
Listão da Semana,
Finalistas do Booker Prize e mais 6 lançamentos
Traduções de ‘Açúcar queimado’, da norte-americana Avni Doshi, e de ‘Mundo real’, de seu conterrâneo Brandon Taylor, ambos finalistas do Booker Prize 2020, chegam ao Brasil
05out2021 | Edição #50Enquanto aguardamos os resultados dos principais prêmios literários de 2021, chegam ao Brasil traduções dos livros em língua estrangeira mais destacados do ano passado. Nesta semana, dois deles: Açúcar queimado, da norte-americana Avni Doshi, e Mundo real, de seu conterrâneo Brandon Taylor. Ambos finalistas do Booker Prize 2020, os romances partem da relação dos protagonistas com seus progenitores para refletir sobre barreiras emocionais, empatia, culpa e redenção.
Completam a seleção da semana os novos romances da brasileira Andréa Del Fuego e da angolana Yara Nakahanda Monteiro, a empreitada na cozinha francesa do jornalista Bill Buford, a história da música brasileira em imagens e os artigos da jornalista inglesa Jan Rocha escritos durante os anos de chumbo no Brasil.
Viva o livro brasileiro!
Açúcar queimado. Avni Doshi.
Trad. Adriana Lisboa • Dublinense • 272 pp. • R$ 69,90
Norte-americana filha de indianos que vive atualmente nos Emirados Árabes, Avni Doshi foi finalista do Booker Prize 2020 com esse romance, que narra a história de uma artista indiana cuja mãe abandonou o marido para morar em uma comunidade mística, mas depois foi descartada por seu guru e teve de mendigar. A filha odeia a mãe pelo modo cruel como ela a tratou, mas agora se vê obrigada a acolhê-la em sua casa quando ela começa a sofrer de demência.
Trecho do livro: “Eu estaria mentindo se dissesse que o sofrimento da minha mãe nunca me deu prazer. Sofri em suas mãos quando criança, e qualquer dor que ela viesse a sentir depois disso me parecia uma espécie de redenção — o universo reencontrando seu equilíbrio, onde a ordem racional de causa e efeito se alinhava. Mas agora já não consigo mais acertar as contas entre nós. A razão é simples: minha mãe está se esquecendo, e não há nada que eu possa fazer a respeito. Não há modo de fazê-la lembrar das coisas que fez no passado, não há como cozinhá-la lentamente em sua culpa”.
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Mundo real. Brandon Taylor.
Trad. Alexandre Vidal Porto • Fósforo • 296 pp. • R$ 74,90
Finalista do Booker Prize de 2020, o escritor do Alabama narra um final de semana de um jovem negro e queer que perdeu o pai algumas semanas antes. Pós-graduando em uma universidade renomada, ele se sente perturbado quando seus colegas ficam sabendo da morte e tentam confortá-lo, já que procura manter uma barreira emocional, enquanto tenta ascender profissionalmente e escapar da pobreza. A história se inspira na experiência do próprio autor, que fazia pós-graduação em bioquímica na Universidade de Wisconsin-Madison quando esboçou seu romance. Em 2017, decidiu trocar as ciências biológicas pela literatura.
Trecho do livro: “‘Meu pai morreu’, disse ele, porque era a pura verdade, mas, quando disse isso, não sentiu alívio. Ao contrário, aquilo o sobressaltou, como um grito repentino em uma sala silenciosa. ‘Porra’, ela disse. ‘Porra.’ Então, se recompondo e balançando a cabeça, disse: ‘Sinto muito, Wallace. Sinto muito pela sua perda.’ Ele sorriu porque não sabia como lidar com a empatia dos outros por ele. Sempre lhe parecera que, quando as pessoas se entristeciam por alguém, entristeciam-se, na verdade, por elas mesmas, como se aquele infortúnio fosse apenas uma desculpa para que elas sentissem o que quer que quisessem sentir”.
Mais Lidas
Leia também: O escritor japonês Haruki Murakami fala sobre as memórias de seu pai.
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A pediatra. Andréa Del Fuego.
Companhia das Letras • 160 pp • R$ 54,90
Ganhadora do prêmio José Saramago com o romance Os malaquias (2010), a escritora paulista descreve uma pediatra que não gosta de crianças e não tem paciência com os pais e as mães. Apesar disso, ela tem um consultório bem-sucedido, mas pouco a pouco vai perdendo espaço e colaboradoras para um pediatra humanista, que trabalha com doulas e parteiras. Paralelamente, ela se envolve com um homem casado, de cujo filho acompanhou o nascimento, e começa a nutrir sentimentos pelo menino.
Leia também: Jornalista francesa convida psicanalistas a falar sobre seus pacientes preferidos.
