Listão da Semana,

Boas histórias da vida real

Lançamentos da semana incluem livros de não ficção em áreas variadas.

23abr2021 | Edição #44

A semana traz lançamentos especiais de não ficção, nas áreas mais variadas. 

Do jornalismo vem um livro sobre a América Latina e pandemia, por uma repórter experiente, e uma biografia de Roberto Carlos por um craque do gênero. Psicanalistas compilaram e estudaram os sonhos dos brasileiros durante o primeiro ano da pandemia. A teoria feminista decolonial renova sua bibliografia com uma importante autora iorubá. Na crítica literária, um guia conciso de literatura russa, voltado ao público brasileiro. Ficção e poesia brasileira completam o cardápio. 

Viva o livro brasileiro!

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Roberto Carlos: por isso essa voz tamanha. Jotabê Medeiros.
Todavia • 512 pp • R$ 84,90/49,90

“Roberto também embute, em sua tenacidade mística, a expressão do que significa ser brasileiro, suas contradições fundamentais. Não se trata simplesmente de posicionar-se a favor, contra ou de modo moralista”, escreve o autor da biografia no prefácio. Jotabê Medeiros entrevistou o Rei pela primeira vez em 1986, quando era um foca no jornal Folha de Londrina. Tornou-se repórter e crítico musical nos principais jornais do Brasil. Autor das biografias de Belchior e Raul Seixas, também lançadas pela Todavia, Jotabê Medeiros tenta, neste livro, compreender o fenômeno Roberto Carlos nos últimos sessenta anos.

Leia mais: Dois livros recuperam o impacto das canções e a trajetória de Raul Seixas, um dos maiores mitos do rock nacional

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O ano da cólera. Protesto, tensão e pandemia em 5 países da América Latina. Sylvia Colombo.
Rocco • 256 pp. • R$ 54,90

A repórter Sylvia Colombo, especialista em história, cultura e política da América Latina, que cobre a região há mais de dez anos como correspondente da Folha de S.Paulo, relata a sua experiência in loco na Argentina, na Bolívia, no Chile, no Uruguai e na Venezuela, observando pontos em comum e a especificidade de cada caso. Com tensas manifestações de rua, o Chile jogou a última pá de cal no que restava da ditadura pinochetista. A Bolívia viveu o rescaldo da violência política após o golpe que tirou Evo Morales do poder. A Venezuela “se tornou a Venezuela”, no dizer da autora. A Argentina seria um “paciente com comorbidades” que teve de enfrentar a pandemia com as graves sequelas sociais e econômicas do fracasso do governo Macri. E o Uruguai se manteve como uma notável exceção no continente. “Se em 2019 vivemos várias explosões e transformações sociais e políticas em toda a região, em 2020 a América Latina foi impactada por um inimigo comum: o coronavírus. Este é o recorte temporal deste livro. […] É baseado em experiências profissionais vividas por essa repórter ao longo desses dois anos atipicamente agitados que sacudiram a América Latina”, escreve a autora no prefácio.

Leia mais: Um historiador na Bodeguita: livro reúne textos de Hobsbawm sobre a América Latina

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A invenção das mulheres. Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero. Oyèrónké Oyewùmí.
Trad. Wanderson Flor do Nascimento • Posf. Cláudia Miranda • Bazar do Tempo • 324 pp. • R$ 69,90

Em livro premiado pela Associação Americana de Sociologia na categoria sexo e gênero, a socióloga nigeriana investiga como as engrenagens coloniais e seus discursos afetaram o discurso iorubá e recupera conceitos da cultura iorubá para oferecer uma nova visão do papel social da mulher, destacando as contradições do feminismo tradicional.

Trecho: “Nasci em uma numerosa família; e as idas e vindas de minhas muitas relações constituíram uma importante introdução aos modos de vida iorubás. Em 1973, meu pai ascendeu ao trono e tornou-se o Ṣọ̀ún (monarca) de Ògbọ́mọ̀sọ́, uma importante unidade política Oyó-Iorubá, de certo significado histórico. Desde então, e até o presente, ààfin Ṣọú̀n(o palácio) tem sido o lugar que chamo de lar. Diariamente, escutei percussionistas de tambor e ouvi os orikis (poesias laudatórias) dos meus antepassados recitados enquanto as mães reais ofereciam os poemas a membros da família como saudações, enquanto passávamos pelo saarè – o pátio no qual foram sepultados monarcas que já faleceram. As nossas pessoas ancestrais ainda estão muito conosco.”

