Listão da Semana,

Listão da semana: Chico Buarque, Rita Lee, James Baldwin e mais 14 lançamentos

Romance do cantor e compositor carioca, que acaba de completar 80 anos, ficcionaliza as memórias de sua infância e adolescência em Roma em meio a romances, amigos e os relacionamentos com a família

31jul2024 • Atualizado em: 02ago2024

Um Chico Buarque criança, descobrindo as ruas de Roma, as meninas, o sexo, a vida. Bambino a Roma, memórias ficcionalizadas do compositor e escritor, que completou 80 anos em junho, chega esta semana às livrarias. 

Mais lançamentos da semana: o novo romance de Julia Dantas; uma ficção inédita de Rita Lee; um seminário de Jung sobre Nietzsche; reflexões de Virginia Woolf; textos de James Baldwin; um infantojuvenil de Reginaldo Prandi; contos de Margaret Atwood; um ensaio sobre o sistema punitivo, por Rodrigo Francisconi Costa Pardal; um romance escrito a partir de manuscritos medievais, de Emanuele Arioli; e mais novidades quentinhas.

Viva o livro brasileiro!

Veja os lançamentos de semanas anteriores.


Bambino a Roma: ficção. Chico Buarque.
Companhia das Letras • 168 pp • R$ 79,90

Autor de Essa gente (2019), Anos de chumbo e outros contos (2021) e vencedor do prêmio Camões em 2019 pelo conjunto de sua obra, o músico e escritor carioca mescla imaginação e suas memórias de infância e do período em que morou na Via San Marino, em Roma. De sua bicicleta em ziguezague pela cidade italiana, Buarque guia as aventuras de menino e os primeiros lampejos de romance e desejo na adolescência, em meio às relações com os pais, irmãos, amigos e primeiros amores.

Trecho
“Agarrado à bola de futebol, olhei para trás ao sair de casa na Rua Haddock Lobo 1625, São Paulo, assim que partiu o caminhão de mudança. Vendo a casa tão vazia, com manchas de mobília no chão e de quadros na parede, entendi que a ausência seria longa, talvez para sempre. Zarpamos do Rio, e no convés do Giulio Cesare passageiros se abraçavam e brindavam vendo a cidade se afastar na baía de Guanabara. Eu não olhava a baía, mas sim a espuma que o transatlântico fazia no mar, como que desarranjando o caminho de volta. Durante duas semanas num oceano sem fim, havia muita festa a bordo e jogos no tombadilho, mas se me perguntarem do que mais me lembro, direi francamente que só me lembro de um mar de vômito. Vomitei no mar, no tombadilho, na piscina, no camarote de segunda classe, vomitei amarelo na toalha do restaurante, vomitei no sapato do garçom, eu vomitava os remédios e vomitava em cima do meu vômito com nojo de mim. ”. Leia o trecho na íntegra.

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A mulher de dois esqueletos. Julia Dantas.
Dublinense • 160 pp • R$ 69,90

A escritora e tradutora gaúcha, autora de Ela se chama Rodolfo (DBA, 2022) e Ruína y leveza (Dublinense, 2023), pelo qual foi finalista do prêmio São Paulo de Literatura, constrói um romance híbrido sobre uma mulher à beira dos quarenta anos e um dilema que a divide: é possível criar um filho e se dedicar à criação artística? 

“Quem sabe tu começa a viver como se tivesse um filho? Essa foi a sugestão da minha melhor amiga quando eu disse que era impossível decidir se eu queria ou não engravidar. Imediatamente lembrei de um filme americano no qual meninas adolescentes de uma escola recebiam umas bonecas a pilha e tinham que cuidar delas como parte de um programa de prevenção à gravidez precoce. A minha amiga sorriu. Acho que não era bem isso que eu estava pensando, ela disse, e então perguntou se eu, sendo uma escritora, não poderia tentar resolver essa fantasia — ela deu o nome de fantasia a essa ideia de fingir ter um filho — usando palavras. Por ser uma assídua leitora e não escrever, minha amiga tem um fetiche grande pelas palavras, pelo que elas constroem e pelo que deixam entrever, pelo que organizam. Não sei, eu respondi, e voltei do nosso encontro meio frustrada porque eu, sendo uma escritora, lido todo dia com o fato de que as palavras conseguem fazer bem menos coisas do que a minha amiga acha que conseguem.” Leia o trecho na íntegra

