao continente africano do professor Kauê Lopes dos Santos.

Viva o livro brasileiro!

 

Corpo desfeito. Jarid Arraes.
Alfaguara/Companhia das Letras • 128 pp • R$ 49,90

O primeiro romance da poeta e contista cearense – autora de Redemoinho em dia quente (2019), vencedor dos prêmios APCA e Biblioteca Nacional – descreve o cotidiano de Amanda, uma adolescente de doze anos que mora sozinha com uma avó desde que sua mãe morreu. Alegando imperativos religiosos, a avó procura controlar de forma doentia a rotina de Amanda, transformando o lar numa espécie de prisão. Ela começa a namorar outra menina, que a ajuda a superar seus problemas.
 
Trecho do livro: “Sem roupa e de joelhos, abaixei a cabeça para não encarar a estátua. Uma das velas estava derretida pela metade, mas a pequena chama se debatia em reflexos na parede, como se vivesse por mim o medo que meu corpo não podia ganir. Pelada, esperei o próximo toque. Meu corpo mostrava as costelas, o umbigo mal cortado que virou uma bolinha para fora, as cicatrizes, queloides, os pelos finos nos braços e pernas. Talvez fosse assustador o meu semblante bege de menina de doze anos, sustentando meu peso sobre joelhos pontudos, quieta, numa espera sem ponteiros”.   
 
Leia também: Ao narrar o rapto e a morte de indígenas, novo romance de Micheliny Verunschk mostra como o passado colonial irrompe através do tempo.

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O cavaleiro de bronze e outros poemas. Aleksándr Púchkin.
Trad. Felipe Franco Munhoz. Kalinka • 216 pp • R$ 69,50

Edição bilíngue, que incluí áudio em russo no QRcode da capa, com 41 poemas do poeta, dramaturgo e romancista considerado o pai da literatura russa moderna. O poema narrativo "O cavaleiro de bronze", sobre a estátua equestre de Pedro, O Grande e o dilúvio de 1824 em São Petersburgo, escrito em 1833, só foi publicado após a morte do autor, em 1837. É a primeira vez que o poema é publicado integralmente no Brasil.

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Saramago: os seus nomes. Um álbum biográfico. Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel (org).
Companhia das Letras • 352 pp • R$ 199,90

Um álbum biográfico com mais de duzentos nomes marcantes na trajetória de Saramago que mostra os lugares, as pessoas e os acontecimentos mais importantes da vida do escritor português. O livro traz um extenso repertório fotográfico e documental e está dividido em quatro seções: “Espaços/lugares”, sobre territórios e realidades que mentalmente habitou; “Leituras/sentidos” mostra uma constelação de obras e criadores de diferentes disciplinas que foram fundamentais na sua vida; “Escritas/criações” atravessa personagens, temas e figuras históricas presentes na sua obra; “Laços/pessoas” reúne afinidades de seu universo particular.

Leia também: José Saramago reflete sobre o papel do escritor perante o racismo.

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Definitivamente, Simão!. José Simão. 
Objetiva/Companhia das Letras • 280 pp • R$ 64,90

Sobrinho do grande sociólogo Aziz Simão, o cronista da Folha de S.Paulo narra suas memórias sentimentais, entrelaçando-as com fatos da história do Brasil (“o Gabeira disse que as velas das caravelas eram feitas de cânhamo. Maconha! Por isso que Cabral saiu para as Índias e acabou batendo no Brasil”), seu amor por São Paulo (“São Paulo é um vício! Só deixo meu São Paulo no último pau de arara!”), sua vida na ditadura (“Meu primeiro contato com a ditadura foi com a prisão do meu pai, em 1964”) e descreve as performances de figuras lendárias como Elvira Pagã, Virgínia Lane, Mara Rúbia, além de falar de sua homossexualidade e da pandemia.

Leia também: O humor é tratado por Ricardo Araújo Pereira como uma forma específica de pensar a realidade.

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Amir Haddad de todos os teatros. Claudio Mendes e Gustavo Gasparani (org.).
Cobogó • 176 pp • R$ 58

Traz um compêndio do pensamento do diretor, ator e professor de teatro mineiro, fundador do grupo Tá na Rua, que participou da fundação do Teatro Oficina e depois dirigiu peças teatrais no Pequeno Teatro de Comédia, Companhia Nydia Lícia, Teatro da Universidade Católica do Rio. Ganhador de diversos prêmios como ator e diretor, no final dos anos 1960 procurou levar a arte do teatro para as ruas, tendo fundado, além do Tá na Rua, em 1980, o grupo A Comunidade, em 1968.

Leia também: Há quarenta anos em cena e ativo na pandemia, o Grupo Galpão é tema de livro que dá pistas sobre a longevidade do coletivo.

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Lumbung: contos de mutirão. Harriet C. Brown (org).
Trad. Augusto Paim, Safa Jubran e Beatriz Regina Guimarães Barboza • Dublinense • 224 pp • R$ 49,90/34,90

Projeto coletivo articulado por editoras de sete países, reúne pequenos textos ficcionais representativos de suas respectivas culturas: Mithu Sanyal, em alemão, Yásnaya Elena Aguilar Gil, em espanhol, Uxue Alberdi, em euskera, Nesrine Khoury, em árabe, Azhari Aiyub, em indonésio, Panashe Chigumadzi, em inglês, e Cristina Judar, em português. Os relatos nos levam de um país para outro. Abordam a resistência à exploração capitalista, o processo de construção das identidades sociais, o trabalho no campo, o empoderamento geracional, o ressurgimento dos bens comuns.

Leia também: Coletânea reúne artigos de pioneira anarcofeminista brasileira sobre o controle populacional e a escravidão sexual das mulheres.

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Africano: uma introdução ao continente. Kauê Lopes dos Santos.
Record • 154 pp • R$ 54,90

Autor de Uma nova pobreza urbana: financeirização do consumo e novos espaços da periferia de São Paulo (Alameda) e Ouro por lixo: as inserções de Gana na divisão internacional do trabalho (Pallas), o professor da Unicamp desmonta os clichês veiculados pelos grandes meios de comunicação sobre a África (“natureza selvagem”, “cultura exótica”, “tragédia humana”) e mostra como os territórios adentraram o século 21. Apoiado em uma extensa base documental, ele expõe as transformações políticas do continente, os problemas ambientais, o dinamismo econômico e a complexidade cultural dos diversos países. 

Leia também: Muryatan Barbosa expõe o trabalho intelectual para definir a identidade africana e construir uma sociedade pós-colonial.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, é autora de Tantra e a arte de cortar cebolas (Editora 34).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #59 em julho de 2022.