i

A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

(Agência Terebi)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Aprendi a ler o que não gosto, da diferenciação que vem o caminho’, diz Edimilson de Almeida Pereira

Quarenta anos após a publicação de seu primeiro livro, autor afirma que busca explorar em sua obra a fricção que leva ao conflito

15jun2025

Quarenta anos após publicar seu primeiro livro de poemas, Dormundo (D’Lira, 1985), Edimilson de Almeida Pereira diz que hoje vê sua obra não como uma preocupação com desvendar caminhos, mas um ponto “numa teia muito maior que nos move”. Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2021, o poeta, romancista e professor se diz menos interessado em temáticas do que em processos de fricção, que levam ao conflito e, mais importante, à negociação.

“Isso me permitiu, mesmo desgostando de certas fórmulas e autorias, entender que elas eram importantes para me dar elementos para construir um caminho. Aprendi a ler poemas que não gosto, poetas que não aprecio. É dessa diferenciação que vem esse caminho”, afirmou neste domingo (15), n’A Feira do Livro, durante conversa sobre sua obra literária com a crítica Cristiane Tavares.

O trabalho etnográfico com comunidades, o interesse pela narrativa da afrodescendência dentro e fora do Brasil e pela música foram fundamentais para permitir a reflexão sobre a palavra em si e seus limites. “Tudo o que a palavra fala, ela também cala. A palavra dita esconde algo. O que uma imagem mostra, ela também vela. Esse jogo de palavra aberta vai sendo tensionado na minha escrita o tempo inteiro”, disse. 

Em A morte também aprecia o jazz (Fósforo, 2023), a ambição foi evocar a “vibe do improviso longo”, característica do gênero em uma espécie de haicais estendidos, para serem lidos lentamente, como partituras.

“A sonoridade da palavra emitida antecede a escrita. O poema é a fixação de algo que foi música antes de tudo”, disse o autor. “Há um momento em que você lida com o limite da palavra escrita. Ela começa a ser a tentativa da descrição mais visual daquilo que na verdade é sonoridade. Palavra escrita é aquela mancha no papel, no esforço do escritor de fazer o leitor perceber nela uma cifra musical.”

Máscaras dos outros

Pereira afirmou que sua poesia está permeada pela fala dos outros. “Procuro essa errância que me dá direito a experimentar essas outras máscaras que os outros são”, disse.

O Ausente (Relicário, 2020), seu primeiro romance, ilustra o papel central do diálogo e da alteridade em sua obra. O livro é definido por ele como um antirromance, cuja ideia nasceu de sua experiência como professor responsável por apresentar a história da literatura aos seus alunos: “um didatismo necessário que permite criar um solo para que indagações mais complexas possam ser feitas”, definiu.

No texto, o narrador não conta uma história, mas se concentra na construção de uma lógica de percepção de mundo. Ele também não diz de cara quem é. “Tenho trajetória de narrativas de afrodescendência dentro e fora do Brasil, então a primeira questão foi colocar um narrador que não fosse negro”, disse.

Essa visão da literatura é um dos argumentos pelo qual questiona a autoficção hoje. “Acho que teria que colocar em discussão o porquê a narrativa de si se deixa prender tanto por padrões estéticos do romantismo e do realismo. Nosso século é o 21”, observou.

Após completar sua trilogia em prosa, Pereira volta à poesia com Porte Étoile, lançado neste domingo pela Cobalto n’A Feira do Livro. O título vem da prática de uma comunidade no Mali de registrar observações das estrelas em portas. “O livro é uma tentativa de registrar elementos do cotidiano, mas que depois vão migrar para uma espécie de viagem transcendental. É uma espécie de portal que tem uma entrada, mas não sei para onde ele vai levar os leitores depois.”

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Fernanda Perrin

É jornalista.