A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras
MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM


A FEIRA DO LIVRO 2025,
‘Minha escrita passa por estar na rua’, diz Veronica Stigger
Autora gaúcha fala sobre relação com São Paulo, cidade que adotou há mais de vinte anos, no projeto Palavra expressa
14jun2025Veronica Stigger se considera uma deslocada, e está ótima com isso. A autora gaúcha migrou de Porto Alegre para São Paulo em 2001, vivendo como uma espécie de estrangeira tanto em sua cidade natal quanto na que adotou. É esse o olhar que ela traz para o projeto Palavra expressa, série documental de seis episódios em que escritores exploram sua relação com seu entorno.
“Eu tenho uma relação com a escrita muito associada à cidade”, disse Stigger neste sábado (14), após exibição, durante a mesa Palavra Expressa: Veronica Stigger n’A Feira do Livro, do episódio que protagoniza. “Minha escrita, os textos pelos quais estou pensando, eles passam muito por essa experiência de estar na rua.”
Letícia Costa, que dirige a obra em parceria com Laura Artigas, afirmou que a curadoria do projeto foi desafiadora. “Pensamos muito em personagens da cidade e do olhar para a cidade. Não só da sua, onde você nasceu, mas a cidade que você escolheu. E a Verônica escolheu São Paulo. São Paulo tem uma importância na obra e na trajetória [dela].”

As imagens que colhe em andanças, seja por São Paulo, Porto Alegre ou outros lugares do mundo, são desdobradas por Stigger em sua obra, que inclui livros como Os anões (Faria e Silva, 2024), Sombrio ermo turvo (Todavia, 2019) e Krakatoa (Todavia, 2024).
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“Se eu fosse crítica e fosse analisar meus textos ficcionais, eu diria que uma característica que chama a atenção é que muitos são imagéticos. Eu gosto de descrever cenas, gosto de que o leitor veja na cabeça dele a cena que imaginei ou que vi e quero levar para o livro”, disse a autora. “Há muito dessa relação com a cidade, do que vejo e encontro, e isso acaba migrando para o que escrevo.”
Na São Paulo que apresenta ao lado do companheiro, Eduardo Sterzi, Stigger passa pela Feira Cultural do Leste Europeu, na Vila Zelina; o Museu Lasar Segall – que abriga seu cinema preferido na cidade –, na Vila Mariana; a Galeria Metrópole, que define como “seu quintal”, na República; o Cemitério São Pedro, na Vila Alpina; e os ateliês no Cambuci, bairro do pintor Alfredo Volpi.
A autora vê São Paulo como uma espécie de conglomerado de muitas cidades do interior. Uma cidade da qual não é possível ter domínio. “A minha experiência com São Paulo é que a vejo como uma cidade que acolhe as pessoas. Ela deixa você ser o que você é”, afirmou.
Surreal
A capital paulista é também terreno fértil para o olhar de uma escritora interessada pelo surreal. “É como se o que me chamasse atenção na realidade fosse aquilo que não parece real. Quando a realidade parece irreal. Volta e meia nos damos conta disso, ainda mais numa cidade como São Paulo, onde há várias coisas malucas acontecendo. Isso me interessa muito, prestar atenção em algo da realidade que não parece ser verdade”, disse.
Um exemplo é a homenagem aos mortos cuja identidade nunca foi descoberta no incêndio do Edifício Joelma, em 1974. Um memorial às treze almas, como são chamados, atraiu no Cemitério São Pedro. “Esse detalhe que as pessoas levam águas [para o memorial] porque é preciso apaziguar o fogo. Está aí um tipo de detalhe que me chama a atenção e que pode aparecer em um ou outro texto meu”, disse a escritora.
Mostrar esse tipo de atenção à cidade foi o que motivou Costa e Artigas a fazer a Palavra expressa. Gravada em 2023, a série acompanha seis escritores em quatro cidades – São Paulo e Rio de Janeiro se repetem porque, segundo a diretora, são cidades que permitem muitos olhares. Salvador e Curitiba completam a lista.
“O olhar do escritor para a vida é muito particular, muito poético, muito bonito. Isso sempre me encantou como jornalista. Eu queria trazer isso para a tela, e a literatura é etérea, ela não tem imagem”, disse Costa.
Uma espécie de inspiração para dar conta dessa ambição são os programas sobre gastronomia, que seguem chefs caminhando pelo mundo e mostrando seus achados culinários. “É tão legal acompanhar alguém mostrar os cantinhos comendo, e o escritor sempre conhece um lugar legal”, disse a diretora.
A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.
A Feira do Livro
14 a 22 de junho de 2025
Praça Charles Miller – Pacaembu – São Paulo/SP
Entrada gratuita
A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu
A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.