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Cinco anos em Lyon: uma aventura na cozinha francesa. Bill Buford.
Trad. Guilherme Miranda • Companhia das Letras • 544 pp • R$ 114,90
Fundador da revista literária Granta e depois editor de ficção da New Yorker por oito anos, em 2008 o crítico americano se mudou com a mulher e os filhos para Lyon, na França, e passou a trabalhar como aprendiz nos restaurantes franceses (em 2006 ele lançou o best-seller Calor, sobre sua experiência de quase um ano no Babbo, um dos restaurantes do chef Mario Batali em Manhattan). Passou cinco anos na França, onde estudou no Institut Paul Bocuse e foi cozinheiro no La Mère Brazier. Nesse livro de memórias, ele descreve os bastidores dos restaurantes franceses, que em geral são locais de trabalho estressantes, com funcionários submetidos a diversos abusos, e os obstáculos para se tornar um chef de cozinha na França.
Leia também: Memórias do chef David Chang mostram bastidores apetitosos mas indigestos da gastronomia.
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Essa dama bate bué! Yara Nakahanda Monteiro.
Todavia • 200 pp • R$ 62/42,90
Nascida em Angola, na província de Huambo, Yara Nakahanda Monteiro mudou-se para Portugal com sua mãe aos dois anos de idade. Em 2016, quando morava no Brasil, fez uma viagem xamânica pela Amazônia, abandonou o emprego e começou a escrever. No romance de 2018, Monteiro relata a história de Vitória, uma mulher nascida em Angola, mas que foi criada pelos avós em Portugal para ser uma “boa esposa”. Não chegou a conhecer a mãe, uma revolucionária angolana. Meses antes do seu casamento, ela foge para Angola à procura da mãe e de sua identidade. Desembarca numa Luanda caótica, mas é em Huambo que vai se confrontar com seu passado.
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Portas fechadas: como a Covid abalou a economia mundial. Adam Tooze.
Trad. José Geraldo Couto • Todavia • 384 pp • R$ 96,90/49,90
Autor do premiado O preço da destruição: construção e ruína da economia alemã (2006), o professor de história econômica na Universidade Columbia analisa a crise global provocada pela Covid-19 (os lockdowns, a produção em queda livre, as maciças intervenções governamentais para socorrer empresas e indivíduos, os investimentos em vacinas) e as diferentes respostas à pandemia adotadas na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. Ele discorre ainda sobre o impacto dessa crise no ambiente, na educação, na cultura e no comportamento, detendo-se longamente nas suas consequências geopolíticas: a ascensão econômica da China, as oscilações da Europa e a profunda divisão política que enfraquece os Estados Unidos.
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História da música brasileira em 100 fotografias. Diversos autores.
Bazar do Tempo • 304 pp • R$ 120
Cem fotografias traçam um panorama da história da música brasileira, desde os tambores de origem africana e os instrumentos de sopro indígenas aos hits dos últimos anos. As imagens são acompanhadas de textos de estudiosos sobre o tema, entre eles Eduardo Jardim, Eucanaã Ferraz, Heloisa Starling e Luiz Antonio Simas. Dentre os fotógrafos estão nomes de peso como Claude Lévi-Strauss, Marcel Gautherot, Maureen Bisilliat, Klaus Mitteldorf, Walter Firmo, Ana Carolina Fernandes e Bob Wolfenson.
Leia também: É por meio da música que as memórias ancestrais são catalogadas e transportadas para o futuro.
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Nossa correspondente informa: notícias da ditadura brasileira na BBC de Londres: 1973-1985. Jan Rocha.
Pref. Rosental Alves • Alameda • 508 pp. • R$ 86
Correspondente da BBC no Brasil, Jan Rocha informou o mundo sobre o que estava ocorrendo no país no auge da ditadura e no período de lenta redemocratização que se seguiu aos anos de chumbo. Os textos reunidos abordam temas como a tortura e o desaparecimento de presos políticos, as invasões de terras indígenas, a crise do petróleo, a revolta dos cientistas e a ação de brasileiros que resistiam à tirania. Narram também a descoberta do torturador coronel Brilhante Ustra no Uruguai, o nascimento do PT e o surgimento do novo líder, Lula. Nascida na Inglaterra, Rocha veio ao Brasil em 1969, onde foi correspondente da rádio BBC e do jornal The Guardian.
Ouça também: No aniversário do golpe de 1964, o podcast 451 MHz dedicou um episódio às vítimas da ditadura brasileira.
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Matéria publicada na edição impressa #50 em outubro de 2021.
Porque você leu Listão da Semana
Encantos de Ruth Guimarães
Escritora, professora e jornalista pesquisou saberes populares, ritos, magias, mitologias e tudo o que serve para encantar a vida
FEVEREIRO, 2025