Listão da Semana,

Jeferson Tenório, Tiago Rogero, Ágota Kristóf e mais 15 lançamentos

Novo romance do escritor carioca, vencedor do Jabuti por ‘O avesso da pele’, retrata o despertar racial de um jovem e o debate das cotas no Brasil

25out2024 • Atualizado em: 28out2024

De onde eles vêm, novo romance de Jeferson Tenório, autor de O avesso da pele, que chega esta semana às livrarias, acompanha um jovem de Porto Alegre para atravessar questões que vão das cotas raciais aos dilemas existenciais.

Também lançado esta semana, projeto Querino: um olhar afrocentrado sobre a história do Brasil, de Tiago Rogero, é o livro do podcast de mesmo nome que propõe outra forma de olhar o país, a partir de protagonistas negros. A seleção inclui ainda O grande caderno, de Ágota Kristóf; Territórios clínicos, organizado por Tide Setubal, Viviane Soranso, Laís Guizelini e Fernanda Almeida; ensaios sobre a linha e o desenho, por Edith Derdyk; um romance de Lisa Ginzburg; crônicas cariocas de Júlia Lopes de Almeida; uma novela da argentina Dolores Reyes; uma coletânea de palestra de Wole Soyinka; ensaios sobre arte de Erwin Panofsky; e mais novidades quentinhas.

Viva o livro brasileiro!

Veja os lançamentos de semanas anteriores.


De onde eles vêm. Jeferson Tenório.
Companhia das Letras // 208 pp // R$ 74,90

O escritor, professor de literatura e editor carioca, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 por O avesso da pele (Companhia das Letras, 2020), ambienta seu novo romance na Porto Alegre dos anos 2000. No livro, um jovem que vive seu despertar racial enquanto cuida da avó doente e se vê no meio dos primeiros debates acerca das cotas raciais no país.

De onde eles vêm, seu primeiro romance depois de se tornar um autor best-seller, seria sobre as cotas universitárias, segundo a divulgação da editora, talvez querendo promover o ângulo mais polêmico do livro. E, sim, as cotas permeiam toda a narrativa. Acompanhamos a chegada dos primeiros alunos cotistas a uma universidade federal gaúcha e tanto seus dilemas para serem aceitos quanto os dos outro alunos e professores para recebê-los. De onde vêm esses cotistas?, se perguntam, ecoando o título. Quem é esse outro? De onde eles vêm, entretanto, é sobre as cotas da mesma maneira que Moby Dick é sobre a indústria baleeira.”

Leia na íntegra a resenha de Alex Castro

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 25% de desconto no site da Companhia das Letras. Conheça o Clube de Benefícios 451.

Ouça também: Os escritores Jeferson Tenório e Airton Souza falam sobre o que está por trás da tentativa de censura aos seus romances premiados


Projeto Querino: um olhar afrocentrado sobre a história do Brasil. Tiago Rogero.
Fósforo // 400 pp // R$ 94,90

Vencedor do prêmio Vladimir Herzog, o jornalista mineiro e criador dos podcasts Vidas Negras, Negra Voz e projeto Querino — série de oito episódios em que transmitiu um olhar afrocentrado sobre a historiografia brasileira e como ela pode explicar o país na era contemporânea — traz entrevistas acerca de figuras negras que passaram pelo processo de apagamento histórico. Correspondente do jornal britânico The Guardian na América do Sul, Rogero vai da contribuição de Luiz Gama, Chiquinha Gonzaga e muitos outros, até a PEC das Domésticas, para debater racismo, memória e diáspora.

“Além da robustez narrativa, que continua cativante, o livro é uma referência pela checagem de fatos, utilização de múltiplas fontes, registros e dados, e na aplicação de técnicas do jornalismo literário, como a conexão de referências e a inserção precisa da primeira pessoa.”

Leia na íntegra a resenha de Maria Eduarda Nascimento

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Ouça também: O jornalista e apresentador do podcast Projeto Querino e a historiadora e autora de Racismo brasileiro quebram alguns dos mitos do Brasil independente


O grande caderno. Ágota Kristóf.
Trad. Diego Grando // Dublinense // 192 pp // R$ 69,90

Primeiro romance da trilogia da escritora húngara Ágota Kristóf (1935-2011), seguido por A prova e A terceira mentira. Nele, a autora de A analfabeta (Nós, 2024) inicia a trajetória dos gêmeos Claus e Lucas, que são levados à casa da avó para que sobrevivam à guerra; na pequena cidade, os dois registram em um caderno como enfrentam uma série de maus-tratos e anulam sentimentos e vulnerabilidades.

“A criada canta com frequência. Canções populares antigas e novas canções da moda que falam sobre a guerra. Nós escutamos essas músicas e depois imitamos na nossa gaita de boca. Também pedimos ao ordenança que nos ensine canções do país dele.

