
Listão da Semana,
A vida secreta dos fungos e mais 7 lançamentos
O intrigante ‘Trama da vida’, do biólogo britânico Merlin Sheldrake, chega nesta semana às livrarias
03nov2021 | Edição #51Eles estão por toda parte, dentro de nós e ao nosso redor. O mais extenso do mundo espalha-se por dez quilômetros quadrados e tem entre 2 mil e 8 mil anos. Muitos dos eventos mais grandiosos do planeta são resultado de sua atividade, e eles desafiam nossas noções tradicionais de individualidade e inteligência. São eles, os fungos, o tema do intrigante Trama da vida, do biólogo britânico Merlin Sheldrake, que chega nesta semana às livrarias. Vale também assistir ao documentário Fungos fantásticos (disponível no Netflix e na Amazon), dirigido por Louie Schwartzberg, que mostra descobertas impressionantes do reino Fungi.
Completam a seleção da semana romances de Jamaica Kincaid e Linda Boström Knausgård, contos de J.M. Coetzee, biografias de João Gilberto, Sócrates e Roberto Marinho e uma das primeiras autobiografias de uma mulher homossexual.
Viva o livro brasileiro!
A trama da vida: como os fungos constroem o mundo. Merlin Sheldrake.
Trad. Gilberto Stam • Fósforo/Ubu • 368 pp • R$ 89,90
O biólogo britânico Merlin Sheldrake explica o papel dos fungos na evolução da natureza — “As plantas saíram da água há cerca de 500 milhões de anos graças à colaboração com os fungos, que serviram como um sistema de absorção por dezenas de milhares de anos, até que elas desenvolvessem raízes” — e a sua importância fundamental no mundo contemporâneo: eles decompõem rochas e poluentes, formam o solo, nutrem plantas e produzem alimentos, remédios e compostos químicos complexos. Estima-se que existam entre 2,2 milhões e 3,8 milhões de espécies de fungos — de seis a dez vezes o número de espécies de plantas —, das quais apenas 6% foram descritas até agora. Segundo o autor, constituem uma espécie de “matéria escura” biológica, e suas propriedades nos obrigam a repensar algumas noções correntes sobre os seres vivos.
Mais Lidas
Leia também: Livro explora a vida secreta dos fungos e das bactérias na cozinha.
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Agora veja então. Jamaica Kincaid.
Trad. Cecília Floresta • Alfaguara/Companhia das Letras • 144 pp • R$ 69,90
Lançado em 2013, Agora veja então narra o colapso de uma família quando um músico pretensioso troca sua esposa escritora por uma mulher mais jovem. O livro foi escrito após o difícil processo de separação de Jamaica Kincaid do compositor Allen Shawn, que se casou com uma jovem pianista. Nascida em 1949 na então colônia inglesa de Antígua, Elaine Potter Richardson emigrou para os Estados Unidos aos dezessete anos. Estudou fotografia e adotou o nome de Jamaica Kincaid em 1973, quando começou a escrever para revistas, tornando-se uma colaboradora regular da New Yorker. Publicou seu primeiro livro de contos (At the Bottom of the River) em 1983 e seu primeiro romance (Annie John) em 1985, ganhando uma série de prêmios literários (Guggenheim, Lannan, Femina, Anisfield-Wolf, Clifton Fadiman Medal, Dan David Prize).
Agora veja então é o livro de outubro do Clube 451, no qual todo mês os assinantes recebem a revista impressa e um livro recém-lançado escolhido por nossos editores.
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Amoroso: uma biografia de João Gilberto. Zuza Homem de Mello.
Apres. Ercília Lobo • Companhia das Letras • 344 pp • R$ 89,90
Concluído pouco antes da morte do autor, em outubro do ano passado, o livro narra a trajetória do criador da bossa nova, concentrando-se nas suas impressionantes realizações musicais e deixando de lado seus problemas pessoais. Ao longo de sua vida, Zuza dirigiu shows de Elis Regina, Milton Nascimento, Gilberto Gil, João Bosco, Ivan Lins, Luiz Gonzaga, Jorge Ben Jor, Raul Seixas e Alceu Valença, entre outros. Como musicólogo, coordenou a Enciclopédia da música brasileira (1998) e escreveu os influentes A era dos festivais: uma parábola (2003) e A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (1997). Em 2001, já tinha publicado a breve biografia João Gilberto pela Publifolha. Para embasar seu novo livro, ele fez dezenas de entrevistas, pesquisou arquivos de jornais e rastreou os músicos e cantores que mais influenciaram o biografado (o compositor erudito Armando Albuquerque e o cantor Orlando Silva).
Trecho do livro: “Músicos, compositores e cantores da geração pós‑bossa nova não se esqueceram de quando ouviram pela primeira vez João Gilberto cantar ‘Chega de saudade’ no rádio, todos eles: Elis Regina estava varrendo a casa; Chico Buarque ficou siderado; Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Francis Hime, Marcos Valle, Eumir Deodato e outros jovens se lembram desse momento capital que mudou a vida deles, tanto que decidiram se dedicar à música. Para Caetano, foi um divisor de águas em sua vida: ‘Ouvi pela primeira vez em 1959, em disco, mostrado por um colega do ginásio, Syeliton, que me levou ao clube Irapuru para ouvir ‘um cantor que cantava tudo desafinado, a orquestra indo prum lado e ele pro outro’. Segundo ele, eu gostava de coisas estranhas. Essa canção, esse disco mudaram a minha vida’. João Gilberto foi o gatilho”.
