Ondjaki
Deslembramentos
às vezes os medos têm pessoas
às vezes as pessoas têm medo do silêncio. como têm medo do escuro como têm medo de perder a voz, a vez e o momento de dizer as coisas
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ultimamente, nem já milagres
haverá ainda gente com a capacidade simples de querer estar com outras gentes? (e nesse estar: um descobrir, um escutar? oxalá!)
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começar um último livro
talvez eu tenha ido tão longe nesse momento, tão perto de um dentro, que às vezes custa dizer que era imaginado de um lado só, do meu
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infindáveis estórias
é bonito esse lugar onde, sem querer, sem saber como, às vezes visitámos por surpresa e encantamento, uma pequena memória
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nem quase todos morreram
as pessoas de idade, uso pensar, têm uma tranquilidade inerente, conseguida nas ruas da vida — ou entre os vazios do sal que sobra das lágrimas
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um piano flutuante
o cinema é um lugar mágico onde somos levados, por um indeterminado
conjunto de minutos, a uma dimensão que aceitamos como paralela
Deslembramentos
a serena diagonal
na coloquial eloquência, o reavivar das coisas da língua. o discreto gozo. a silenciosa, suave, revelação
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lugares pouco redondos
devia haver uma palavra para esta falta de paz que a ansiedade promove. não é apenas um rebuliço. é, quiçá, algo perto de uma queimadura
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