O auto-epitáfio de Rita Lee e mais 10 lançamentos

Em 2016, poucos dias antes de morrer, David Bowie lançou um álbum com músicas que referenciavam sua morte iminente. Nesta semana é o auto-epitáfio da rainha do rock brasileiro que chega às livrarias. Em Outra autobiografia — no topo dos livros mais vendidos da Amazon desde a pré-venda, em março —, Rita Lee fala com crueza (e característico bom humor) sobre o câncer diagnosticado em 2021 e que a levou à morte no último dia 8. Na revista dos livros, o jornalista Guto Alves escreve sobre a multiartista: “Porra louca. Irreverente. Original. Quebrou os tijolos que estavam em seu caminho desde que nasceu, não os aceitou. À sua maneira, colocou-se intrínseca à história do país, como cidadã, artista e crítica, e obrigatória no repertório da música brasileira”.

Completam a seleção da semana uma antologia de crônicas do artista visual e travesti anarquista Pedro Lemebel, o livro de Mikhail Kuzmin que foi o primeiro romance russo a expor a homossexualidade masculina, poemas do ucraniano Ilya Kaminsky, um romance do carioca Felipe Charbel e uma análise do mercado editorial nacional por Vanessa Ferrari.

Viva o livro brasileiro! 

Rita Lee: outra autobiografia. Rita Lee. 
GloboLivros • 179 pp • R$ 64,90

Rita Lee, morta aos 75 no dia 9 de maio, narra a descoberta de seu tumor no pulmão, o tratamento com a quimioterapia, a decisão de raspar a cabeça, seu relacionamento com as enfermeiras e a perspectiva de morrer. A cantora já tinha publicado uma autobiografia em 2016,descrevendo sua infância, sua trajetória artística, sua prisão em 1976 e seu casamento com Roberto de Carvalho.

Trecho do livro:
Sempre achei que biografia fosse coisa de gente morta. Mas, quando decidi escrever Rita Lee: uma autobiografia (2016), o livro marcava, de certo modo, uma despedida da persona ritalee, aquela dos palcos, uma vez que tinha me aposentado dos shows. E achei que nada mais tão digno de nota pudesse acontecer em minha vidinha besta. Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica.

Leia também: Rita Lee sempre se posicionou contra o machismo e a caretice geral da nação

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Poco hombre: escritos de uma bicha terceiro-mundista. Pedro Lemebel.
Trad. Mariana Sanchez • Zahar • 400 pp • R$ 84,90

Organizada pelo crítico espanhol Ignacio Echevarría, a antologia reúne 73 crônicas escritas pelo artista visual e travesti anarquista Pedro Lemebel (1952-2015), nas quais afrontava a ditadura de Augusto Pinochet e denunciava as desigualdades sociais e a marginalização dos pobres, mulheres e homossexuais durante o regime militar e a transição para a democracia.

Ao resenhar o livro para a Quatro Cinco Um, Paulo Roberto Pires escreve: “Cronista de travestis e desvalidos, do barroquismo e da cafonália, de gays e mapuches, Lemebel morreu em 2015 consagrado nas margens da literatura, da cultura e da política chilenas, territórios a que foi fiel sem se tornar clichê do 'marginal'”. Leia o texto na íntegra.

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Asas. Mikhail Kuzmin.
Trad. Francisco de Araújo • Posf. Ivan Sokolov • Carambaia • 200 pp • R$ 110,90

Publicado em 1906, Asas é o primeiro romance russo a expor de forma aberta a homossexualidade masculina. No posfácio, o poeta Ivan Sokolov destaca o pioneirismo de Kuzmin que, diferentemente de outros escritores que abordaram a questão naquela época — como Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray, André Gide em O imoralista e o brasileiro Adolfo Caminha em Bom Crioulo —, traz pela primeira vez uma história de amor gay com final feliz.

Leia também: Grandes autoras e autores indicam livros marcantes, leituras recentes e outras dicas literárias LGBTQIA+

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República surda: poemas. Ilya Kaminsky. 
Trad. Maria Cecilia Brandi • Companhia das Letras • 168 pp • R$ 69,90/39,90

Ganhador de diversos prêmios – como o National Jewish Book e o Los Angeles Times Book –, o poeta ucraniano Ilya Kaminsky, nascido em 1977 na antiga União Soviética, descreve um país ocupado pelos militares, no qual um garoto surdo é assassinado pelos soldados durante um protesto. Todas pessoas então ficam surdas: as palavras perdem o sentido e o silêncio abre caminho para novas formas de resistência popular contra o autoritarismo.

Leia também: O direito brasileiro dá escala a empreitadas autoritárias quando finge não enxergar que a Constituição é repleta de juízos de valor

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Saia da frente do meu sol. Felipe Charbel. 
Autêntica • 136 pp • R$ 54,90/38,90

O historiador carioca Felipe Charbel escreve um romance especulativo sobre a vida de seu tio-avô, um tipo estranho que foi morar de favor com a sua família, e dono de um passado intrigante. Após seu enterro, o protagonista encontra uma caixa de sapatos com fotos e documentos do seu tio, e tenta descobrir seus segredos. Charbel é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor de Janelas irreais: um diário de releituras (Relicário, 2018).

Leia também: Janelas irreais, do carioca Felipe Charbel, faz das memórias de leituras do narrador uma espécie de anteparo para todas as crises que o mundo extraliterário não para de criar

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O lugar das palavras: primeiros embates do narrador contemporâneo. Vanessa Ferrari. 
Moinhos • 102 pp • R$ 49/38,99

A crítica literária Vanessa Ferrari discute os critérios usados pelas editoras para selecionar os livros que serão publicados, orientando aqueles que desejam seguir uma carreira literária. Ela mostra que existem cinco tipos de narrador e aponta frases prontas e erros estilísticos cometidos por aspirantes a escritor.

Leia também: Irresistíveis para gerações de leitores, os relatos biográficos de grandes escritores os aproximam de nossa prosaica existência

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Afetos colaterais: a busca pela poesia na despedida de minha mãe. Bettina Bopp.
Planeta • 208 pp • R$ 49,90

O romance autobiográfico de Bettina Bopp é centrado na doença que acometeu sua mãe, vítima de delírios e alucinações provocadas pelos medicamentos. A escritora e professora reuniu frases poéticas e líricas ditas pela mãe e, para cada uma, acrescentou uma crônica. Os textos falam sobre memória, carinho, saudade, a despedida e a inexorabilidade da morte.

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

A máquina de moer os dias. Wilson Alves-Bezerra.
Iluminuras • 160 pp • R$ 62

No segundo livro da trilogia iniciada por Vapor barato (2018), um narrador escreve cartas sobre o exílio de seus personagens depois que tudo deu errado.

Malaterre. Pierre-Henry Gomont.
Trad. Renata Silveira • Nemo • 192 pp • R$ 84,90

Ganhadora dos prêmios RTL e Première, a HQ mostra o esforço de Gabriel e seus dois filhos adolescentes para reaver a fazenda de seus ancestrais na África.

Os prêmios. Julio Cortázar.
Trad. Ernani Ssó • Companhia das Letras • R$ 104,90

O primeiro romance de Cortázar, que mostra um grupo de homens e mulheres de diferentes classes que ganha como prêmio um luxuoso cruzeiro com destino desconhecido, ganha nova tradução.

Um amor de filha. Hanaide Kalaigian.
Autêntica • 144 pp • R$ 54,90

O romance acompanha uma jovem descendente de armênios que vive a tensão entre se submeter ou se libertar de uma tradição cultural que oprime mas também acolhe.

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