Listão da Semana,
O novo romance de José Falero, Mia Couto, Rute Simões Ribeiro e mais 19 lançamentos
Em ‘Vera’, protagonista criada pelo escritor gaúcho José Falero navega nas águas lodosas do machismo estrutural
07nov2024 • Atualizado em: 08nov2024Uma empregada doméstica que navega nas águas lodosas do machismo estrutural — é oprimida pelo patrão, pelo porteiro do condomínio onde trabalha, pelo abandono paterno e pelo Estado — na Porto Alegre dos anos 90 é a protagonista de Vera, novo romance do gaúcho José Falero, que chega esta semana às livrarias. Noutro lançamento, o moçambicano Mia Couto também recorre à imagem de um curso d’água margeado por lodo em A cegueira do rio, inspirado em conflitos que aconteceram em Moçambique no contexto da Primeira Guerra Mundial.
Ainda entre os lançamentos da semana: o novo romance da portuguesa Rute Simões Ribeiro; peças do Nobel de Literatura Jon Fosse; a história de amor de Nelson Motta e uma namorada no Rio dos anos 60; Madames, da sul-africana Zukiswa Wanner; uma história da psicanálise brasileira durante a ditadura; contos eróticos do italiano Alberto Moravia; a nova edição de Babado forte, de Erika Palomino; o diário de uma criança na Polônia dominada pelos nazistas; e mais novidades quentinhas.
Viva o livro brasileiro!
Veja os lançamentos de semanas anteriores.
Mais Lidas
Vera. José Falero.
Todavia // 304 pp // R$ 69,90
O novo romance do escritor gaúcho, finalista do Jabuti por Mas em que mundo tu vive (Todavia, 2021), narra o cotidiano de mulheres periféricas atravessadas pela violência, masculinidade tóxica e desigualdades sociais.
Em entrevista para a Quatro Cinco Um, Falero contou como foi escrever sobre o machismo por uma perspectiva masculina. “As mulheres têm feito uma abordagem do ponto de vista mais próximo para uma mulher, enquanto vítimas dessa opressão. O que tentei fazer é olhar para essa questão do lugar de opressor”, disse.
Leia na íntegra a entrevista de José Falero a Paula Sperb
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A cegueira do rio. Mia Couto.
Companhia das Letras // 240 pp // R$ 74,90
Inspirado em eventos que ocorreram no norte de Moçambique às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o novo romance do vencedor do prêmio Camões discute o colonialismo e a organização dos povos a partir da preservação de sua língua e memória cultural. Aqui, o autor de Terra sonâmbula (Companhia das Letras, 2016) retrata a luta de uma aldeia através do ofício da escrita, em meio aos conflitos entre alemães e portugueses, que disputam o território ao redor do rio Rovuma.
“Apoiado no sipaio Nataniel Jalasi, o sargento português Bruno Estrela arrastou-se pela margem lodosa do rio Rovuma. Custava-lhe caminhar. Trazia um continente agarrado aos pés. Para os europeus, o Rovuma era uma fronteira separando a “África Oriental Portuguesa’ da ‘África Oriental Alemã’. Para os africanos, o rio era uma mulher que engravidava com as grandes chuvas. A verdade era esta: ambas as margens eram habitadas por gente que, todas as noites, rezava aos mesmos deuses. O rio escutava as preces e voltava a ser nuvem.”
Trecho de Mia Couto “A cegueira do rio”
Saiba mais sobre o livroAssinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da Companhia das Letras. Conheça o Clube de Benefícios 451.
O homem sem mim. Rute Simões Ribeiro.
Nós // 112 pp // R$ 64
Novo romance da escritora portuguesa vencedora do Prêmio Hugo Santos e finalista do Prêmio Leya, narra a evolução do Alzheimer através de um personagem que se fragmenta entre o próprio passado e o presente, as memórias nebulosas e as falhas da consciência, que gradualmente se desfaz em meio aos familiares e amigos que mal reconhece.
Leia também: Um médico e um neurocientista defendem prevenção baseada em mudança de hábitos como forma de lidar com a doença de Alzheimer
Vai vir alguém e outras peças. Jon Fosse.
Org. e apres. Claudia Soares Cruz // Trad. Leonardo Pinto Silva // Fósforo // 368 pp // R$ 104,90
Reúne quatro textos de dramaturgia do escritor e poeta norueguês Nobel de Literatura em 2023, obras das quais o promoveram, pela visão da crítica especializada, como o Beckett do século 21. Neles, Fosse retrata com certo humor a obsessão, a solidão, os desencontros e o absurdo humano, além das complexas relações familiares entre pais e filhos e o choque entre diferentes gerações.
