‘Gênero queer’, Almodóvar, Pessoa e mais 10 lançamentos

O livro mais banido dos Estados Unidos nos últimos dois anos chega ao Brasil nesta semana: na HQ Gênero queer, lançada agora em português pela Tinta-da-China Brasil, Maia Kobabe narra a trajetória de se entender como assexual, queer e não binárie. No mesmo período, mais de 1.500 títulos foram censurados em escolas e bibliotecas públicas norte-americanas, incluindo obras de Art Spiegelman, Margaret Atwood, Chimamanda Ngozi Adichie e Toni Morrison. A publicação faz coro à urgente oposição a uma censura que alega defender as crianças, mas tem como foco narrativas necessárias sobre identidade racial e de gênero, sexualidade e justiça social. 

Completam a seleção da semana novos contos do japonês Haruki Murakami; escritos de Antônio Bispo dos Santos sobre a contracolonização; uma nova edição do Livro do desassossego, de Fernando Pessoa; contos e uma novela de Pedro Almodóvar; o pensamento de Abdias Nascimento sobre o sistema penitenciário brasileiro e o novo romance do capixaba Stefano Volp.

Viva o livro brasileiro! 

Gênero queer. Maia Kobabe. 
Trad. Clara Rellstab • Tinta-da-China Brasil • 240 pp • R$ 99

Nesta graphic novel autobiográfica, Maia Kobabe, autore e ilustradore não binárie, narra seu processo de questionamento, transição e afirmação, relatando o descobrimento de novas maneiras de conectar seu corpo à sua identidade de gênero e sexualidade, até adotar o gênero queer. Lançada em 2019, a HQ ganhou os prêmios Stonewall e American Library Association e se tornou um best-seller. Foi o livro mais censurado nos Estados Unidos nos dois últimos anos.

Ao resenhar o livro para a Quatro Cinco Um, Silvana Jeha escreve: “O que significa queer? Muito usado nos Estados Unidos para definir identidades não heteronormativas, o termo originalmente significa 'desviante da norma', 'não convencional', e corresponde ao Q da sigla/acrônimo LGBTQIAPNB+, que abarca pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não binárias e mais. A única receita para estar por dentro desses temas é repensar as definições de gênero e se informar”. Leia o texto na íntegra.

Kobabe assina um texto na revista dos livros sobre a importância de livros sobre a realidade queer serem acessíveis aos jovens: “Banir ou restringir livros queer em bibliotecas e escolas é como privar os jovens queer de coletes salva-vidas, jovens que talvez ainda nem saibam quais palavras devem digitar no Google para descobrir mais sobre o seu próprio corpo, sua identidade e sua saúde”. Leia o texto na íntegra.

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Primeira pessoa do singular. Haruki Murakami.
Trad. Rita Kohl • Alfaguara • 168 pp • R$ 59,90/37,90

A coletânea trata, em oito contos escritos na primeira pessoa do singular, de temas como a nostalgia pelos namoros da juventude, resenhas de discos de jazz inexistentes, a paixão de um poeta pelo beisebol e um macaco falante que trabalha como massagista. Os textos têm como pano de fundo os amores perdidos, os reencontros, a melancolia, a solidão e a morte.

Ao resenhar o livro para a Quatro Cinco Um, Paula Sperb escreve: “Apesar da constante sensação de estranheza e de que há algo fora do lugar nas situações em que insere seus personagens, o autor dá a alguns contos ares de memória autobiográfica. Não é descabido dizer que estamos diante de um narrador pouco confiável, que dá mostras de ser o mesmo em todos os contos”. Leia o texto na íntegra.

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A terra dá, a terra quer. Antônio Bispo dos Santos.
Ubu • 112 pp • R$ 54,90

O livro tem como conceito-chave a contracolonização: o autor – que participará no dia 9 de junho da mesa Da praça pública ao quilombo, n'A Feira do Livro – contrapõe o modo de vida quilombola ao da sociedade colonialista, oferecendo um vislumbre dos modos de viver, habitar e se relacionar com os demais seres e a Terra. Bispo denuncia a cosmofobia — o temor do cosmos no qual se fundamenta a sociedade ocidental cristã — e empreende uma guerra das denominações, enfraquecendo as palavras dos colonizadores. 

