Listão da Semana,

Pagu, Dionne Brand, Conceição Evaristo e mais 14 lançamentos

Livros de Pagu, homenageada da Flip 2023, trazem relatos escritos em linguagem cifrada, uma coletânea de contos e uma carta para Oswald de Andrade

24nov2023 | Edição #75

Patrícia Rehder Galvão (1910-62), a Pagu, homenageada desta edição da Flip, festa literária que acontece de quarta a domingo em Paraty, está em dois lançamentos da semana: o relato Até onde chega a sonda: escritos prisionais e a antologia Meu corpo quer extensão.

Obras de outras autoras que estarão na cidade histórica também chegam às livrarias: Nenhuma língua é neutra, de Dionne Brand; Algumas notas do dia a dia, de Christina Sharpe; e Macabéa: Flor de Mulungu, de Conceição Evaristo, que não está na programação principal, mas lança seu livro no Encruzas Literárias, evento paralelo da festa literária. 

A semana traz ainda os poemas da slammer Mariana Felix; a memória/rapsódia de Jean-Claude Bernardet; O homem-formiga, de Han Ryner; A escrita como faca, de Annie Ernaux; um romance passado no Iraque por uma francesa que foi correspondente de guerra no país; a vida de Mãe Beata de Yemanjá, por Jefferson Barbosa; o testamento literário de Nélida Piñon; e mais novidades quentinhas.

Viva o livro brasileiro!

Até onde chega a sonda: escritos prisionais. Patrícia Galvão (Pagú).
Org. Silvana Jeha • Pref. Eloah Pina e Silvana Jeha • Fósforo • 144 pp • R$ 72,90

Relato escrito em 1939 pela autora, homenageada desta edição da Flip, que começa nesta quarta (22), em Paraty. A autora do romance proletário Parque industrial (1933) passou longos períodos na prisão entre 1931 e 1940 devido a suas atividades no Partido Comunista do Brasil e na esquerda francesa (em 1935, ao ser presa na França, quase foi mandada para a Alemanha). Escrito em linguagem cifrada devido à censura do Estado Novo, o livro contém alusões às Flores do Mal de Baudelaire, aos Pensamentos de Pascal, às Memórias do subsolo, de Dostoiévski, e ao Cântico das criaturas, de São Francisco de Assis.

Em tempos encomiásticos à persona de Patrícia Galvão (1910-62), mais conhecida como Pagu, homenageada da edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2023, é fundamental lembrar de sua face subversiva, avessa portanto ao status quo. Dificilmente ela gostaria da imagem que gerações sucessivas têm dela, a de musa, heroína revolucionária. Imaginamos que talvez ela preferisse ser reconhecida como uma escritora de aventura, como a definiu Augusto de Campos, ou ser chamada de pomba-gira — espíritos de mulheres insubmissas nas religiões de matriz africana — como fez o poeta santista Marcelo Ariel”, escrevem Silvana Jeha e Diogo Cardoso em artigo para a Quatro Cinco Um. Leia o texto na íntegra.

Ouça: No podcast 451 MHz, Martha Nowill e Adriana Armony conversam sobre a militância de Pagu, grande feminista e escritora, e como ela continua a inspirar

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Macabéa: Flor de Mulungu. Conceição Evaristo.
Ils. Luciana Nabuco • Oficina Raquel • 40 pp • R$ 52

Conto publicado originalmente em 2012, que agora reaparece em versão ilustrada por Luciana Nabuco, no qual Evaristo faz uma releitura da personagem de A hora da estrela, de Clarice Lispector. Dialogando diretamente com o narrador do romance, Rodrigo S.M., ela expõe o silenciamento a que as mulheres são submetidas e nos convida a conhecer uma outra Macabéa, detentora de uma história, uma memória e um futuro, que resiste como pode às agressões de uma sociedade hostil. 

"Desde quando vi e não só olhei de relance a moça Macabéa, caída e semimorta no chão, imaginei que a flor de mulungu seria para ela, ou melhor, seria ela." Leia o trecho na Quatro Cinco Um.

