Listão da Semana,
Viva as revoluções e mais 6 lançamentos
Mais de cem anos depois, as revoluções Russa (1917) e Alemã (1918-19) continuam a inspirar publicações e a ter novas camadas desvendadas
24ago2021 | Edição #48Mais de cem anos depois de derrubarem monarcas e kaisers com o ideal de governos mais democráticos (embora não sem polêmicas), as revoluções Russa (1917) e Alemã (1918-19) continuam a inspirar publicações e a ter novas camadas desvendadas. Nesta semana, chegam às livrarias brasileiras os diários de Victor Klemperer, filólogo que documentou o início da República de Weimar, e a biografia de Lênin segundo o historiador britânico Robert Service, que se baseou em arquivos liberados pelas autoridades russas após o fim da União Soviética.
Completam a seleção da semana o relato de uma repórter infiltrada em um hospício no século 19, uma história inspirada na condenação de 77 mulheres por bruxaria em uma ilha norueguesa, uma análise das rebeliões dos escravizados na Bahia, o novo romance de Julian Barnes, ensaios da antropóloga argentina Rita Segato e uma investigação sobre os bastidores do Facebook.
Viva o livro brasileiro!
Lenin: a biografia definitiva. Robert Service.
Trad. Eduardo Francisco Alves • Record • 714 pp • R$ 94,90
O historiador britânico Robert Service é autor de numerosas obras sobre a história da Rússia, incluindo biografias de Trótski e Stálin. Em seu livro sobre Lênin (1870-1924), publicado originalmente em 2000, o autor se apoia em arquivos liberados pelas autoridades russas a partir do final da União Soviética para analisar temas como as ideias centrais do marxismo-leninismo, a estratégia de tomada de poder por meio de uma aliança operário-camponesa, os bastidores da Revolução de Outubro, o estado unipartidário, a política econômica comunista e a luta para conter a burocratização do partido em seus últimos anos. Service também explora a infância, a família, os amores, a educação e o estilo de vida do revolucionário que se viu predestinado a acabar com o capitalismo, mesmo com altos custos.
Leia também: Mário Magalhães esmiúça três livros sobre a Revolução Russa, episódio-chave do século 20.
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Munique 1919: diário da revolução. Victor Klemperer.
Trad. e posf. Mário Luiz Frungillo • Pref. Christopher Clark • Carambaia • 224 pp • R$ 79,90
O filólogo Victor Klemperer produziu em seus diários um testemunho histórico inestimável sobre o início da República de Weimar e a revolução liderada pela Liga Espartaquista de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. O livro se baseia também nas cartas que ele enviou como correspondente do jornal Leipziger Neueste Nachrichten, de tendência conservadora e contrarrevolucionária.
Trecho do livro: “Em outras revoluções, em outros tempos, em outros lugares, os líderes emergem da rua, das fábricas, das redações e dos escritórios de advocacia. Em Munique, um grande número deles se originou da boêmia. […] A boêmia muniquense é uma legião estrangeira, mantida para a distração, para o divertimento do cidadão muniquense. E agora, no lugar da distração artística, entrou o divertimento político…"
Mais Lidas
Leia também: O embate contra regimes totalitários se destaca em livro de memórias da Nobel de literatura Herta Müller.
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Dez dias no hospício. Nellie Bly.
Trad. Ana Guadalupe • Pref. Patrícia Campos Mello • Fósforo • 112 pp • R$ 49,90
No século 19, Elizabeth Jane Cochrane passou dez dias infiltrada como interna em uma instituição psiquiátrica com o objetivo de expor os maus-tratos infligidos às pacientes. Sob o pseudônimo de Nellie Bly, escreveu uma série de reportagens para o jornal New York World, de Joseph Pulitzer (o editor que deu nome ao famoso prêmio literário), narrando como enfermeiras e funcionárias sádicas batiam nas internas, serviam comida estragada e forçavam as mulheres a ficar imóveis por horas a fio, passando frio, enquanto os médicos permaneciam indiferentes. As reportagens levaram o governo de Nova York a instaurar uma investigação e a destinar 1 milhão de dólares a mais por ano para o tratamento dos doentes mentais.
