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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,

No penúltimo dia d’A Feira, livro e leitura foram destaque dos Tablados Literários 

Formação de leitores, tradução e processos de escrita, crime organizado, infâncias e literatura brasileira foram temas presentes na programação

22jun2025

Mais um dia agitado nos Tablados Literários d’A Feira. Desta vez, livro e leitura foram destaques na programação. No Espaço Motiva Tablado Literário, a mesa A história do livro: cinco mil anos em sessenta minutos trouxe o escritor Leonardo Garzaro e o jornalista e escritor Rodrigo Casarin, que relembraram os primeiros passos da literatura. “Eu adoraria falar que a história do livro começa de uma forma poética, mas na verdade foi com contabilidade e o registro das colheitas das propriedades”, brincou Garzaro. Ele contou que, até o século 5 antes de Cristo, a história da literatura era oral. “Não existe uma Ilíada, uma Odisseia. O que existe é um registro escrito dessas histórias orais que circulavam de boca em boca, pelos poetas e contadores de histórias”, completou Casarin. 

No mesmo espaço, a comunicadora, podcaster e escritora Sofia Menegon e a jornalista e escritora Sofia Oliveira conversaram sobre suas raízes, empoderamento feminino e os caminhos que as levaram a escrever. Menegon comentou como teve que aprender a valorizar a história das mulheres de sua família. “Ao não as valorizar, eu também não aprendi a valorizar a minha história”, disse. 

Mesa O mediador de leitura literária e os desafios da formação de leitores no Brasil (Nilton Fukuda)

Já no Tablado Literário das Bancadas, a mesa O mediador de leitura literária e os desafios da formação de leitores no Brasil reuniu as especialistas Renata Rossi, Sabrina Paixão e Daniela Momozaki, sob mediação de Helena Miranda. “Se hoje eu estou aqui é por causa de pessoas como elas”, disse Sabrina Paixão sobre a importância do trabalho das mediadoras de leitura. “Crianças e jovens estão perdendo a relação com esse corpo que é o livro.” 

“Que emocionante ver uma mesa tão cheia para falar sobre tradução!”, começou a editora e tradutora Julia Bussius, mediadora da mesa Quem traduziu o livro que você está lendo?, no Tablado Literário Mário de Andrade. Na ocasião, ela conversou com as companheiras de profissão Elisa Menezes, Lígia Azevedo e Rita Kohl, do coletivo Quem Traduziu. Elas falaram sobre condições de trabalho, como surgiu o coletivo e de que forma a tradução é também uma atividade autoral.

Mesa Humano, demasiado humano (Matias Maxx)

Falando de processos de escrita, os escritores Andréa Del Fuego e Caetano Romão refletiram sobre o desafio de construir uma literatura profundamente humana. Na mesa Humano, demasiado humano, realizada no Espaço Motiva Tablado Literário, Del Fuego definiu a escrita como um vício, uma busca constante por concentração. Já Romão falou sobre como a escrita, para ele, entra num lugar de perseguição de si mesmo e de tentar lançar novos olhares sobre os mesmos objetos. 

Infância e formação de leitores

No Tablado Literário Mário de Andrade, rolou um bate-papo bem-humorado, como sempre é quando Antonio Prata está envolvido, sobre a trajetória do jornalista na literatura infantil. Ele pincelou também outros assuntos, como suas crônicas na Folha de S.Paulo e histórias de paternidade. “Até teria escrito livros infantis se não fosse pai, mas com certeza seria uma literatura pior”, comentou Prata.

A colombiana María Ospina Pizano, que estará no Auditório Armando Nogueira no último dia d’A Feira, esteve no mesmo espaço em uma conversa com o público sobre seu recém-lançado Só um pouco aqui (Instante), traduzido por Silvia Massimini Felix. “O que sentem os animais nesse mundo em que temos tanto poder sobre eles? É pensar a história do mundo sob outra ótica, não humana”, afirmou Ospina.