Leia também: Em entrevista, Conceição Evaristo fala da solidão do homem negro e das maneiras de amar das mulheres

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Nenhuma língua é neutra. Dionne Brand.
Trad. Lubi Prates e Jade Medeiros • Bazar do Tempo • 72 pp • R$ 49,90

Contém nove poemas da poeta e ensaísta nascida em Trinidad e Tobago e residente no Canadá, que expõem a importância da poesia como instrumento de autodescoberta e de compartilhamento de suas vivências com outras mulheres negras: “Eu me tornei eu mesma. Uma mulher que olha/ pra uma mulher e diz: aqui eu te encontrei,/ assim estou empretecendo do meu jeito”. Dionne Brand é uma das convidadas 21ª Flip.

Leia também: Almanaque da revista dos livros — edição Flip 2023: Uma cobertura da 21ª Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece de 22 a 26 de novembro, com textos sobre autores convidados e outras curiosidades

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Minha liberdade não te serve. Mariana Felix. 
Apres. Luiza Romão • WMF Martins Fontes • 158 pp • R$ 59,90

Novo livro de poemas da escritora e slammer feminista, autora de Sexo, drogas, feminismo e outros amores (2020). O livro está dividido em quatro seções (Cantigas de luta, Cantigas de desamor, Cantigas de autocuidado e Cantigas de bem-querença), nos quais aborda as lutas e os prazeres das mulheres: “Quando você ri de mim porque estou brava ridicularizando minha causa/ Nem é o sorriso em si que me maltrata/ É sua ausência de palavras/ Porque seu deboche é baque forte, fere feito corte/ E dói imaginar que minha ausência seria nobre/ Já que não meço minhas palavras/ Já que não meço o tamanho de minhas saias”.

Ouça também: no 5º episódio do podcast 451 MHz, a poeta Mel Duarte conversa com Paulo Werneck sobre poesia slam

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Wet Mácula: memória/rapsódia. Jean-Claude Bernardet e Sabina Anzuategui.
Org. Heloisa Jahn • Companhia das Letras • 144 pp • R$ 89,90

Entre maio de 2021 e junho de 2022, a tradutora Heloisa Jahn fez uma série de entrevistas com Jean-Claude Bernardet, seu amigo, para elaborar uma biografia do crítico de cinema. Mas ela morreu antes de iniciar a redação do texto. Sabina Anzuategui assumiu então a tarefa de montar, juntamente com o próprio Bernardet, um texto revelando sua trajetória pessoal e profissional.

Leia também: O crítico de cinema e escritor Jean-Claude Bernardet fala da indústria da longevidade e reflete sobre a linguagem e a urgência criativa

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O homem-formiga. Han Ryner.
Trad. Jorge Coli • Ercolano • 296 pp • R$ 76,40

Lançado em 1901 pelo escritor francês, muito antes da publicação de A metamorfose, de Franz Kafka, o romance traz a extraordinária história de um homem que se transforma em uma formiga, descrevendo as estranhas aventuras do protagonista projetado no interior de um formigueiro e surpreendido pela beleza, inteligência e heroísmo dos insetos, que contrastam com o lamentável mundo em que vivia. O romance é uma das obras precursoras da ficção científica moderna.

Leia também: Romance do escritor francês Han Ryner permite vislumbrar o que o clássico brasileiro O Ateneu teria virado nas mãos da parcela mais bicha da escola

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A escrita como faca e outros textos. Annie Ernaux.
Trad. Mariana Delfini • Fósforo • 240 pp • R$ 74,90

Coletânea de escritos em que a autora francesa esclarece episódios de sua vida e de seu projeto literário. O primeiro texto é o seu discurso ao receber o Nobel, em 7 de dezembro de 2022, no qual compartilha o prêmio com todos aqueles que defendem mais liberdade, igualdade e dignidade para todos os seres humanos, independentemente de seu sexo, gênero, pele e cultura. Em seguida, ela expõe sua trajetória em uma longa entrevista ao escritor francês Frédéric-Yves Jeannet. E, em uma conferência de 2012, ela descreve a sua infância em uma família pobre.

"É verdade que, primeiro insidiosamente, na época da publicação de O lugar, depois abertamente, com Paixão simples, críticos em sua maioria parisienses e homens, ocupando posições de poder na imprensa, se enfureceram com o que escrevo. Com o conteúdo e a forma. Sou criticada por uma obscenidade dupla, social e sexual", diz Ernaux durante a entrevista para Jeannet. Leia um trecho.