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Corações de papel. Nelson Motta.
Record // 160 pp // R$ 64,90
O jornalista, escritor e produtor musical paulista, autor de Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia (Objetiva, 2014), reúne a correspondência trocada com uma amiga da época da faculdade, quando os dois viviam um romance. Nele, Motta traça um panorama do período, tendo as transformações do Rio de Janeiro da década de 1960 como pano de fundo.
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Madames. Zukiswa Wanner.
Trad. Luciano Cardón // Ímã Editorial // 248 pp // R$ 64
Romance de estreia da jornalista e ativista cultural sul-africana honrada com a Medalha Goethe, descreve a elite negra recém-formada após o fim do Apartheid na África do Sul, por meio de uma mulher que contrata uma empregada branca e se vê no centro de cicatrizes mal curadas do colonialismo e de uma sociedade em transformação.
Leia também: Romance de Bessora mostra as relações entre nazismo, apartheid e a contemporaneidade
Psicanálise na Ditadura (1964-1985): História, clínica e política. Rafael Alves Lima.
Pref. Christian Dunker // Perspectiva // 448 pp // R$ 129,90
O psicanalista e pesquisador nas áreas de História e Filosofia da Psicanálise examina documentos e fontes históricas que atestam as imposições que a ditadura militar destinou aos movimentos psicanalíticos do país, enquanto tece uma crítica sobre o posicionamento dos mesmos movimentos perante o silenciamento e a política de violência.
A coisa e outros contos. Alberto Moravia.
Trad. Maurício Santana Dias // Posf. Eliane Robert Moraes // Carambaia // 288 pp // R$ 109,90
Com posfácio da crítica literária e pesquisadora da escrita erótica, a coletânea reúne catorze contos eróticos do escritor italiano Alberto Moravia (1907-1990), vencedor do Prêmio Strega e autor do romance Os indiferentes (1929). Neles, o romancista rompe as ideias da época acerca do sexo, com narrativas que orbitam ao redor de fetiches, tabus e voyeurismo.
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Babado forte: 35 anos de cultura jovem no Brasil. Erika Palomino.
Ubu // 464 pp // R$ 169,90
Edição ampliada e atualizada do livro-reportagem da jornalista e curadora carioca sobre a vida noturna na cidade e a cena clubber da década de 1990. Em comemoração aos 25 anos da primeira publicação, a autora revisita as entrevistas e relatos anteriores e expande sua cobertura além do eixo Rio-São Paulo, enquanto pensa os novos fenômenos undergrounds, como as estéticas mandrake e de cria; a influência do rap, do eletropagode e outros gêneros para as festas e raves e a importância política de festas como a Mamba Negra e a Batekoo.
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Hoje eu vi um pica-pau. Michał Skibiński e Ala Bankroft.
Trad. Gabriel Borowski // Baião // 128 pp // R$ 64,90
Com pinturas da ilustradora polonesa Ala Bankroft, o diário de infância do seminarista e educador polonês faz um retrato — entre o relato pessoal e a criação literária pela perspectiva de uma criança— do período em que a Polônia esteve sob domínio nazista, durante a Segunda Guerra Mundial.
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+ novidades quentinhas
O livro de fazer livros: Produção gráfica para edições independentes. Cecilia Arbolave.
Ils. João Montanaro // Lote 42 // 212 pp // R$ 160
Com ilustrações do quadrinista e cartunista da Folha de S.Paulo, a jornalista e editora explora conceitos da produção gráfica desde a montagem industrial aos processos artesanais da impressão de um livro.
Reverência pela vida: A sedução de Gandhi. Rubem Alves.
Pref. Raquel Alves // Papirus Editora // 144 pp // R$ 59,90
Com prefácio inédito da filha do educador e teólogo Rubem Alves (1933-2014), a obra reflete sobre a reação humana à adversidade a partir da figura e da história do ativista indiano Mahatma Gandhi.
A vida impossível. Matt Haig.
Trad. Juliana Romeiro // Bertrand // 378 pp // R$ 59,90
O romancista e jornalista inglês, autor do best-seller A biblioteca da meia-noite (Bertrand, 2021), traça a jornada de um jovem estudante de matemática em conflito com questões climáticas, o luto pela mãe e o relacionamento difícil com o pai; e sua professora, uma mulher que precisa fazer as pazes com o próprio passado.