Certa noite, bem tarde, quando a Avó já está deitada, nós vamos até a cidade. Perto do castelo, numa rua antiga, paramos em frente a uma casa baixa. Barulho, vozes, fumaça saem de uma porta no final de uma escada. Descemos os degraus de pedra e chegamos num porão que foi transformado em bar. Homens, em pé ou sentados em bancos de madeira e em barris, estão bebendo vinho. Na sua maioria são velhos, mas também há alguns jovens, assim como três mulheres. Ninguém repara na nossa presença.

Leia o trecho na íntegra

Trecho de Ágota Kristóf “O grande caderno”

Saiba mais sobre o livro

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Leia também: Longe da casa e da língua materna, a autora húngara Ágota Kristóf escreve o exílio em francês, com simplicidade engenhosa e vivacidade cênica


Territórios clínicos. Tide Setubal, Viviane Soranso, Laís Guizelini e Fernanda Almeida (Orgs.).
Perspectiva // 280 pp // R$ 64,90

Resultado do projeto de mesmo nome, idealizado na Fundação Tide Setubal, em que as assistentes sociais e psicólogas reuniram suas experiências em coletivos que atuam em diferentes áreas da capital paulista, com atendimentos à clínicas-escola, clínicas públicas e outras instituições de saúde mental.

Leia também: Como o pensamento de Frantz Fanon, autor nascido na Martinica, influenciou a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial no Brasil


O corpo da linha: notações sobre desenho. Edith Derdyk.
Relicário // 232 pp // R$ 78

A artista contemporânea, escritora e educadora paulistana se baseia em ensaios de Mário de Andrade e Vilanova Artigas e outros estudos antropológicos para traçar um estudo das linhas na arte visual e palavra, inclusive aquilo que rompe com seus significados tradicionais de expressão.

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Leia também: Livro repassa vinte anos de atuação de Edith Derdyk e seus atos de espacialização do tempo


Uma pluma escondida. Lisa Ginzburg.
Trad. Francesca Cricelli // Nós // 240 pp // R$ 76

Finalista do Prêmio Strega 2021 pelo romance Cara paz (Nós, 2023), e que esteve no Brasil recentemente como uma das convidadas da Flip 2024, a escritora e ensaísta italiana acompanha a saga de uma família toscana ao acolher um adolescente órfão e se deparar com as consequentes reflexões acerca da conexão entre pais e filhos e o que os laços de afeto ou sanguíneos podem acrescentar (ou não) a essas relações.

Leia também: Em romances recém-lançados no Brasil, Annie Ernaux e Lisa Ginzburg escrevem sobre a legitimidade do desejo feminino


Júlia do Rio: crônicas da belle époque carioca. Júlia Lopes de Almeida.
Org. e apres. Anna Faedrich // Bazar do Tempo // 432 pp // R$ 86

A seleção reúne 46 crônicas da escritora carioca — Do Rio, como o amigo e também cronista Paulo Barreto, o João do Rio — publicados entre 1908 e 1912 no jornal O Paiz, período em que a antiga capital brasileira vivia transformações tecnológicas e sociais. Nelas, a cronista, uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, acompanha o início da circulação de carros, a implementação de mais iluminação na cidade, a política e a cena artística da época.

Assinantes da Quatro Cinco Um têm 20% de desconto no site da Bazar do Tempo. Conheça o Clube de Benefícios 451.

Ouça também: A editora Ana Lima Cecilio e o historiador Luiz Antonio Simas conversam sobre João do Rio, o homenageado da Flip em 2024 e um dos autores mais importantes do início do século 20


Miséria. Dolores Reyes.
Trad. Silvia Massimini Felix // Moinhos // 262 pp // R$ 78

Na nova novela da professora e escritora argentina, Reyes retoma a protagonista de seu romance anterior, Cometerra (Moinhos, 2022). Neste, a jovem que possui o dom de encontrar pessoas desaparecidas é confrontada com a dualidade entre a desesperança e a leveza, enquanto traça o laço de sororidade coletiva e as violências que afetam mulheres.

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Leia também: Onde vive o horrorEscritoras latinas dão fôlego a movimento literário sob e sobre a violência constante no continente


Mito, literatura e o mundo africano. Wole Soyinka.
Trad. Karen de Andrade // Zahar // 232 pp // R$ 79,90

Originalmente publicado em 1975, compila palestras do escritor e professor nigeriano, Prêmio Nobel de Literatura em 1986 e autor de Aké: os Anos de Infância (Kapulana, 2020), em que analisa as complexidades do pensamento e da mitologia africana a partir da história, literatura e mitos iorubás e estrutura o que chama de ”autoapreensão do mundo africano“.