Leia também: Obra de Annie Ernaux surpreende por romper com tudo que podia ser escrito por mulheres

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Que por você se lamente o Tigre. Emilienne Malfatto.
Trad. Raquel Camargo • Nós • 96 pp • R$ 70

A escritora e fotógrafa francesa, que foi correspondente de guerra no Iraque, conquistou o prêmio Goncourt com esta narrativa ambientada no país, na qual descreve o feminicídio de uma jovem que nutre uma paixão proibida por um soldado que acaba morrendo na guerra. O romance é um mosaico de vozes que retratam a sociedade iraquiana e a condição da mulher em uma família tradicional do país. 

Leia também: Jornalista italiana desfaz a visão monolítica do Estado Islâmico no Iraque do pós-guerra onde vítimas e algozes se confundem

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A mãe do mundo: vida e lutas de Mãe Beata de Yemanjá. Jefferson Barbosa. 
Malê • 128 pp • R$ 58 

Uma biografia da ialorixá e artesã Beatriz Moreira Costa, que foi iniciada para Iemanjá por Mãe Olga do Alaketu, em Salvador. Em 1969 mudou-se para o Rio de Janeiro com os filhos, onde passou a combater o racismo e a intolerância religiosa e se tornou uma militante em defesa das ações afirmativas, dos direitos humanos e do acesso à educação e à saúde. Recebeu a Medalha Tiradentes, o Diploma Bertha Lutz e o Prêmio Direitos Humanos do governo federal. 

Leia também: Enciclopédia negra faz um trabalho de reparação histórica ao identificar figuras desconhecidas pela maioria dos brasileiros

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Os rostos que tenho. Nélida Piñon.
Record • 266 pp • R$ 59,90

Testamento literário da escritora carioca morta em 2022. Piñon ganhou diversos prêmios (Jabuti, Príncipe das Astúrias, Casa de las Américas, Juan Rulfo, Menéndez Pelayo) e foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Em 147 capítulos semelhantes às anotações de um diário, ela faz um balanço de sua vida e reflete sobre arte e finitude. 

Leia também: Diário da vontade assassinada — Lúcio Cardoso se revela em carne e espírito nas anotações íntimas que amplificam sua criação

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Meu corpo quer extensão: uma antologia (1929-1948). Pagu.
Org. Gênese Andrade • Companhia das Letras • 112 pp • R$ 29,90

Coletânea reúne o conto “A esmeralda azul do gato do Tibet”, o poema “Natureza morta”, um trecho do romance Parque industrial e uma carta para Oswald de Andrade.

Antígona: ela está entre nós. Andréa Beltrão.
Paz e Terra • 152 pp • R$ 54,90

Primeira obra literária da atriz carioca, o livro é um desdobramento da peça na qual ela reinventa a personagem de Sófocles, numa montagem que recebeu o prêmio APCA. 

O amor segundo Buenos Aires. Fernando Scheller.
HarperCollins • 352 pp • R$ 69,90

Nova edição do romance lançado em 2016, com cinco capítulos inéditos, sobre o protagonista que vai para Buenos Aires atrás da namorada e acaba ficando por lá.

Desamada: um corpo à espera do amor. Midria.
Rosa dos Tempos • 116 pp • R$ 44,90

Poemas da slammer e cientista social paulistana sobre o amor, o desamor e a solidão das mulheres negras e os corpos que não são feitos para amar.

Janonismo cultural: o uso das redes sociais e a batalha pela democracia no Brasil. André Janones.
Civilização Brasileira • 176 pp • R$ 54,90

O deputado federal mostra sua estratégia agressiva de guerrilha digital, que teve um papel importante na preservação do regime democrático nas últimas eleições.

A filosofia da música moderna. Bob Dylan.
Trad. Bruna Beber e Julia Debasse • Companhia das Letras • 352 pp • R$ 249,90

Em seu primeiro livro inédito após ganhar o Nobel de Literatura, Dylan analisa a arte da composição musical em mais de sessenta ensaios.

Algumas notas do dia a dia. Christina Sharpe.
Trad. Jess Oliveira • Fósforo • 88 pp • R$ 39,90

Uma seleção de dezoito notas de seu livro Ordinary Notes nas quais reflete sobre a beleza como método e as brechas para construir uma vida digna apesar do racismo.

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Listão da Semana: confira os lançamentos de semanas anteriores

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Mauricio Puls

É autor de Arquitetura e filosofia (Annablume) e O significado da pintura abstrata (Perspectiva), e editor-assistente da Quatro Cinco Um.

Matéria publicada na edição impressa #75 em novembro de 2023.