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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

Marina Lima, Alice Sant’Anna, Bruna Beber e Arthur Nogueira

A FEIRA DO LIVRO 2025,

Memórias afetivas dão tom da mesa em homenagem a Antonio Cicero

Marina Lima contou histórias da parceria com o irmão poeta, morto em 2024, em mesa com Arthur Nogueira, Alice Sant’Anna e Bruna Beber

21jun2025

A tarde de sábado (21) começou com uma homenagem emocionante e afetiva ao poeta Antonio Cicero, morto aos 79 anos em outubro de 2024. Com a participação do compositor, cantor e poeta paraense Arthur Nogueira, da poeta e editora Alice Sant’Anna, da cantora e compositora Marina Lima, irmã de Cicero e sua principal parceira, e mediação da poeta Bruna Beber, a mesa lotou o Palco Petrobras, com o público se aglomerando em pé nas laterais da tenda.

Os convidados deram voz às palavras do próprio Cicero, lendo cada um cinco poemas que escolheram da coletânea Fullgás: poesia reunida, que acaba de ser lançada pela Companhia das Letras. 

Marina escolheu por começar com o poema que, segundo ela, deu início à longa parceria entre os irmãos, “Canção da alma caiada”, quando ela estava com dezesseis anos e ele com 26, e moravam nos Estados Unidos. Ela estudava música no conservatório e ele, lógica e matemática na Universidade de Georgetown.

“Nessa época, um dia havia visita em casa e dormíamos no mesmo quarto. Acordei e havia no chão vários papéis jogados, meio amassados, e eu peguei um em que estava escrito ‘Alma caiada’. Era um soneto, eu estava estudando música, era fácil de musicar, então fiz uma música. E, a partir desse encontro — ou furto, como ele dizia —, iniciou a nossa parceria. Nos tornamos além de irmãos, amigos”, contou.

Marina Lima (Flávio Florido)

Beber apontou que Marina havia acabado de desmentir publicamente uma história que Cicero adorava contar, de que a irmã havia encontrado o poema em uma gaveta. “Ele criou essa história depois”, disse Marina. “Ele era mais velho, vaidoso, homem. ‘Ah, a minha irmã foi na minha gaveta.’ Mas isso nunca aconteceu. Eu falava ‘você para de dizer isso’”, contou, rindo.

Nogueira, que em 2022 lançou o álbum Brasileiro profundo, com composições em parceria com Cicero e Jorge Salomão, leu o poema que dá título a seu disco, e contou a história de sua criação. “Tem uma história que gostaria de contar, foi um dos momentos mais especiais que vivi com Cicero. Na pandemia, cada um na sua casa, a gente falava quase todos os dias por telefone. E um dia eu disse para ele que eu sentia que o Brasil estava se perdendo, e disse que devíamos fazer uma canção sobre isso. Ele respondeu que não conseguiria escrever, que estava muito deprimido. No dia seguinte, tinha um e-mail dele dizendo ‘Ontem, acabei escrevendo’. E fizemos essa canção chamada ‘Brasileiro profundo’.”

A leitura sofreu uma breve interrupção quando um jovem invadiu o palco e começou a recitar um poema, mas foi rapidamente retirado pela equipe do festival, sem oferecer resistência. Beber, que recitava “Quase” no momento da invasão, manteve o bom humor e recomeçou a leitura como se o título do poema fosse um comentário sobre o que acabara de acontecer.

Fullgás

Sant’Anna, que editou a coletânea Fullgás, exaltou o trabalho coletivo envolvido na feitura do livro. “Esse livro só foi possível porque teve muitas pessoas maravilhosas e muito ligadas ao Cicero. A Marina, em primeiro lugar; o [artista plástico] Luciano Figueiredo, que fez a capa e de quem o Cicero gostava muito; o Arthur, que foi fundamental; e o Marcelo Pies, parceiro de vida do Cicero.”

“Esse livro representa o quanto são indissociáveis a Marina e o Cicero”, acrescentou Beber.

Marina contou que ficou emocionada com a escolha do título, homônimo a uma das parcerias mais conhecidas dela e de Cicero, e contou a história da composição. “A gente estava compondo para esse que era o quinto disco da minha carreira. Eu tenho 23 discos, e nos 15 primeiros a gente compunha sem parar, tudo era desculpa para gente compor, sair, dançar.”

“Eu tinha acabado de compor a melodia, a gente estava os dois no chão do estúdio que eu tinha montado, eu cantarolando a melodia e ele escrevendo a letra. Ele me leu o verso ‘Tudo em você é fugaz’. Ele tinha escrito fugaz, com ‘z’. Eu fui alfabetizada primeiro em inglês, fui para os Estados Unidos com cinco anos. E quando ele leu, eu disse ‘vamos escrever full gas, tanque cheio?’.”

Bruna Beber (Flávio Florido)

A mesa se encerrou com a leitura do “Manifesto Fullgás” por Marina, texto escrito pelos parceiros à época do lançamento do disco, em 1984, que vinha encartado no LP. “Quando eu surgi, havia muito essa coisa da ‘música popular brasileira’, e eu era mais pop. Eu era mais jovem e queria fazer música pop. E a escrita dele também destoava. Então eu disse para gente fazer um manifesto e dizer o que nos distinguia”, relatou a cantora e compositora, em uma das mesas mais emocionantes do festival.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.