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Contos morais. J.M. Coetzee.
Trad. José Rubens Siqueira • Companhia das Letras • 152 pp • R$ 54,90
Em uma obra atravessada por conflitos éticos, Coetzee aborda as responsabilidades morais dos indivíduos com seus semelhantes e também com os animais (cães, gatos, bodes) em meio a situações que colocam em xeque ideias cristalizadas. O livro, com sete contos, é dominado pela presença de Elizabeth Costello, escritora vegetariana de opiniões fortes que emergiu em A vida dos animais (1999) e reapareceu em Elizabeth Costello (2003) e Homem lento (2005) e que está fortemente determinada a mudar a opinião de seus contemporâneos sobre os cruéis rituais de criação e abate de animais. Os contos abordam também as difíceis relações dos filhos com suas mães, à medida que elas vão envelhecendo.
Leia também: Romance de J.M. Coetzee imagina sociedade utópica inspirada na Bíblia e em Platão.
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The Stone Wall. Mary Casal.
Trad. Francisco Araújo da Costa • Pref. Alexandra Gurgel • Ímã Editorial • 254 pp • R$ 54
Publicado em 1930 por Ruth White Fuller, que adotou o pseudônimo de Mary Casal, o livro é a autobiografia de uma escritora lésbica americana — foi uma das primeiras obras do gênero. Nascida em 1864, em uma família rural de Massachusetts, ela decidiu contar a sua história quando já tinha 65 anos, depois de todos os seus familiares terem morrido. Na obra, descreve a sua infância, os abusos de que foi vítima, um casamento heterossexual fracassado (com filhas natimortas), seus diversos relacionamentos amorosos com mulheres solteiras ou casadas, sua longa união com Juno (Emma Elizabeth Altman) e a separação.
Leia também: O essencial das perigosas sapatas, primeiro trabalho de Alison Bechdel como quadrinista, chega ao Brasil.
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Doutor Sócrates: a biografia. Andrew Downie.
Trad. André Kfouri • Pref. Raí • Editora Grande Área • 432 pp • R$ 84,90
O jornalista escocês Andrew Downie, que atuou como correspondente internacional no Brasil de 1999 a 2019, narra a trajetória pessoal e profissional do grande jogador Sócrates, destacando sua liderança nos gramados, seu ativismo político e os problemas de saúde que provocaram sua morte. A obra foi composta a partir de um livro de memórias escrito pelo próprio Sócrates que não chegou a ser publicado, além de entrevistas com mais de cem jogadores, amigos e jornalistas.
Trecho do livro: “A singularidade de Sócrates talvez esteja no fato de ter sido um futebolista brilhante que se tornou mais importante fora dos campos do que dentro deles. Suas atitudes ajudaram a transformar não só um clube de futebol, mas um país. Ele ajudou o Brasil durante os anos cruciais da transição da ditadura para a democracia, e colocou o país antes dos próprios interesses ao prometer rejeitar as riquezas da Europa e permanecer em casa a fim de colaborar com o seu povo”.
Leia também: Com doses misteriosas de fato e ficção, Mario Prata narra um mito de origem do futebol.
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Roberto Marinho: um jornalista e seu boneco imaginário. Eugênio Bucci.
Companhia das Letras • 340 pp • R$ 84,90
Professor titular da ECA-USP e ex-presidente da Radiobrás (2003-2007), Eugênio Bucci reconstitui a trajetória do jornalista carioca Roberto Marinho, herdeiro do jornal O Globo, um homem miúdo que construiu o maior conglomerado de empresas de comunicação do país. O livro descreve a expansão dos negócios (a rádio Globo em 1944 e a TV Globo em 1965), a relação do empresário com o regime militar e as grandes polêmicas, como o caso Proconsult, a cobertura da campanha das Diretas e o debate entre Collor e Lula em 1989.
Trecho do livro: “Roberto Marinho não foi apenas um dos gerentes mais poderosos do processo pelo qual a imagem eletrônica se converteu no fator identitário da nacionalidade. É também um autor desse processo, como um artista é autor de uma pintura ou de uma escultura. Esteve na vanguarda da modernização da indústria do entretenimento e de suas implicações sobre o jornalismo, diretamente. Com a Globo, o jornalismo inventou a linguagem performática que mudaria a própria natureza da notícia”.
Leia também: Biografia narra as peripécias e polêmicas de Samuel Wainer, o antagonista de Lacerda que revolucionou a imprensa brasileira.
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Bem-vinda à América. Linda Boström Knausgård.
Trad. Luciano Dutra • Rua do Sabão • 135 pp • R$ 49
Lançado pela poeta e escritora sueca em 2016, na época de seu divórcio do autor norueguês Karl Ove Knausgård (que a menciona em suas obras memorialísticas), o romance se baseia em episódios da infância de Linda. Ela explica que só queria contar sua própria história — a de uma menina de onze anos, filha de uma grande atriz, que decide parar de falar após a morte do pai, uma figura abusiva e ameaçadora, mas que mantinha a família unida. Agora ela se sente culpada por ter pedido a Deus que ele morresse. Parar de falar, diz, é o único jeito de uma menina pequena ter algum poder e manter sua sanidade mental num mundo inóspito.
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Matéria publicada na edição impressa #51 em novembro de 2021.
Porque você leu Listão da Semana
Encantos de Ruth Guimarães
Escritora, professora e jornalista pesquisou saberes populares, ritos, magias, mitologias e tudo o que serve para encantar a vida
FEVEREIRO, 2025