Listão da Semana,
A negritude radical de Aimé Césaire e mais sete lançamentos
Uma coletânea das melhores crônicas de Ricardo Araújo Pereira, um livro com contos de Liev Tolstói e de sua mulher, Sófia Tolstaia, o espaço feminista das flâneuses, mulheres que caminham pela cidade e mais
15jul2022 | Edição #59Questão fundamental no debate contemporâneo, o conceito de negritude foi formulado nos anos 30 pelo poeta, dramaturgo, ensaísta e político haitiano Aimé Césaire, que o definiu como uma busca dramática pela identidade negra. Décadas depois, no final dos anos 80, o próprio Césaire redefiniu esse conceito em um discurso proferido na primeira conferência hemisférica dos povos negros. Esse “Discurso sobre a negritude” é uma das três obras incluídas no livro agora lançado pela Cobogó reunindo alguns dos escritos fundamentais do intelectual e ativista haitiano, que foi uma referência para os movimentos de independência dos países africanos e é um autor inescapável na produção do pensamento decolonial.
Completam a seleção da semana uma coletânea das melhores crônicas do humorista português Ricardo Araújo Pereira, um livro que reúne contos de Liev Tolstói e de sua mulher, Sófia Tolstaia, ficções amazônicas escritas pela antropóloga Aparecida Vilaça e seu filho, Francisco Vilaça Gaspar, o espaço feminista das flâneuses, mulheres que caminham pela cidade, contado por Lauren Elkin, um romance de Walter Kempowski passado no final da Segunda Guerra, um conjunto de poemas do poeta e tradutor floresta e o novo romance de Juliana Leite.
Viva o livro brasileiro!
Textos escolhidos: A tragédia do rei Christophe; Discurso sobre o colonialismo; Discurso sobre a negritude. Aimé Césaire.
Trad. Sebastião Nascimento • Cobogó • 240 pp • R$ 68
Contém três obras centrais do poeta e dramaturgo martinicano (1913-2008), criador do conceito de “negritude”. Em seu "Discurso sobre o colonialismo" (1950), o escritor mostra que o colonialismo europeu não se distinguia do nazismo, pois aplicava nas colônias na América, na África e na Ásia a mesma política de exploração e extermínio que Hitler utilizou na Europa. Na peça teatral A tragédia do rei Cristophe, publicada em 1963, Césaire analisa a dominação colonial e a condição pós-colonial por meio da trajetória do Haiti, destacando a resistência dos africanos escravizados e de seus descendentes. Por fim, no “Discurso sobre a negritude” (1987), Césaire atualiza o conceito que ele mesmo formulou nos anos 30.
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Tolstói & Tolstaia. Lev Tolstói & Sófia Tolstaia.
Trad. Irineu Franco Perpetuo • Carambaia • 448 pp • R$ 139,90/97,90
O volume contém a célebre "Sonata a Kreutzer", de Tolstói, e duas novelas escritas por sua mulher, Sófia — "De quem é a culpa?" e "Canção sem palavras" —, que estão calcadas no tenso relacionamento do casal e nas quais ela discute os temas presentes na novela do marido (a natureza do amor, a paixão, o ciúme e as complicações da vida em família e o poder da música sobre o temperamento humano). O volume traz ainda um texto que Tolstói escreveu para esclarecer o conteúdo de sua novela e ensaios de Mário Luiz Frungillo e Irineu Franco Perpetuo.
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Estar vivo machuca. Ricardo Araújo Pereira.
Apres. Tati Bernardi • Tinta-da-China Brasil • 264 pp • R$ 74
O livro reúne as melhores crônicas do humorista português publicadas na revista portuguesa Visão e na Folha de S.Paulo, selecionadas pelo escritor Gustavo Pacheco, codiretor da revista Granta. As crônicas falam dos problemas da vida cotidiana (telefones celulares, redes sociais, metafísica do pecado, mito da autoajuda), das personalidades em evidência (Cristiano Ronaldo, Kierkegaard, Flaubert) e trazem sátiras políticas envolvendo Michel Temer e Eduardo Cunha.
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Ficções amazônicas. Aparecida Vilaça e Francisco Vilaça Gaspar.
Ils. Paloma Ronai • Todavia • 216 pp • R$ 69,90
Autora de Morte na floresta (2020) e Paletó e eu (2018), a antropóloga do Museu Nacional e seu filho, químico da UFRJ, apresentam histórias ficcionais baseadas em narrativas tradicionais dos povos amazônicos. Falam de um grande contador de histórias, um craque no futebol que ficou conhecido como o Garrincha da floresta, do sumiço de um hipopótamo colombiano que tinha sido importado pelo traficante Pablo Escobar e de uma menina que sobreviveu a uma grande epidemia, entre outros temas.
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Flâneuse: mulheres que caminham pela cidade em Paris, Nova York, Tóquio, Veneza e Londres. Lauren Elkin.
Trad. Denise Bottmann • Fósforo • 360 pp • R$ 74,90
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Descritos por Baudelaire e analisados por Walter Benjamin, os flâneurs se tornaram um dos grandes símbolos da modernidade. Mas Laura Elkin observa: e as mulheres? Elas também estavam lá, flanando pelas mesmas ruas e frequentando os mesmos cafés, usufruindo o espaço público em metrópoles como Londres, Paris ou Nova York. A escritora e crítica americana mescla a sua experiência pessoal como flâneuse com as memórias de Jean Rhys, Virginia Woolf, George Sand, Sophie Calle e Martha Gelhorn.
Trecho do livro: “O espaço não é neutro. O espaço é uma questão feminista. O espaço que ocupamos — aqui na cidade, nós, habitantes da cidade — é constantemente refeito e desfeito, construído e imaginado. “O espaço é uma dúvida”, escreveu Georges Perec; “preciso constantemente marcá-lo, designá-lo. Nunca é meu, nunca me é dado, preciso conquistá-lo.”
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Tudo em vão. Walter Kempowski.
Trad. Tito Livio Cruz Romão • DBA Literatura • 440 pp • R$ 89,90
Lançado em 2006, após a conclusão de sua monumental Das Echolot (1993-2004), o romance descreve uma família alemã que vive num casarão prussiano na região de Königsberg (atual Kaliningrado) e que tenta levar uma vida normal no final da Segunda Guerra Mundial, enquanto se avolumam os sinais de que os soldados russos estão se aproximando da cidade. Essas pessoas que sempre buscaram se manter afastadas de questões políticas passarão por um acerto de contas devastador.
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rio pequeno. floresta.
Círculo de Poemas • 80 pp • R$ 54,90
O quarto livro do poeta e tradutor é um conjunto de poemas que compõem uma espécie de romance de formação, que descrevem a casa da infância, a família, os amores, o tempo, as descobertas e redescobertas do corpo e do erotismo. O título do livro se refere ao distrito do Rio Pequeno, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, que teve muitos córregos concretados ou transformados em esgotos a céu aberto. Os poemas denunciam as atuais formas de opressão histórica e social.
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Humanos exemplares. Juliana Leite.
Companhia das Letras • 248 pp • R$ 69,90
Ganhadora dos prêmios Sesc e APCA com o romance Entre as mãos (2018), a escritora fluminense descreve uma idosa que vive sozinha em seu apartamento, transitando entre a janela da sala e a mesa da cozinha, à espera de um telefonema da filha que mora em outro país. Viúva de um professor de geografia perseguido pela ditadura, ela é a única sobrevivente de um grande grupo de amigos que agora vive enredada em suas memórias.
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Listão da Semana: confira os lançamentos de semanas anteriores
Matéria publicada na edição impressa #59 em julho de 2022.
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