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Leia também: Autobiografia de Wole Soyinka, primeiro escritor negro africano a ganhar o Nobel, relembra memórias de sua infância


Três ensaios sobre estilo. Erwin Panofsky.
Org. Irving Lavin // Trad. Clívia Ramiro // Edusp // 200 pp // R$ 68

Reúne três ensaios do crítico e historiador de arte alemão Erwin Panofsky (1892-1968), autor de Significado nas artes visuais (Perspectiva, 2020), escritos entre as décadas de 1930 e 1960, em que se aprofunda nas problemáticas do estilo. O autor explora os significados das bases filosóficas sobre o estilo e suas ocorrências na arte e cultura.

Leia também: Historiador da arte questiona nossos hábitos de percepção e pensamento diante de uma obra artística


Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

Ponta de lança. Oswald de Andrade.
Posfs. Silviano Santiago, Benedito Nunes e Mário da Silva Brito // Companhia das Letras // 184 pp // R$ 89,90
Reúne artigos, conferências e ensaios do escritor e poeta paulistano escritos durante os anos 1940 e publicados no Diário de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e na Folha da Manhã, que refletem sobre arte, cultura, política e as transformações no Brasil e no mundo na primeira metade do século 20.

Dicionário dos intraduzíveis: Um vocabulário das filosofia. Barbara Cassin, Fernando Santoro e Luisa Buarque.
Autêntica // 400 pp // R$ 97,90
Segundo volume da obra (adaptada do Vocabulário europeu das filosofias), mostra transferências de ideias entre as línguas e a intraduzibilidade de certos termos como uma fonte de criatividade, a partir de verbetes sobre termos intraduzíveis da filosofia.

Meu amigo Kim Jong-un. Keum Suk Gendry-Kim.
Trad. Yun Jung Im // Pipoca e Nanquim // 292 pp // R$ 99,90
A premiada quadrinista sul-coreana, autora da HQ histórica Grama (2020), investiga a trajetória do líder supremo da Coreia do Norte — de sua ascensão ao poder até as últimas negociações com Trump —, a partir de sua figura polêmica e de entrevistas com especialistas, desertores do país, amigos da época em que Jong-un morou na Europa e o ex-presidente da Coreia do Sul.

Meio do Céu. Ubiratan Muarrek.
Assírio & Alvim // 210 pp // R$ 85
Peça tragicômica do escritor paulista, semifinalista do Prêmio Oceanos pelo romance Um nazista em Copacabana (Rocco, 2016), aborda os dilemas de uma comunidade de brasileiros vivendo no exterior, especificamente na Londres de julho de 2000, quando o avião supersônico Concorde explodiu no ar e e vitimou mais de uma centena de passageiros.

O desejo de psicanálise: exercícios de pensamento lacaniano. Gabriel Tupinambá.
Apres. Carla Rodrigues // Pref. Slavoj Žižek // Trad. Gabriel Lisboa Ponciano // Boitempo // 296 pp // R$ 85
Com texto de orelha do Coletivo Margem Psicanálise e texto de quarta capa de Christian Dunker, o pesquisador e psicanalista carioca tece uma crítica da ideologia lacaniana e seus limites atuais acerca da política, filosofia e das ciências.

Ikkyu: Fogo. Hisashi Sakagushi.
Trad. Drik Sada // Veneta // 344 pp // R$ 139,90
Terceiro volume da série de mangás do escritor Hisashi Sakaguchi (1946-1995) baseada na vida do monge budista Ikkyū, do século 14. Neste tomo, ele vai viver entre o povo mais pobre do país e adota uma visão mais livre e generosa, que influenciou a cultura japonesa e o pensamento zen.

A história de Roma. Joana Bértholo.
Dublinense // 256 pp // R$ 74,90
Finalista do prêmio Oceanos, o novo romance da portuguesa Joana Bértholo narra o reencontro entre uma escritora e um homem de seu passado, quando viveram um romance em Buenos Aires. Dez anos depois e revisitando cidades da Alemanha, França e Líbano, os dois tentam se reconectar e traçar um novo tipo de enlace.

Sobre a “filosofia africana”: crítica da etnofilosofia. Paulin J. Hountondji.
Trad. César Sobrinho // Pref. Wanderson Flor do Nascimento // Zahar // 344 pp // R$ 89,90
Análise crítica do filósofo, político e professor beninense morto em fevereiro deste ano da “filosofia africana” e da etnofilosofia — pensamento que trata valores, linguagem, práticas e crenças africanas como um conjunto só. Em diálogo com as ideias de Aimé Césaire, Kwame Nkrumah e outros pensadores, Hountondji repudia as visões eurocêntricas acerca da potência intelectual de pessoas negras e africanas.

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Quem escreveu esse texto

Iara Biderman

Jornalista, editora da Quatro Cinco Um, está lançando Tantra e a arte de cortar cebolas (34).

Jaqueline Silva

É estudante de Jornalismo na ECA-USP e assistente editorial na Quatro Cinco Um.