Nellie Bly Divulgação
Leia também: A resenha de Cristiane Costa sobre o livro, que é o escolhido do mês de setembro do Clube 451, no qual todo mês os assinantes recebem a revista impressa e um livro recém-lançado escolhido por nossos editores.
Leia também: Como o pensamento de Frantz Fanon influenciou a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial no Brasil.
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Vardø: a ilha das mulheres. Kiran Millwood Hargrave.
Trad. Flavia de Lavor • Record • 350 pp • R$ 59,90
O romance da poeta e ficcionista britânica é inspirado em eventos reais ocorridos no século 17, em uma pequena ilha de pescadores na Noruega, onde 77 mulheres foram condenadas por bruxaria e mortas na fogueira. Na trama, às vésperas do natal de 1617, uma tempestade mata a maioria dos homens da ilha de Vardø, o que faz com que as mulheres tenham de arcar com todas as funções antes executadas por eles. A independência das mulheres desperta rumores e leva o rei a mandar um comissário para acabar com as práticas de feitiçaria na ilha.
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Bahia de todos os negros: as rebeliões escravas do século 19. Fernando Granato.
História Real/ Intrínseca • 224 pp • R$ 59,90
As revoltas de escravizados na Bahia tiveram uma dimensão muito maior do que em outras áreas do país. É o que defende o escritor e jornalista ao reconstituir as lutas dos escravizados e dos afrodescendentes livres na Bahia, destacando as numerosas rebeliões na Província (Revolta dos Malês, Cemiterada, Sabinada, Greve de 1857) e o papel de Luiza Mahin, mãe do abolicionista Luiz Gama, nas rebeliões.
Ouça também: Pioneiro dos direitos humanos e da luta antirracista, Luiz Gama é tema do podcast 451 MHz.
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O homem do casaco vermelho. Julian Barnes.
Trad. Léa Viveiros de Castro • Rocco • 272 pp • R$ 79,90
Ganhador dos prêmios Médicis, Man Booker e Somerset Maugham, o escritor inglês traça um retrato da cultura europeia na Belle Époque a partir de um retrato do médico francês Samuel Jean de Pozzi, pintado por John Singer Sargent. Hoje esquecido, Pozzi foi amigo de Marcel Proust e Oscar Wilde, amante de Sarah Bernhardt, testemunha no julgamento de Alfred Dreyfus e tradutor de Charles Darwin para o francês.
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Crítica da colonialidade em oito ensaios e uma antropologia por demanda. Rita Segato.
Trad. Danielli Jatobá e Danú Gontijo • Bazar do Tempo • 346 pp • R$ a definir
A antropóloga argentina analisa a transformação do patriarcado comunitário ao patriarcado colonial-moderno, o avanço de uma frente empresarial-estatal-cristã sobre as comunidades tribais, a cor dos cárceres na América Latina, a mestiçagem no continente e o pensamento crítico de Anibal Quijano. Segato vive entre Brasília e Tilcara (Argentina) e estuda, entre outros temas, as questões de gênero nos povos indígenas e comunidades latino-americanas.
Leia também: Françoise Vergès e Heloisa Buarque de Hollanda exploram as perspectivas decoloniais do feminismo.
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Uma verdade incômoda: os bastidores do Facebook e sua batalha pela hegemonia. Sheera Frenkel e Cecilia Kang.
Trad. Claudio Marcondes, Odorico Leal e Cassio de Arantes Leite • Companhia das Letras • 384 pp. • R$ 84,90
As jornalistas do New York Times examinam as polêmicas nas quais a rede social vem se envolvendo desde 2016, como a violação da privacidade dos usuários, a manipulação de dados pessoais para difundir fake news e a omissão diante da interferência russa na eleição de Trump. Elas mostram que as controvérsias são resultado de decisões equivocadas, e eram inevitáveis, pois a rede foi programada para funcionar de maneira a reforçar as polarizações.
Leia também: A nova idade das trevas mostra como a tecnologia conduz à desigualdade humana em vários setores da sociedade.
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Matéria publicada na edição impressa #48 em junho de 2021.
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