Listão da Semana,
Uma ode à mandioca e mais 6 lançamentos
Em novo livro, Alex Atala fala sobre um dos principais ingredientes da tradição alimentar brasileira
17dez2021 | Edição #52Manihot utilissima Pohl é a protagonista do novo livro do chef Alex Atala. Sob a alcunha de mandioca, macaxeira ou aipim, desdobrando-se em farinhas, gomas, polvilhos, cauins e tucupis, o alimento é considerado por Atala o principal ingrediente da tradição alimentar brasileira e símbolo de nossa ancestralidade, responsável por “encher a barriga de quem trabalhou para nos tornar nação”. As mais de quatrocentas páginas incluem contexto histórico; aspectos culturais; formas de plantio, cultivo, processamento e preparo; 157 fotografias e receitas de chefs estrelados.
Completam a seleção da semana o primeiro romance de uma autora negra — Ann Petry — a superar um milhão de livros vendidos, o novo livro do português José Luís Peixoto, poemas do peruano César Vallejo, uma história do Vietnã, uma introdução à vida e à obra de Marx e uma reunião de contos de Vera Giaconi.
Viva o livro brasileiro!
Mandioca: Manihot utilissima Pohl. Alex Atala.
Alaúde • 416 pp • R$ 199,00
O conhecido chef traça um amplo panorama histórico sobre o cultivo, o preparo e o consumo da mandioca no Brasil, desde o período anterior à chegada dos portugueses. Com a colaboração de pesquisadores, cronistas, cozinheiros, indigenistas e fotógrafos, ele registra os usos do alimento em comunidades de Norte a Sul do país e a importância da mulher no processamento de farinhas, gomas, polvilhos, cauins e tucupis. O livro contém ilustrações e fotos de época e receitas com mandioca de chefs renomados, como Helena Rizzo, Claude Troisgros e Rodrigo Oliveira.
Trecho do livro: “Consumida sob diversas formas, literalmente do Oiapoque ao Chuí e de Cruzeiro do Sul a João Pessoa, a mandioca — ou aipim ou macaxeira — é uma planta fantástica, robusta, que cresce mesmo nos locais com solos ácidos e arenosos como os do Alto Rio Negro, no Amazonas, onde centenas de variedades são cultivadas pelos povos indígenas daquela região. É seguro afirmar que, mais do que a desgastada camisa amarela da seleção canarinha, a mandioca seja talvez a maior unanimidade nacional”.
Leia também: Dois livros exaltam a versatilidade e resgatam a história da mais brasileira das receitas, a farofa.
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A rua. Ann Petry.
Trad. Cecília Floresta • Posf. Tayari Jones • Carambaia • 352 pp • R$ 139,90/97/90
Mais Lidas
Lançado em 1946, A rua foi o primeiro romance de uma autora negra a superar um milhão de livros vendidos — e conquistou o prêmio Houghton Mifflin. A protagonista, Lutie Johnson, é uma mãe solteira que se desdobra para criar um filho de oito anos em um prédio sujo do Harlem trabalhando como empregada doméstica de uma família rica e cantando à noite em um bar sórdido.
Trecho do livro: “Ela olhou para a fachada do prédio. Piso de taco aqui queria dizer que a madeira era tão velha e esbranquiçada que nenhuma quantidade de verniz ou goma-laca esconderia as marcas e os riscos antigos, os anos de móveis arrastados pelo chão, as marteladas do tempo, crianças, bêbados, mulheres porcas e desleixadas. Aquecimento a vapor queria dizer um barulho estridente e ressonante vindo dos aquecedores bem cedo de manhã, e então um chiado que perduraria o dia inteiro”.
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Autobiografia: romance. José Luís Peixoto.
Companhia das Letras • 272 pp • R$ 69,90
Um dos maiores escritores portugueses da atualidade, Peixoto transforma José Saramago em personagemem seu novo romance. Na Lisboa da década de 80, o jovem escritor José é contratado para redigir a biografia de Saramago (um autor que gostava de Peixoto e influenciou sua obra), e passa a se encontrar com ele. O romance mescla a realidade com elementos ficcionais e tem como pano de fundo o modo como se processa uma criação literária.
