

Biografia, Literatura brasileira, Trechos,
O legado oswaldiano
Em Oswald de Andrade: mau selvagem, Lira Neto acompanha a trajetória e as contradições do escritor modernista desde a infância até a sua agitada vida literária
10fev2025Filho de coronel, Oswald de Andrade nem sempre esteve próximo dos ideais de liberdade característicos do movimento literário que cofundou no Brasil. Dos rigores enfrentados na infância até a consolidação da obra oswaldiana na cena literária do século 20, Lira Neto narra toda a vida do escritor modernista na biografia Oswald de Andrade: mau selvagem, publicada pela Companhia das Letras.
As revistas O Pirralho e Klaxon, o ensaio Manifesto antropofágico, o romance Marco Zero I. A Revolução Melancólica: o legado de Oswald de Andrade na cultura brasileira abarca a crítica literária, os movimentos artísticos e um extenso volume de publicações. Todas essas e outras aventuras vividas pelo escritor na literatura nacional e internacional são narradas na biografia escrita por Lira Neto.
Ambientando toda a narrativa, o autor detalha os ilustres lugares por onde passou Oswald de Andrade: o escritório na esquina da rua Marconi com a Barão de Itapetininga, os bastidores da redação d’O Pirralho, os encontros nas noites de terça-feira na casa de Mário de Andrade. Na biografia, Neto chega até os últimos suspiros do escritor, quando um infarto fulminante colocou fim na sua vida.

Leia um trecho a seguir:
Trecho de Oswald de Andrade: mau selvagem
Na penúltima edição de 1912, já com Oswald de volta à redação — e ainda às turras com Baby —, O Pirralho anunciou o início da publicação de textos escritos por “uma falange de jovens escritores franceses”. De acordo com o comunicado, a revista passaria a publicar poemas, crônicas, contos e ensaios inéditos, na intenção de atualizar os leitores paulistanos quanto às tendências literárias então em curso na Europa.
Cerca de um mês depois do anúncio, em 25 de janeiro de 1913, na edição especial de sessenta páginas comemorativa ao aniversário da cidade de São Paulo, os primeiros trabalhos da série vieram a público: dois textos, um em prosa, assinado por Gabriel Reuillard; outro em versos, de René Wachtausen, ambos reproduzidos em francês. Os dois autores ainda viriam a escrever, em parceria, peças teatrais de relativo sucesso na França. Mas, à época, eram nomes desconhecidos, em início de carreira. Se alguém indagasse por eles aos frequentadores do Montmartre ou do Montparnasse dificilmente obteria alguma informação detalhada a respeito de ambos.
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Reuillard, 27 anos, enviou para Oswald a crônica intitulada “A alma das multidões”, que discorria sobre aspectos da vida noturna parisiense. “A rua é o mais diverso, o mais instrutivo, o mais animado teatro de ação”, dizia um trecho. Wachtausen, 31 anos, autor de dois pequenos volumes de poesia, remeteu a’O Pirralho o poema “Melancolia de uma noite de verão”, que retratava uma criada, à janela, sonhando com um futuro que não fosse o de “lavar sempre a louça/ nem ser intimidada para sempre por madame”.
Nos números seguintes, seguiram-se as contribuições, também em francês, de René Morand, Léon Werth, Louis Nazzi, Marcel Millet e Max Goth, autores então promissores, mas depois quase todos esquecidos. Em comum, aqueles aspirantes a literatos partilhavam os mesmos universos temáticos: a boemia dos teatros, cafés e salões, cenários nos quais se movimentava a fauna mundana da belle époque francesa, incluindo a arraia-miúda de estudantes, dançarinas, músicos, meretrizes, cantores da noite, artistas de rua, pequenos funcionários, operários, trambiqueiros, ladrões, desempregados e desocupados em geral.Imagina-se que Oswald tenha conhecido os integrantes daquele grupo de jovens intelectuais nas perambulações noturnas em Paris, na companhia de Kamiá. A maioria deles eram colaboradores da revista Les Hommes du jour, publicação de orientação anarquista. Alguns deles até pareciam atentos ao clamor inicial das vanguardas que sacudiriam a Europa nos anos seguintes. Outros, nem tanto. No primeiro caso situava-se Léon Werth — a quem, mais tarde, Antoine de Saint-Exupéry irá dedicar O pequeno príncipe.
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