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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Leonardo Fróes (Nilton Fukuda)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

A vida na cidade é só um fragmento da vida no planeta, diz Leonardo Fróes

Poeta e tradutor contou como sua mudança para viver perto da natureza nos anos 70 mudou sua vida e o tornou um cronista popular

22jun2025

Poeta e tradutor renomado, Leonardo Fróes voltou à Feira do Livro neste domingo (22), depois de sua aplaudida participação no sábado, para falar mais detidamente sobre sua outra grande paixão: a natureza. O mote era Natureza: a arte de plantar (Cepe, 2021), volume organizado pelo professor Vitor da Rosa, que reúne parte das centenas de colunas que publicou durante as décadas de 70 e 80 no extinto Jornal do Brasil, mais tarde reproduzidas em outros veículos. 

O mediador, o também poeta e advogado Tarso de Melo, brincou com Fróes sobre uma das perguntas feitas por uma pessoa da plateia no dia anterior — se o escritor de 84 anos acreditava no fim do mundo —, para dizer que pensou numa questão ainda mais difícil para abrir a conversa: “Leonardo, qual a melhor planta para se ter num apartamento?”.

Leonardo Fróes e Tarso de Melo (Nilton Fukuda)

Bem-humorado, o poeta sugeriu espécies mais resistentes, como comigo-ninguém-pode (“que sobrevive até nos botecos do Rio”), espada de São Jorge e costela de Adão, assim como a jiboia. Sobre o fim do mundo, no entanto, disse não ter ainda uma resposta. “Dizem que o sol vai se resfriar em algum momento e isso vai impedir a vida na Terra. Mas isso é planejado para milhões de anos, então não estaremos aqui.”

Na sequência, o poeta fluminense contou da sua grande transição de vida, quando, aos trinta anos, resolveu trocar a vida nas grandes cidades em que viveu, como Nova York, Paris e Berlim, por um terreno em Secretário, distrito de Petrópolis (RJ), onde vive até hoje. No local, que antes servia de área de pasto para gado, ergueu uma grande floresta de árvores frutíferas e espécies nativas, que atraíram de volta muitas espécies de animais silvestres. 

Fróes contou como seguiu um movimento iniciado na época nos Estados Unidos, principalmente por jovens norte-americanos e representantes do movimento beatnik, que pregavam um retorno à natureza, onde se viveria uma vida em plenitude. 

“A vida na cidade é só um fragmento da vida no planeta”, disse. “Até hoje, a gente não tem noção do que é a vida no oceano, há espécies que nunca ninguém viu, só através de radares, sonares. Nem todas as plantas do mundo foram classificadas. É certeza que há espécies na Amazônia que ninguém nunca conseguiu catalogar.”

O sexo do mamão

Foi essa experiência com a terra que inspirou o poeta a manter durante décadas a coluna “Natureza”, no Jornal do Brasil. O primeiro texto, “Estado de sítio”, fazia referência à mudança para a área rural, mas também era uma provocação à ditadura em que o país estava mergulhado. 

Durante anos escrevendo sobre diferentes espécies de plantas e animais em textos como “O problema sexual do mamão” — lido por Tarso de Melo —, o poeta então iniciante se tornou mais popular do que o esperado. “Muitas vezes, as matérias saíram nas mesmas páginas que as crônicas de Rubem Braga e Clarice Lispector”, contou o poeta. “Uma vez o Drummond escreveu uma crônica sobre a minha [coluna], foi uma força extraordinária que ele me deu. Mas nunca o abordei, sempre fui muito envergonhado.”

Leonardo Fróes e Tarso de Melo (Nilton Fukuda)

A popularidade inesperada levou Fróes a pedir demissão do cargo por acreditar que ficaria mais conhecido como jardineiro do que como poeta. Foi então que seu editor no Jornal do Brasil sugeriu que publicasse seus textos literários com seu nome real e adotasse um pseudônimo para a coluna sobre plantas. Assim nasceu “A arte de plantar”, títulos da segunda encarnação das crônicas, assinadas agora por um misterioso Solano de Castro.

“Solano de Castro me foi sugerido por ser o nome de um arbusto venenoso, popularmente conhecido por ‘arrebenta cavalo’. O nome latino era Solanum capsicastrum, daí virou Solano de Castro, um nome razoável. Mudei de nome e continuei trabalhando muito tempo”, disse.

Plantar palavras

Ao falar sobre as diferenças e aproximações entre o trabalho com a natureza e com a palavra, Tarso de Melo ressaltou como as colunas de Fróes uniam a leveza da crônica, o voo do ensaio e o rigor da divulgação científica. Questionado por uma pergunta da plateia, o escritor poetizou sobre a influência de suas duas habilidades. 

“De certa forma, escrever poesia é plantar palavras. Nos meus poemas, nunca estou escrevendo de forma usual. Estou fazendo enxertos, semeando palavras”, disse.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Amauri Arrais

É jornalista e editor da Quatro Cinco Um.