Leia também: Coletânea de escritos de mulheres quilombolas é obra essencial para construir um país menos desigual

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Livro do desassossego. Fernando Pessoa. 
Org. Richard Zenith • Companhia das Letras • 640 pp • R$ 124,90/49,90 

A edição atualizada da coletânea reúne cerca de quinhentos fragmentos de prosa poética que constavam do espólio de Pessoa. Escritos entre 1913 e 1934, durante praticamente toda a sua vida literária, nunca chegaram a ser organizados por ele sob uma forma definitiva, embora o poeta tenha elaborado planos de publicá-los sob os nomes de Vicente Guedes e Bernardo Soares. Editado pela primeira vez em 1982, o volume constitui uma espécie de romance que espelha a vida de Lisboa no início do século 20. Autor de uma célebre biografia sobre Pessoa, Zenith, organizador do livro, participará da mesa As mil vidas de Pessoa no próximo dia 10 de junho, n'A Feira do Livro.

Leia também: Richard Zenith conta como um acaso o tornou especialista na vida e obra de Fernando Pessoa, após aprender português no Brasil

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Patty Diphusa, Fogo nas entranhas e outras histórias. Pedro Almodóvar. 
Tusquets/Planeta • 160 pp • R$ 56,90

Patty Diphusa é uma série de contos publicados nos anos 80 na revista La Luna de Madrid em que uma fictícia atriz pornô madrilenha narra suas experiências íntimas. Já Fogo nas entranhas, publicada originalmente em 1981, é a novela que marcou a estreia de Almodóvar no cenário literário. Conta a história de um magnata chinês, dono de uma fábrica de absorventes íntimos, que, cansado de ser traído, arma um maquiavélico plano de vingança contra as mulheres.

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Submundo: cadernos de um penitenciário. Abdias do Nascimento. 
Pref. Denise Carrascosa • Zahar • 320 pp • R$ 64,90

Um dos líderes do movimento negro no Brasil desde os anos 1930, Abdias – que tinha se formado em economia em 1938 – foi preso em 1943, após retornar de uma viagem pela América Latina, por ter se insubordinado contra a ordem de um tenente. Levado à penitenciária do Carandiru, ficou preso por mais de um ano. Ali liderou um grupo de presos que criou o Teatro do Sentenciado, que estreou uma peça em novembro daquele ano. Neste livro, Nascimento relata a reforma pelo qual passava o sistema penitenciário na década de 40 e antecipa questões sobre o combate ao racismo e o encarceramento em massa.

Leia também: Abdias do Nascimento buscou nos quilombos alternativas epistemológicas para reinterpretar a história a partir de uma perspectiva negra

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Nunca vi a chuva. Stefano Volp. 
Galera/Record • 224 pp • R$ 49,90

Autor de Homens pretos (não) choram (HarperCollins, 2022), o escritor capixaba narra as aflições de Lucas, um jovem adotado por uma família rica, que abandona sua vida confortável em Portugal para viajar ao interior do Rio de Janeiro em busca de seu irmão gêmeo e de mais informações sobre seu passado. Volp é fundador da editora Escureceu e da Caixa Preta, clube de leitura que resgata contos clássicos escritos por autores negros por meio de financiamento coletivo.

Leia mais: Stefano Volp lança romance policial com trama que trata de homofobia, racismo e seitas religiosas

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Vapt-vupt
+ novidades quentinhas

A disputa dos gigantes e outros contos de fadas celtas. Paulo Rezzutti e Adriana Moura (org.).
Ils. Fernanda Moreira • LeYa • 128 pp • R$ 55/38,50

Uma seleção de contos de fadas da mitologia celta, permeado por druidas, sacerdotisas, fadas, dragões e gigantes.

Caminhando com os mortos. Micheliny Verunschk.
Companhia das Letras • 144 pp • R$ 59,90

O novo romance da ganhadora do prêmio Jabuti com O som do rugido da onça (2021) aborda a violência religiosa em uma pequena cidade do interior do país.

Lupicínio: uma biografia musical. Arthur de Faria.
Arquipélago Editorial • 376 pp • R$ 79,90

O livro narra a trajetória do grande compositor gaúcho, autor de sucessos como Se acaso você chegasse, Nervos de aço e Vingança.

Treze: a política de rua de Lula a Dilma. Angela Alonso.
Companhia das Letras • 352 pp • R$ 89,90

Uma análise dos governos petistas e de sua relação tensa com os movimentos de direita e de esquerda que contestaram abertamente suas políticas em 2013.

Uma história secular do Oriente Médio: do ano 395 aos nossos dias. Jean-Pierre Filiu.
Trad. Fábio Creder • Vozes • 432 pp • R$ 115

Professor da Sciences Po (Paris), o historiador francês reconstitui a história do Oriente Médio desde a fundação do Império Romano do Oriente.

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