Leia tambémApenas mãe — Havia a falsa ideia de que eu não trabalhava, mas nunca tinha trabalhado tanto e não recebia um salário por isso

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O mito do mito: de fã e de louco, todo mundo tem um pouco. Rita Lee.
Globo Livros • 184 pp • R$ 64,90

Livro inédito da cantora e compositora paulistana, iniciado em 2005 e finalizado catorze anos depois, em 2019, sob a condição de ser publicado somente após sua morte. A rainha do rock brasileiro mescla mistério, ficção e realidade enquanto narra a busca da protagonista-cantora — que é a própria Rita — por respostas em um consultório médico no centro de São Paulo.

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O Zaratustra de Nietzsche II: notas do seminário dado entre 1936 e 1939. Carl Gustav Jung.
Trad. Caio Liudvik • Editora Vozes • 760 pp • R$ 240

Segundo volume das transcrições das sessões do seminário ministrado pelo psicólogo suíço entre 1936 e 1939, em que se debruçou sobre o filósofo e filólogo alemão Friedrich Nietzsche. O autor de Assim falava Zaratustra é analisado por sua compreensão acerca da natureza humana, além da transmissão de ideias psicológicas para a área, e sua genialidade sublimada por tendências neuróticas e pré-psicóticas.

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Anon. Virginia Woolf.
Trad. Tomaz Tadeu • Autêntica • 192 pp • R$ 79,80

Reúne uma série de textos que transmitem as reflexões de Woolf perante o anonimato de escritores — em contraposição estratégica à exposição, por gosto ou como protesto — e a categorização de leitores que leem por fruição ou curiosidade, como “O leitor” e “Anon”, escrito pela autora britânica pouco antes de sua morte em 1941.

Leia também: Ana Martins Marques, Anne Carson e Virginia Woolf partem da fluidez dos gêneros em poesia e prosa reflexivas e provocadoras

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Da próxima vez, o fogo. James Baldwin.
Trad. Nina Rizzi • Companhia das Letras • 136 pp • R$ 69,90

Originalmente publicado em 1963, o livro reúne dois textos — uma breve carta do romancista e dramaturgo estadunidense a seu sobrinho, também chamado James, e um longo ensaio sobre sua formação religiosa — que investigam a construção da identidade do próprio autor a partir da segregação racial que marcou a sociedade norte-americana.

Leia também: No centenário de James Baldwin, a entrevista que concedeu a Paulo Francis para o Pasquim lembra a complexidade de intelectuais que jamais falaram o mesmo dialeto político

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A Morte e o menino sem destino. Reginaldo Prandi.
Ils. Pedro Rafael • Escarlate • 160 pp • R$ 79,90

O sociólogo, professor e escritor paulista, autor de Mitologia dos orixás (Companhia das Letras, 2000), narra as tentativas de um menino para enganar a Morte e mudar o próprio destino, enquanto adentra a rotina, tradições e doutrinas da religião dos orixás. Inclui um glossário com textos de apresentação e histórias dos orixás. 

Leia tambémOrixás para pequenos — Professora da rede pública apresenta os deuses do candomblé em livro infantil

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Tig & Nell e outros contos. Margaret Atwood.
Trad. Clóvis Marques • Rocco • 272 pp • R$ 79,90

Coletânea de quinze contos da escritora e crítica literária canadense, célebre pelo romance distópico O conto da Aia (1985), publicados nas revistas The New Yorker e a New York Times Magazine. Atwood trata sobre o luto e memória, a relação entre mães e filhas, figuras míticas, uma releitura de um conto de fadas clássico e outros contos sobre o fantástico.

