
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
Levar conhecimento matemático a toda a sociedade é questão de justiça, diz Marcelo Viana
Autor de Histórias da matemática lembrou do apagamento de mulheres na história da disciplina e ilustrou presença dos números no cotidiano
19jun2025O matemático Marcelo Viana colocou a disciplina ao rés do chão e divertiu o público d’A Feira do Livro nesta quinta-feira (19) na mesa Da contagem nos dedos à inteligência artificial, que aconteceu no Auditório Armando Nogueira com mediação do jornalista Eduardo Sombini. Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), com sede no Rio de Janeiro, Viana afirmou não acreditar que a matemática seja para gênios. “Fazer o conhecimento matemático chegar a toda a sociedade é questão de justiça”, disse o autor de Histórias da matemática: da contagem nos dedos à inteligência artificial, lançado em 2024 pela Tinta-da-China Brasil, selo editorial da Associação Quatro Cinco Um.
“Entrei nesse processo de sair do meu gabinete, da sala de aula, e comunicar com um público mais amplo porque não acredito que a matemática seja para gênios, muito pelo contrário”, afirmou Viana, que nos últimos anos vem se dedicando a falar de matemática para o grande público por meios variados, como palestras, redes sociais e suas colunas na Folha de S.Paulo. “Até hoje estou surpreso com o quão eficaz pode ser esse esforço para quebrar a barreira que separa muitas vezes o pesquisador, e o matemático de forma especial, da sociedade como um todo.”


N’A Feira do Livro, Viana narrou anedotas saborosas para mostrar que a matemática pode estar no cotidiano de forma bastante direta. Numa delas, durante as Paraolimpíadas do Rio 2016, por exemplo, ao comprar um picolé para sua filha, perguntou ao vendedor se poderia pagar com uma nota de R$ 100. Ouviu como resposta: “Poder, pode, só não sei fazer o troco”. Várias pessoas na fila se prontificaram a ajudar. O resultado? “Em poucos minutos tínhamos cinco respostas diferentes de quanto era o troco”, contou.
“Assim como aceitamos hoje em dia, em sociedades civilizadas, que o Estado tem a obrigação de alfabetizar seus cidadãos, eu coloco no mesmo nível a alfabetização matemática, para que as pessoas possam utilizar esse conhecimento no dia a dia. Isso está sendo privado à nossa sociedade”, alertou o pesquisador.
Ele também lembrou da situação precária do ensino da disciplina no Brasil ao citar dados do Pisa, exame internacional que avalia o desempenho de estudantes de quinze anos em leitura, ciências e matemática a cada três anos. “Alcançar nível 1 significa que o jovem sabe somar, subtrair, multiplicar e dividir. O nível 2 envolve um pouco mais de conhecimento em volta e é considerado o mínimo necessário pela OCDE para o exercício da cidadania. Não temos nem 50% dos nossos jovens alcançando o nível 2. De fato, 40% nem sequer alcança o nível 1.”
Apagamento feminino
Viana ainda criticou o recorrente apagamento de mulheres na história da matemática e da ciência em geral. Num exemplo, lembrou como a cientista árabe Trota, que escreveu um importante livro de medicina no século 12, teve seu gênero trocado por um copista europeu da Idade Média. “Os copistas não podiam conceber que um livro de medicina fosse escrito por uma mulher, então eles masculinizaram o nome dela [para Trotula].” O nome da autora só foi esclarecido no século passado.
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Outro caso citado foi o de Émilie du Châtelet, que fez a primeira tradução de Isaac Newton para outra língua — a francesa. A aristocrata ainda realizou experimentos para comprovar que a energia cinética é proporcional ao quadrado da velocidade. “Ela é muito conhecida nos meios literários e filosóficos e é sempre mencionada como amante de Voltaire”, lembrou Viana.
Matemática na prática
A importância da aplicação prática da matemática foi destacada por Viana ao mencionar um projeto desenvolvido pelo Impa para a Prefeitura do Rio de Janeiro. “Nos pediram para desenvolver um modelo matemático de previsão de chuva na cidade. Já entregamos para a prefeitura, é algo que tem alto impacto humano e social. Se a matemática pode ajudar a mitigar esse problema, é uma obrigação óbvia contribuirmos para isso.”
Apesar de reconhecer os desafios do Brasil na área, Viana não deixa de carregar uma nota de otimismo.
“Concordo com o Artur Avila [matemático brasileiro vencedor da prestigiosa Medalha Fields em 2014] quando ele diz que tínhamos oportunidade de decolar e os meios nos foram tolhidos. Mas continuo otimista. Temos a maior olimpíada de matemática do mundo, 23 milhões de estudantes fazendo prova ao mesmo tempo no país inteiro. Essas garotas e esses garotos vibram com a matemática. Nada ficou mais fácil, [mas] a luta continua”, declarou.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.
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