Fichamento, Poesia,
Fichamento: Ana Martins Marques
Na nova seção da Quatro Cinco Um, a autora de "O livro dos jardins" (Quelônio) ensina que poesia deve ser regada com falta d'água
03jun2019Na estreia da seção Fichamento, a poeta mineira Ana Martins Marques, autora de "O livro dos jardins" (Quelônio) – obra resenhada na edição de junho da Quatro Cinco Um – ensina que poesia se rega com falta d'água.
Já matou muitas plantas? Já, muitas. Inclusive, uma vez, um cacto, acho que por excesso de água. O livro dos jardins poderia se chamar A mulher que matou as plantas…
Poesia é poda? Acho que pode-se dizer que sim: o que marca a poesia, afinal, essencialmente, é o corte, não é? O corte do verso, mas também o corte dos excessos… Parece que a poesia, como os cactos, deve-se regar com falta d'água.
Flores do mal ou folhas de relva? Flores do mal. Mas gosto bastante do Whitman também. Aliás, adorei a nova tradução do Guilherme Gontijo Flores para o título Leaves of grass: Folhas de capim.
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Como é o seu jardim? É um jardim de apartamento, uns poucos vasos na varanda. Tudo meio abandonado, quase por sua própria conta e risco. E é agora, também, esse pequeno jardim tipográfico, em verde e vermelho, em papel bambu: um jardim portátil, que os leitores podem levar na bolsa, para tomar sol no parque…
Como é que uma flor fura o asfalto? Do mesmo modo que tantas pequenas coisas resistem e se salvam e abrem brechas e buscam criar espaço enquanto não chega o tempo “de completa justiça”.
Gosta dos jardins sem flores do Burle Marx? Muitíssimo. E, a partir da sua pergunta, fico pensando que esses jardins – em que parece haver ao mesmo tempo uma grande precisão e controle e uma extrema fluidez e liberdade do gesto; em que há claramente uma dimensão própria e autônoma do jardim e uma relação forte com a paisagem e o entorno; em que há um ritmo, livre, mas ordenado, racional, mas um pouco louco – tem alguma coisa a ver com a poesia…
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