
A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A FEIRA DO LIVRO 2025,
‘Ser imigrante nos EUA é horrível’, diz Bruna Dantas Lobato em mesa com Aline Bei
A escritora e tradutora potiguar e a autora paulistana conversaram, no segundo dia d’A Feira do Livro, sobre imigração e influências em sua escrita
15jun2025A mesa Entre nós, que aconteceu na tarde deste domingo (15) n’A Feira do Livro, reuniu a autora paulistana Aline Bei e a escritora e tradutora potiguar Bruna Dantas Lobato para falarem sobre a criação de seus livros mais recentes, que trazem protagonistas femininas para contar suas histórias.
Uma das vozes mais populares da literatura contemporânea brasileira, Bei falou do seu terceiro romance, Uma delicada coleção de ausências, que sai agora pela Companhia das Letras, editora que também publica uma nova edição de O peso do pássaro morto, lançado originalmente em 2017 pela Nós e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura.


Bei, cujo segundo romance publicado foi Pequena coreografia do adeus (Companhia das Letras, 2021), ficou conhecida pelo estilo híbrido de sua literatura, que mescla diferentes gêneros textuais. Ela comentou sobre essa predileção, inspirada pela leitura de Teses sobre o conto, do autor argentino Ricardo Piglia, no qual ele afirma que o conto sempre traz duas histórias e uma delas é subterrânea. Segundo Bei, ela se perguntou se isso poderia funcionar para o romance.
“Gosto de embaralhar os gêneros ao meu modo, um pouco de poesia, dramaturgia, prosa, oralidade, vou misturando tudo isso no meu caldeirão. Eu me perguntei: teria o romance uma história subterrânea, que vai fervendo por baixo do texto, que borbulha para cima e estraga a fôrma que está posta de forma plana?”, disse a autora, que também é atriz.
Ela ainda falou de como a poesia concreta e o cinema de Agnès Varda e Chantal Akerman foram importantes para sua produção literária. O primeiro, marcado pela visualidade aliada à palavra, foi essencial para que entendesse a página como um suporte material, não só como escrita. “A poesia concreta me ensinou uma coisa importante que muitas vezes os prosadores esquecem: a página, a folha, também é linguagem. Mesmo que a gente use de uma forma já pré-estabelecida, isso não quer dizer que a folha não esteja lá e que ela não permita uma espécie de respiração. A gente tem que aprender a saltar, a condensar e a isolar”, afirmou.
O segundo a ajudou a pensar na figura do narrador para Uma delicada coleção de ausências, escrito na terceira pessoa e não na primeira, como seus livros anteriores. “O cinema [de Chantal Akerman] foi importante para compor esse livro, porque como agora escrevo esse trabalho em terceira pessoa, fiquei me perguntando quem era o narrador. De certa forma, estou filmando essas mulheres, essa sensação tátil de estar ali sem ser vista”, explicou.
Eterna estrangeira
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Vencedora do National Book Award pela tradução para o inglês de A palavra que resta (Companhia das Letras, 2021), de Stênio Gardel, Bruna Dantas Lobato estreia no romance em Horas azuis, que narra a trajetória de uma jovem construindo uma nova vida nos Estados Unidos, em meio à amizade com outros imigrantes, o laço com os parentes no Brasil e as inúmeras mudanças que o distanciamento e a solidão provocam.
Ao ser perguntada pela mediadora Paula Jacob sobre como seu livro se insere na situação atual dos imigrantes nos Estados Unidos, diante das várias políticas anti-imigratórias do governo Donald Trump, Lobato, que reside no país há anos, respondeu categoricamente: “Ser imigrante [nos EUA] é uma coisa horrível. As coisas que estão acontecendo agora já aconteciam antes e sempre aconteceram”.

“Quando eu ainda tinha visto de estudante, cidadãos de certos países foram banidos e vários colegas meus não voltaram no semestre seguinte. As pessoas não apareciam mais. Havia tanto luto e tanta tristeza no meio das várias alegrias e descobertas que também existiam. Eu via a minha comunidade sofrendo à minha volta, angustiada com isso”, continuou.
Ela também falou sobre os muitos brasileiros que estudam fora, em uma condição análoga à sua, recebendo uma bolsa de estudos e sem poder voltar para casa com tanta frequência por razões financeiras. “É uma realidade em que ninguém repara muito. Queria conversar mais sobre isso. O que é ser brasileiro lá fora? O que é ser brasileiro sozinho, sem outros brasileiros? Isso existe? Trago poucas respostas para questões maiores, porque não tem muita resposta para isso. Por que as pessoas são xenofóbicas? Não sei dizer, mas sei que são xenofóbicas. E fui lá e disse no meu livro que elas são assim”, arrematou.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.