Um animal selvagem. Joël Dicker.
Trad. Debora Fleck // Intrínseca // 400 pp // R$ 79,90
Vencedor do Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa e finalista do Goncourt, o romancista suíço narra um thriller policial sobre um assalto a uma prestigiosa joalheria em Genebra, que expõe uma rede de conexões cheia de traições, segredos e obsessões.
Albert Camus: Uma vida. Olivier Todd.
Trad. Monica Stahel // Record // 882 pp // R$ 169,90
O jornalista e escritor francês se norteia pelas correspondências pessoais do escritor, jornalista e ensaísta franco-argelino, além de gravações inéditas e entrevistas com familiares e amigos do Nobel de Literatura. Com paralelos a períodos históricos marcantes, como a ocupação da França em países norte-africanos e o nascimento de sua amizade com Sartre e Simone de Beauvoir, Todd descreve o sucesso, a revolta, seus relacionamentos conturbados e a firme posição política que manteve até o fim da vida.
Os inúteis. João Guilhoto.
Nemo // 80 pp // R$ 63
Compila uma série de contos do escritor e poeta português, autor de O livro das aproximações (Nós, 2015), em que utiliza de criações distópicas para imaginar uma realidade que nunca conheceu o capitalismo e a necessidade de produzir, consumir e performar diante de uma personalidade.
A peste: viver a morte em nosso tempo. Jacqueline Rose.
Trad. Flávia Costa Neves Machado // Fósforo // 160 pp // R$ 79,90
Ensaio da psicanalista e crítica londrina, autora de Sobre a violência e sobre a violência contra as mulheres (Fósforo, 2022), em que reflete sobre a morte nos tempos presentes após a pandemia de covid-19. Rose percorre as obras de Camus, Freud e Simone Weil, que abordam epidemias e a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, na tentativa de identificar o que há em comum entre os acometidos por conflitos, violência e desigualdade.
Hiato e amor: porque as relações sociais nos separam e como nos re/encontramos. Josephine Apraku.
Trad. Raquel Alves // Malê // 264 pp // R$ 68
Inspirada pelas obras de bell hooks acerca do amor, a escritora alemã tece uma análise da literatura afrodiaspórica, enquanto mescla a própria existência e como os relacionamentos frequentemente são impactados pela descriminação e desigualdades por conta da cor, classe e gênero dos indivíduos.
Azira’i – Um musical de memórias. Zahỳ Tentehar e Duda Rios.
Cobogó // 80 pp // R$ 52
Vencedora do Prêmio Shell de Teatro nas categorias Melhor Atriz e Melhor Iluminação, a peça autobiográfica da atriz guajajara e do ator e diretor pernambucano mescla o português e o Ze’eng eté (língua do povo Tentehar) em um musical que expõe a relação conflituosa entre uma mãe e uma filha em meio ao processo de aculturamento.
Dedico a você meu silêncio. Mario Vargas Llosa.
Trad. Paulina Wacht e Ari Roitman // Alfaguara // 208 pp // R$ 79,90
Vencedor dos prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias, Nabokov e do Nobel de Literatura em 2010, o escritor peruano narra um romance sobre a trajetória do maior especialista em música tradicional peruana, em busca de conhecer as origens do maior guitarrista do país, um jovem nascido e morto na miséria; ambos com pouca notoriedade, mas capazes de unir um país através da música.
Geminiana e seus filhos: Escravidão, maternidade e morte no Brasil do século XIX. Maria Helena P. T. Machado e Antonio Alexandre Isidio Cardoso.
Bazar do Tempo // 360 pp // R$ 98
Os historiadores e professores estruturam uma pesquisa detalhada sobre o crime da Baronesa de Grajaú, que torturou e assassinou os meninos Inocêncio e Jacintho em 1876, em São Luís do Maranhão. A obra examina a participação dos diversos personagens que se envolveram na história, os requintes de crueldade da sociedade escravista do século 19 e a luta da mãe e da avó das crianças por justiça.
Contos finais escolhidos. Franz Kafka.
Trad. Daniel Martineschen, Markus J. Weininger e Izabela M. Drozdowska-Broering // Estação Liberdade // 128 pp // R$ 61
Em comemoração ao centenário da morte do escritor tcheco, a edição bilíngue reúne vinte contos curtos escritos entre os anos de 1919 e 1924, publicados pelo amigo de Kafka após sua morte — ainda que o próprio tenha deixado em testamento que o material deveria ser descartado.