Leia também: Livros reúnem análises literárias e bastidores dos processos criativos de Elena Ferrante e Margaret Atwood


Ideologia neoliberal e sistema punitivo. Rodrigo Francisconi Costa Pardal.
Contracorrente • 248 pp • R$ 110

O jurista e professor de direito da PUC-SP examina a ligação entre o neoliberalismo e o sistema de punição brasileiro, dois aspectos que se retroalimentam e perpetuam polêmicas criminais. A partir do marxismo, Pardal indaga sobre o discurso de uma neutralidade irreal e das violências sistêmicas e simbólicas nas quais a sociedade brasileira está baseada.

Leia também: O modo como o Judiciário tratou as vítimas do Massacre do Carandiru, em 1992, permite prever que a Covid-19 promoverá uma devastação nas prisões

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Segurant, o cavaleiro do dragão. Emanuele Arioli, Alekos & Emiliano Tanzillo.
Trad. Renata Silveira • Vestígio • 256; 104; 72 pp • R$ 79,80; R$ 84,90;  R$ 69,80

Romance reconstituído pelo historiador medievalista italiano, descoberto a partir de sua pesquisa acadêmica em universidades e bibliotecas européias e estadunidenses, atrás de manuscritos medievais menos conhecidos das lendas do Rei Artur e da Távola Redonda, que foram ignorados por sete séculos. Nele, o autor descreve as aventuras de Segurant, um cavaleiro enfeitiçado pelas fadas Morgana e Sibila, em uma caçada por um dragão. 

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Oeste. Silvina Gruppo.
Trad. Laura Jahn Scotte • Cambalache • 120 pp • R$ 58
Em Buenos Aires, uma octagenária rememora a vida e encara a solidão.

O gesto que fazemos para proteger a cabeça. Ana Margarida de Carvalho.
Dublinense • 320 pp • R$ 84,90
Finalista do Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB, o romance da autora lisboeta narra o encontro entre dois homens em uma estrada do Alentejo.

A morte do alquimista. Caléu Moraes.
Nauta • 276 pp • R$ 60
O historiador e escritor catarinense parte de uma adaptação ficcional para o cinema de O alquimista, de Paulo Coelho, que recebe autores ilustres como Philip Roth, Janet Malcolm, Dario Fo e outros.

Minha cabeça dói. Alê Motta.
Faria e Silva • 96 pp • R$ 42,90
Primeiro romance da arquiteta e escritora fluminense, entrelaça presente, passado e futuro de um narrador atormentado por traumas.

Leonardo, Frida e outros artistas: oito séculos narrados em mais de cem obras de arte. Camille Jouneaux.
Trad.Heci Regina Candiani • Senac São Paulo • 719 pp • R$ 170
A escritora e colunista de cultura francesa faz um recorte da história da pintura, analisando obras que vão de Giotto e Da Vinci até Banksy. 

Eternizar em escrita preta: vol. 4. Djalma Júnior, Luz Ribeiro e Mariana Ozório.
Selo Lucias + SP Escola de Teatro • 132 pp • R$ distribuição/download gratuitos
Nova edição das Coletâneas Solano Trindade, com as peças de Djalma Júnior e Luiz Ribeiro, e da mineira Mariana Ozório. 

O mito do instinto materno: como a neurociência está reescrevendo a história da parentalidade. Chelsea Conaboy.
Trad. Laura Teixeira • Companhia das Letras • 472 pp • R$ 124,90
A jornalista estadunidense usa pesquisas da neurociência e estudos da psicanálise para desmontar a ideia de um suposto instinto materno inato.

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Listão da Semana: confira os lançamentos de semanas anteriores

Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Jaqueline Silva

É estudante de Jornalismo na ECA-USP e assistente editorial na Quatro Cinco Um.