Trecho do livro: “Nem o próprio José soube quanto tempo passou a vigiar Saramago. A contagem de minutos baralhava-se naquele cruzamento de fronteiras. Num instante, olhava para o escritor, analisava os incríveis detalhes da sua contemporaneidade, e, no instante seguinte, ou a meio desse, via o seu próprio rosto naquele lugar, a sua presença naquela presença. Ali estava uma imagem do seu futuro, não tinha dúvidas. Também ele seria um escritor assim, talvez um pouco mais importante, com uma fila mais longa para autógrafos”.
Leia também: José Saramago escreve sobre o papel dos escritores perante o racismo e a xenofobia.
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Poemas humanos. César Vallejo.
Trad. Fabrício Corsaletti e Gustavo Pacheco • Editora 34 • 328 pp • R$ 72
A edição bilíngue reúne 76 poemas melancólicos escritos de 1931 a 1937, mas só publicados postumamente, do escritor peruano. Em seus últimos anos de vida, Vallejo retornou a ritmos mais conhecidos, deixando de lado procedimentos experimentais que deixavam seus textos muito herméticos para torná-los mais acessíveis, em uma época em que tinha se aproximado do marxismo e feito viagens à União Soviética.
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Vietnã: uma tragédia épica (1945-1975). Max Hastings.
Trad. Berilo Vargas • Intrínseca • 848 pp • R$ 99,90
O correspondente de guerra e historiador militar britânico Max Hastings fornece um relato detalhado da longa guerra que provocou a morte de 2 milhões de civis e mais de 1 milhão de combatentes e terminou com a derrota humilhante dos franceses em Dien Bien Phuh, em 1954, e a retirada tumultada das tropas norte-americanas do Vietnã do Sul, em 1973. Hastings sustenta que Ho Chi Minh e Giap perceberam que a luta de libertação nacional não seria decidida pela tecnologia militar e pelo dinheiro das potências ocidentais, mas mostra as imensas perdas que o Vietnã do Norte experimentou durante o conflito.
Leia também: Primeiro romance do americano-vietnamita Ocean Vuong trata com sensibilidade da difícil relação com a mãe e da descoberta da sexualidade.
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Marx: ontem e hoje. Terrel Carver.
Trad. Denise Bottmann • Zahar • 344 pp • R$ 89,90
O professor de teoria política na Universidade de Bristol e autor de diversos livros sobre o materialismo histórico oferece uma introdução à vida e à obra do pensador alemão. Além de suas obras célebres, examina seus panfletos, artigos jornalísticos, sua correspondência e seus discursos para entender melhor conceitos como exploração, luta de classes, democracia e progresso e, com isso, mostrar a relevância das ideias de Marx para compreender os problemas do mundo atual.
Leia também: Biografias de Marx e Engels esclarecem não só sobre o momento em que suas ideias nasceram, mas também o presente.
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Entes queridos. Vera Giaconi.
Trad. Bruno Cobalchini Mattos • DBA Literatura • 160 pp • R$ 49,90
O segundo livro de contos da escritora nascida em Montevidéu, mas criada em Buenos Aires, traz dez histórias sobre a complexidade das relações familiares, tema que se revela já na citação de Clarice Lispector que antecede o volume: “E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor”. Em todos os relatos os laços afetivos até certo ponto compulsórios entre os familiares se misturam com medos, rancores, ódios e ameaças. Assim, um filho sente aversão por sua mãe, envelhecida e vulgar, que dorme em frente à televisão; uma paciente descobre que seu médico está doente e muda radicalmente sua atitude em relação a ele; duas crianças pequenas, filhas de uma mãe divorciada, brincam na mais completa escuridão sempre que ela sai para um de seus encontros.
Leia também: Apesar de reiteradas tentativas de silenciamento, mulheres negras nunca se deixaram calar, também na escrita fizeram quilombo.
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Matéria publicada na edição impressa #52 em outubro de 2021.