
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
Mario Prata e Ugo Giorgetti passeiam pelo futebol, causos e memórias da ditadura com olhar de cronista
O escritor e o cineasta, que acaba de publicar seu primeiro livro, divertiram o público contando histórias sobre sua paixão pelo esporte e o uso da criatividade para driblar a censura
22jun2025Na mesa Pelo buraco da fechadura, que encerrou a programação do penúltimo dia d’A Feira do Livro 2025, o escritor Mario Prata e o cineasta Ugo Giorgetti compartilharam histórias engraçadas envolvendo sua paixão pelo futebol e o ofício de cronista. O encontro, que reuniu na noite de sábado (21) o diretor de Boleiros (1998), que faz cinema como se escrevesse crônicas, e o autor de Pelo buraco da fechadura (Geração Editorial, 2023), que narra episódios da sua vida privada como se fossem filmes, teve mediação do diretor geral do festival literário e da Associação Quatro Cinco Um, Paulo Werneck.
O olhar bem-humorado para episódios curiosos e detalhes muitas vezes considerados desimportantes está sempre presente nos escritos dos dois, autores de romances como O drible da vaca (Record, 2021), em que Prata mistura pesquisa histórica e inventividade para contar sua versão da origem do futebol, a volumes de crônicas propriamente ditas como o seu Pelo buraco da fechadura (Geração Editorial, 2023), que deu nome à mesa, ou Era uma vez o futebol (Imprimatur, 2025), primeiro livro publicado por Giorgetti que reúne crônicas e contos sobre o esporte, que durante o encontro ele chamou de “grande arte popular brasileira”.


“Nenhuma arte popular brasileira se compara ao futebol [como manifestação cultural], é a grande arte popular brasileira. Foi para mostrar isso que fiz Boleiros”, disse o cineasta, que no filme apresenta uma coleção de situações divertidas do mundo do futebol que põem o espectador em contato com o que pode ser considerado a “essência” do esporte: seus personagens míticos, a paixão popular, os causos, as relações profundas entre a bola e a vida brasileira.
Esses elementos também aparecem nas crônicas que Giorgetti publicou ao longo de dezesseis anos na edição dominical do jornal O Estado de S. Paulo e foram compiladas em Era uma vez o futebol. No encontro, o cineasta atendeu a um pedido de Prata e contou uma das suas boas histórias passadas no universo esportivo, que aparece em Boleiros. E que Giorgetti diz ter de fato acontecido no estádio da rua Javari, casa do time paulistano Juventus, na Mooca, em São Paulo.
“O juiz estava comprado para beneficiar um time, e não vou nem dizer que era o Juventus”, contou Giorgetti, “mas ele vai ficando desesperado, porque até o fim do jogo não acontece nada” — nenhum lance em que ele pudesse interferir a favor do time da casa. Então, com o tempo da partida quase encerrado, relatou o cineasta, o árbitro marca um pênalti inexistente, que um jogador bate e desperdiça. O juiz anula a cobrança, manda o jogador bater de novo e, mais uma vez, ele perde. Depois de apontar nova irregularidade que ninguém viu, o juiz disse ao cobrador: “Você vai bater quantas vezes eu disser até bater direito. Aliás, você não, tem que pôr outro”, completou Giorgetti, fazendo a plateia rir.
Inglaterra e censura
Também boleiro assumido, Prata contou que seu romance O drible da vaca, finalista do prêmio Oceanos de 2022, foi fruto de sua curiosidade sobre as origens do futebol. Disse que pesquisou muito a vida de personagens históricos do período vitoriano na Inglaterra, quando o esporte que conhecemos hoje foi criado, e descobriu até que a rainha Vitória fumava maconha. “O drible da vaca, além de ser sobre futebol, é sobre a Inglaterra de meados do século 19”, explicou.
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As histórias sobre a criação das regras do futebol que estão no livro, garantiu, são baseadas na pesquisa. Já a invenção propriamente dita do esporte ficou a cargo da sua imaginação. “Aí é a minha versão, meu mito de criação”, brincou.
Provocado por Werneck, o escritor, que iniciou sua trajetória profissional como dramaturgo e autor de novelas, ainda lembrou na conversa de um momento marcante de sua atuação como jornalista: quando, para driblar a censura submetida pela ditadura militar, entrevistou o compositor Julinho de Adelaide, nome inventado por Chico Buarque para assinar canções como “Jorge Maravilha” e “Acorda, amor”.
A entrevista, publicada pelo jornal Última Hora no Sete de Setembro de 1974 para alfinetar os militares, teve grande grande repercussão e entrou para a história como um grande exemplo do uso da criatividade para burlar a censura à imprensa. “Um jornalista do Rio que sabia que o Julinho de Adelaide era o Chico acabou publicando isso depois. A partir desse momento, baixaram uma lei que, para mandar uma música para a censura [avaliar], tinha que mandar junto a carteira de identidade [do compositor]”, lembrou Prata.

Mario Prata ainda ressaltou que, no trabalho do cronista — ele é autor de mais de três mil textos do gênero —, o fundamental é observar e, principalmente, ouvir. “[Mas] no Brasil de hoje as pessoas não estão ouvindo mais. Ninguém ouve, fica esperando um vírgula sua para retrucar”, disse.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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