(Derson Trevisan/Divulgação)

Literatura brasileira,

Dalton Trevisan, morto aos 99, moldou seu próprio universo dentro da literatura brasileira

Vencedor dos prêmios Jabuti e Camões, autor começou a publicar nos anos 40 e vinha republicando novas versões de seus textos

10dez2024

Dalton Trevisan, um dos maiores contistas da literatura brasileira, morreu nesta segunda-feira (9), aos 99 anos, a seis meses de completar o seu centenário. 

A produção literária do escritor curitibano, iniciada na década de 40, é tão vasta que nem os mais ávidos estudiosos de sua obra são capazes de dizer a quantidade de contos publicados. Os mais famosos deles estão nos livros O vampiro de Curitiba (Record, 1965) e Cemitério de elefantes (José Olympio, 1964).

“Não dá para saber ao certo quantos contos ele publicou na vida. Talvez só ele mesmo saiba. O que acontece é que ele vai republicando novas versões de alguns textos e construindo antologias. É difícil entender exatamente o percurso, porque alguns desses textos são retomados, reescritos ao longo da trajetória toda, o que cria uma espécie de labirinto”, diz Hélio de Seixas Guimarães. Professor e pesquisador de literatura brasileira, Guimarães organizou, ao lado de Fernando Paixão, o e-book Dalton Trevisan: uma literatura nada exemplar, coletânea de ensaios publicada pela  Tinta-da-China-Brasil (selo editorial da Associação Quatro Cinco Um) em junho deste ano. 

Uma característica marcante da obra de Trevisan é a onipresença de alguns personagens e situações, responsáveis por trazer unidade narrativa aos contos, como a figura de Nelsinho, o vampiro em pele de cafajeste que persegue virgens, professoras e prostitutas. O famoso apelido dado ao escritor, Vampiro de Curitiba, vem da frequência com que ele tratou o tema do vampirismo em sua obra, além de sua baixa sociabilidade e da falta de sono — foi chamado de “insone profissional” pelo escritor Fernando Sabino em uma entrevista ao Jornal em 6 de maio de 1974, como conta a pesquisadora Elvia Bezerra em um texto sobre a amizade entre Trevisan e Rubem Braga publicado na revista Quatro Cinco Um.

Trevisan conquistou os principais prêmios de literatura do Brasil. Levou quatro vezes o Jabuti, por Novelas nada exemplares, Cemitério de elefantes, Ah, é? e Desgracida, nos anos de 1960, 1965, 1995 e 2011, respectivamente. Em 2012, recebeu o Prêmio Machado de Assis 2011 e venceu, por unanimidade, o Prêmio Camões.

De 1946 a 1948, Trevisan também disseminou seus conhecimentos literários na revista Joaquim, fundada pelo próprio escritor, que almejava divulgar os trabalhos culturais da sua geração. Escreveram para a revista figuras notáveis como Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cândido Portinari, Antonio Candido e Vinicius de Moraes, além do próprio fundador da revista. Ao longo de quase oitenta anos de produção, Trevisan moldou seu próprio universo dentro da literatura brasileira. Em 2024, três de seus livros (Cemitério de elefantes, Contos eróticos e Macho não ganha flor) ganharam novas edições pela editora Record, que também publicou edições ilustradas dos contos Ciclista e Chuva no selo Reco-Reco — “pinçar um recorte infantojuvenil do universo brutalmente adulto de Dalton foi tarefa bem-sucedida”, escreveu Andréa Del Fuego para a Quatro Cinco Um.