Na mesa Literatura Brasileira Viva – Romances de Formação e Segredos de Família, no Espaço Motiva, as escritoras Simone AZ e Julia Codo, com mediação de Patrícia Ditolvo, discutiram os desafios e as escolhas envolvidas na escrita de romances de formação. Em Dakota Blues (Companhia das Letras, 2025), Simone AZ narra a vida de Alice dos 10 aos 50 anos. “Um dos trabalhos em que mais me debrucei foi no envelhecimento da linguagem. O texto começa com léxico e metáforas de uma menina de 10 anos, depois vai amadurecendo na adolescência e se torna mais seco e direto na fase adulta, especialmente após o casamento com Antônio”, contou. Em Caderno de ossos, (Companhia das Letras, 2025), Codo também aborda a formação de sua narradora, e destacou quão desafiador é criar uma personagem que carrega traços de sua própria geração. 

Mesa Literatura Brasileira Viva – Romances de Formação e Segredos de Família (Matias Maxx)

E o Tablado Literário das Bancadas recebeu duas conversas sobre infância. Primeiro as escritoras Lavínia Rocha, Solaine Chioro e Lorrane Fortunato comentaram sobre suas obras de literatura infantojuvenil e suas experiências de leitura na infância. Na sequência, o psicólogo Alessandro Marimpietri, autor de O que é o tempo? (Solisluna, 2023), falou do impacto para o desenvolvimento das crianças que é a aceleração do tempo, que rouba o espaço da reflexão, do processamento das emoções e mesmo do ócio.

Memória 

Memórias familiares, ficção e migração foram tema do bate-papo entre os escritores Silviane Scliar Sasson e Jacques Fux, com mediação de Carla Bettelli, que refletiram sobre como experiências de deslocamento, seja geográfico, cultural ou afetivo, atravessam suas trajetórias e suas obras. O bate-papo aconteceu no Espaço Motiva Tablado Literário.

No mesmo local, Silvana Jeha, na mesa Memória viva: narrativas negras entre o passado e o futuro, falou sobre Valongo (Veneta, 2024), uma história em quadrinhos que explora a importância histórica do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro. O local recebeu cerca de 1 milhão de africanos escravizados entre 1774 e 1831. “Uma espécie de portal do inferno”, disse Jeha. A educadora social e ativista da causa do livro Bel Santos Mayer destacou a importância de traduzir saberes acadêmicos para a vida real. 

Mesa Memória viva: narrativas negras entre o passado e o futuro (Matias Maxx)

O último debate no Tablado das Bancadas reuniu os professores e artistas Dora Longo Bahia e Wagner Morales para discutir Carta para Jane, texto de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin reeditado pelo seloceleste como parte da coleção Um Texto, Uma Imagem. Na mesa, mediada por Paula Alzugaray, os participantes discutiram como o ensaio em cima de uma foto da atriz Jane Fonda no Vietnã em 1972 é tanto uma autocrítica do diretor francês quanto uma espécie de exemplo de metodologia para a análise de imagens no mundo atual. “Quando ele propõe desvios, o afastamento para ver melhor, acho que é algo que também podemos fazer ao olhar para Gaza ou para o fluxo na Cracolândia. O princípio das representações na mídia é muito parecido: primeiro invisibilizar as pessoas para depois destruí-las”, afirmou Morales.

Crime organizado

Uma conversa esclarecedora sobre a evolução do crime organizado no Brasil reuniu um público que extrapolou o espaço do Tablado Mário de Andrade. Cecília Olliveira, uma das fundadoras do site Intercept Brasil, e o jornalista e pesquisador Bruno Paes Manso, mediados pela também jornalista Thais Bilenky, falaram sobre as muitas teias que uniram crime, política e religião nas últimas décadas. Olliveira falou sobre o que faz alguns policiais se tornarem milicianos. “Ao contrário do que se pensa, não vale a pena em termos de dinheiro, mas em honra, respeito, distinção”, contou a autora do recém-lançado Como nasce um miliciano (Bazar do Tempo). “Há vinte anos, a ideia de crime aqui no Brasil era um menino com um fuzil. Hoje, o crime organizado se internacionalizou e o dinheiro que circula entre facções e milícias alimenta outras frentes, como o crime ambiental, a lavagem de dinheiro com carros de luxo, [o crime] no setor imobiliário”, contou Paes Manso, autor de livros como A fé e o fuzil: crime e religião no Brasil do século XXI (Todavia, 2023).

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.