Leia mais: Muryatan Barbosa expõe o trabalho intelectual para definir a identidade africana e construir uma sociedade pós-colonial, por Itamar Vieira Junior

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Como ler os russos. Irineu Franco Perpétuo.
Todavia • 282 pp • R$ 69,90

Dois focos parecem nortear este guia de leitura: o primeiro é a busca pela síntese de cerca de duzentos anos de uma tradição literária de proporções continentais em breves 280 páginas. O segundo é a atenção dedicada ao leitor brasileiro de nossos dias, que já dispõe de uma farta escolha de traduções diretas desde que Boris Schnaiderman inaugurou nos anos 1940 os estudos e a prática da tradução literária feita diretamente do original russo, mas nem sempre tem intimidade com as letras eslavas. A preocupação com o didatismo está não apenas na escrita, mas também no curto apêndice, que reúne os diferentes apelidos que um mesmo nome russo pode ter — o que pode dar ao leitor, diz Perpétuo, a impressão de que o livro tem muito mais personagens do que na realidade. Os capítulos partem dos pioneiros, no século 18, para chegar à literatura pós-soviética. Crítico e pesquisador de música, o autor do ensaio já traduziu mais de uma dezena de autores russos e recebeu, por Vida e destino, de Vassili Grosman (Alfaguara), o prêmio Jabuti de Tradução em 2015. Acaba de publicar uma nova tradução de Anna Kariênina, de Liev Tolstói, pela editora 34.

Leia mais: Pais e filhos em São Petersburgo: tradutor de Tolstói faz visita à Rússia, por Rubens Figueiredo

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Trama de meninos. Contos. João Anzanello Carrascoza.
Alfaguara/Companhia das Letras • 120 pp • R$ 79,90/R$ 39,90

Premiado no Brasil e internacionalmente, com mais de quarenta livros publicados desde sua estreia, em 1991, Carrascoza volta ao conto. As relações de afeto que pautam as famílias, tema caro ao autor, desenvolvido em romances como Aos 7 e aos 40 (2016) e Elegia do Irmão (2019), são os fios da trama que une os catorze textos de seu novo livro.

Trecho: “Assim seguíamos, cada um voltado para as suas miudezas, que, às vezes, eram também as dos outros, a viver a sua história pessoal, tão colada à da família, nós todos essenciais para nós, embora para a cidade fôssemos apenas meia dúzia de habitantes, e, para o mundo, gente anônima, dados, números.”

Leia mais: Com quarenta livros publicados, João Anzanello Carrascoza discorre sobre a morte e a vida, o dizer e o silêncio, a solidão e a vida familiar
 
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Sonhos confinados. O que sonham os brasileiros em tempos de pandemia. Org. Christian Dunker, Cláudia Perrone, Gilson Iannini, Miriam Debieux Rosa, Rose Gurski.
Autêntica • 272 pp • R$ 59,80/41,90

Inspirados em um livro da jornalista Charlotte Beradt, que coletou sonhos de alemães comuns nos anos de ascensão de Hitler e publicou-os em livro sob o título Sonhos no Terceiro Reich, psicanalistas de diferentes instituições e universidades brasileiras passaram a registrar e a analisar sonhos de brasileiros sob o impacto da Covid-19 — são mais de 1.500 relatos de sonhos e cerca de oitenta pesquisadores envolvidos: bolsistas de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e doutores. A articulação dos estudos resultou no projeto Sonhos confinados em tempos de pandemia e no livro. Os capítulos são organizados segundo os principais temas que despontam nos relatos oníricos — a ideia de casa e de infamiliar, a temporalidade dos sonhos, a presença da política, as mulheres e as mães, a juventude, a perspectiva do despertar. Em maio de 2020, a Quatro Cinco Um publicou alguns trechos dos relatos coletados.

Leia também: Pesquisadores analisam estratégias subjetivas de lidar com a pandemia e Compilação de relatos oníricos de cidadãos alemães sob Hitler retrata com nitidez o totalitarismo

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Virtuosismo moral: grandstanding. Justin Tosi e Brandon Warmke.
Trad. Fábio Alberti • Avis Rara/Faro • 256 pp • R$ 49,90

O mecanismo do grandstanding ou virtuosismo moral (exibicionismo ou arrogância) é o uso do discurso moral para fins de autopromoção. “Usando evidências das ciências sociais e comportamentais, explicaremos por que as pessoas fazem grandstanding e por que ele assume certas formas. Usando os recursos da filosofia moral, nós argumentaremos que o grandstanding é um problema moral em todas as três principais teorias da moral: traz consequências negativas, não trata as pessoas com respeito e não é virtuoso. Por fim, empregando um pouco de ciência e de filosofia, discutiremos por que o grandstanding é um problema no âmbito da política, e o que podemos fazer para melhorar nosso discurso moral”, escrevem os autores do ensaio no prefácio. Professores de filosofia em universidades americanas, Tosi e Warmke analisam o fenômeno não como algo novo, mas que, atualmente, se manifesta particularmente na internet, com consequências como os cancelamentos e difamações nas redes sociais.

Leia mais: Livros usam conceitos do direito e da cultura para discutir se a internet pode ser melhor no futuro, por Michel Laub

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Alguns dias violentos. Ismar Tirelli Neto.
Macondo • 100 pp • R$ a definir

Novo livro do escritor de Os postais catastróficos (2018): “Antes do biombo havia a casa/ Estes poucos metros quadrados/ A estacada verdade do sono/ Alguém em obscena função remoçando/ Todos os sulcos satisfeitos”.

Leia também: O perfil do poeta escrito por Chico Felitti

Matéria publicada na edição impressa #44 em março de 2021.