Revistas,

Um fuzuê antifa e antirracista

Revista Serrote leva ao palco intelectuais, artistas e ativistas para debater epidemias autoritárias

13mar2020

A terceira edição do Festival Serrote, organizado pela revista de ensaios do Instituto Moreira Salles, começa nesta sexta-feira no IMS Paulista com um show que mescla múltiplas linguagens — música, performances artísticas e leituras — e duas palavras de ordem:  sejamos antirracistas e sejamos antifacistas.

Ao som da banda Hurtmold, que desde a primeira edição apresenta pequenos números e intervenções musicais que ilustram o debate com comentários sonoros, os convidados Antonio Obá (artista plástico), Juliana Borges (militante feminista), Rony Maltz (designer) e Stephanie Borges (poeta) vão abrir os trabalhos do fuzuê organizado por Paulo Roberto Pires — que é colunista da Quatro Cinco Um e editor da Serrote — e Guilherme Freitas, braço-direito de Pires na publicação, que está na edição de número 34.

No seu breve texto de apresentação da revista que acaba de chegar à livrarias, Pires dá a linha da curadoria que elaborou para o evento: "Intelectual que merece esse nome é do contra. Seu compromisso deve ser com a inquietação, jamais com o apaziguamento. Onde se quer consenso, ela ou ele provocam desacordo. Apontam, sempre, a aberração na normalidade, a construção do que se quer natural".

A revista traz ensaios de dois convidados internacionais do festival: o filósofo Jason Stanley ("A política do amigo e do inimigo") e Nikole Hannah-Jones ("As raízes negras da liberdade"). Os dois, escreve Pires, "são americanos e têm muito o que dizer ao Brasil pelos temas que tratam — racismo e fascismo — e também, ou sobretudo, pela coragem de se posicionar sem rodeios no debate público".

O chamado não soará estranho ao leitor das colunas de Pires na revista dos livros, que fazem uma defesa enfática da tomada de posição por parte de intelectuais neste momento de crise das democracias mundo afora. 

As duas mesas redondas de sábado aparentemente vão fazer valer essas palavras, com protagonistas do debate em torno do racismo e do facismo nos Estados Unidos e no Brasil. Uma terceira mesa, com o historiador especializado em cultura popular Luiz Antonio Simas e o pastor evangélico Henrique Vieira, foi cancelada.

Às 17h, na mesa Fascismo e Antifascismo, o autor de Como o fascismo funciona (L&PM), Jason Stanley, debate a onda neototalitária que varre o planeta com o colunista político Celso Rocha de Barros, um dos principais críticos do bolsonarismo e da guinada autoritária brasileira, com mediação de Fernando de Barros e Silva, repórter da revista Piauí e âncora do podcast Foro de Teresina.

Às 19h, na mesa Histórias Negras, a jornalista Nikole Hannah-Jones, que comanda, no jornal The New York Times, o 1619 Project, um projeto de revisão histórica do papel do racismo na construção nacional norte-americana, conversa com Ana Maria Gonçalves, autora do romance Um defeito de cor, clássico da literatura contemporânea brasileira que tematiza a herança escravocrata no país. A mediação é da jornalista Flávia Oliveira. 

O festival acontece no cine-teatro do IMS Paulista e nesta sexta-feira teve a sua programação confirmada pelo Instituto Moreira Salles, que se viu obrigado a cancelar outros eventos previstos para esses dias em virtude da crise do coronavírus, que levou ao cancelamento de viagens de alguns convidados, como a fotógrafa chilena Paz Errázuriz (cuja retrospectiva fica em cartaz na instituição a partir de terça, 17), e os integrantes da mesa sobre intolerância religiosa que estava prevista para o sábado.

A entrada é gratuita. Uma hora antes do horário marcado, serão distribuídas senhas para o público. No sábado, as senhas serão distribuídas a partir de 10h. Os debates terão tradução simultânea no IMS Paulista e serão transmidos ao vivo pelo perfil da Serrote no Facebook.