A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025, Editora 451,
Ser imigrante é encarar paradoxo entre pertencer e não pertencer, dizem autores da diáspora armênia e japonesa
Artista Cassiana Der Haroutiounian e escritor Oscar Nakasato conversaram sobre suas vivências n’A Feira do Livro
20jun2025Será possível alcançar a felicidade sendo migrante? A pergunta, feita pela artista, fotógrafa e cineasta Cassiana Der Haroutiounian ressoou na mesa Eu vim de lá, da qual ela participou com o escritor Oscar Nakasato nesta sexta (20), mediada pelo cineasta Otavio Cury.
Haroutiounian tinha acabado de contar como foi visitar pela primeira vez a Armênia, quinze anos atrás. Foi de lá que seus ancestrais vieram, no início do século 20, fugindo do genocídio promovido pelo Império Turco-Otomano durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A artista havia decidido ir ao país sozinha após passar anos de certa maneira minimizando essa parte fundamental de sua vida — as suas famílias materna e paterna são armênias, e ela frequentou uma escola da comunidade.

Na época da viagem, suas expectativas eram modestas, contou: relembrar a convivência com o avô, que havia morrido recentemente, e resgatar histórias familiares. “Mas no momento em que pisei na Armênia, foi quase como se eu tivesse voltado a ser inteira.”
Ao mesmo tempo, porém, quando morou por quatro meses no país, disse ter se sentido completamente sozinha: “Eu contava os dias para voltar ao Brasil”.
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“Ao ser imigrante, você deixa muito da sua identidade para trás. É claro que, no caso dos armênios, eles saíram para se manter vivos. Mas não acho que exista imigrantes totalmente felizes. Quem sai sempre carrega um trauma. É uma mescla de pertencimento e não pertencimento o tempo inteiro”, afirmou ela, que acaba de reunir no livro Uma ilha chamada Armênia, recém-lançado pela editora Tabla, fotografias que tirou do país ao longo de quinze anos.
Nakasato, autor dos romances Nihonjin e Ojiichan, ambos sobre as vivências da comunidade nipo-brasileira e com edições pela Fósforo, fez coro a Haroutiounian ao dizer que a experiência do imigrante é trágica em certa medida, um entrelugar que leva os sujeitos a não se sentirem pertencentes nem à sua cultura de origem, nem à de destino.
O escritor citou os avós, japoneses que viveram a maior parte de suas vidas no Brasil, mas que falavam apenas meia dúzia de palavras em português quando morreram. “Eles tinham outros costumes, outra comida, outras músicas”, disse.
Isso se deveu em parte ao próprio preconceito que seus avós nutriam contra outras etnias, esclareceu Nakasato, acrescentando que isso era algo comum entre os japoneses pré-Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Mas, prosseguiu o escritor, eles talvez tenham passado a vida inteira perguntando “onde é que estou?”, tal qual Kimiko, uma personagem com Alzheimer que aparece em seu romance Ojiichan, sobre um nipo-brasileiro septuagenário que começa a aprender a lidar com a velhice.

A sensação de ser estrangeiro pareceu ser algo que continua a acompanhar ambos os participantes da mesa. Ao final da conversa, Nakasato contou que visitou o país de seus avós pela primeira vez no ano retrasado. Quando chegou, percebeu que, apesar de nunca ter ido para lá antes, “sentia saudades do Japão”.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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