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A cobertura especial d’A Feira do Livro, que acontece de 14 a 22 de junho, é apresentada pelo Ministério da Cultura e pela Petrobras

MINISTÉRIO DA CULTURA E PETROBRAS APRESENTAM

A jornalista e escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho (Flavio Florido)

A FEIRA DO LIVRO 2025,

‘Europa e jornalismo são cúmplices de genocídio em Gaza’, diz Alexandra Lucas Coelho

Jornalista e escritora portuguesa denunciou silêncio da mídia e do Ocidente sobre conflito durante mesa n’A Feira do Livro

15jun2025

A jornalista e escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho denunciou a Europa e o jornalismo como alguns dos cúmplices do massacre em curso na Faixa de Gaza, em uma das mesas mais aplaudidas d’A Feira do Livro deste domingo (15).

Coelho, que acaba de lançar um compilado de textos sobre o conflito Israel-Hamas intitulado Gaza está em toda parte (Bazar do Tempo), foi implacável em suas críticas à guerra que mobiliza a região desde 7 de outubro de 2023. Naquela data, integrantes do Hamas assassinaram cerca de 1.200 israelenses, um ataque cuja resposta militar já matou mais de 55 mil palestinos, mulheres e crianças em sua maioria, e reduziu Gaza a destroços, sendo considerado um genocídio por várias nações e entidades internacionais.

Suas observações mais contundentes foram dirigidas, porém, a duas entidades das quais ela é íntima: a Europa, continente em que nasceu, e o jornalismo, profissão que exerceu durante a maior parte de sua trajetória e motivo pelo qual se aproximou da causa palestina em primeiro lugar.

A Europa, disse a jornalista e escritora, “é mãe e filha deste genocídio”. Afinal, a origem do Estado de Israel está diretamente conectada ao antissemitismo europeu, que alcançou sua expressão máxima no Holocausto promovido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. 

Segundo Coelho, foram esses mesmos europeus antissemitas que se aliaram depois aos propositores da criação do Estado de Israel na Palestina, “pois se os judeus fossem para lá, eles não estariam na Europa”. “Os palestinos estão a expiar tudo aquilo que é culpa da Europa, antes de mais nada. E é exatamente por isso que a Europa tinha a obrigação, antes de toda a gente, de impedir que [o genocídio] acontecesse.”

Invisibilidade do genocídio

O jornalismo, por sua vez, disse a portuguesa, vive desde o início do conflito Israel-Hamas uma de suas maiores tragédias. Desde o 7 de outubro de 2023, nenhum profissional da imprensa internacional pode entrar em Gaza livremente — os poucos que o fizeram estavam junto do Exército israelense. 

“Se as grandes estrelas do jornalismo mundial tivessem entrado em Gaza, Israel não teria podido bombardeá-la”, afirmou Coelho. “Não conheço ninguém que tenha entrado naquela pequena faixa de terra, nenhum repórter, que não tenha percebido que aquilo não se comparava com nada no planeta. Como é que foi possível esquecer aquelas pessoas ali todos estes anos, desde 2005?”, prosseguiu, fazendo referência ao ano em que Israel retirou de Gaza os colonos que viviam lá e passou a atacar a faixa constantemente.

Ela afirmou que Israel é um “Estado pária, genocida”, que precisa ser isolado pela comunidade internacional. E que os países árabes “têm tido um comportamento obsceno” para com os palestinos, guiados apenas por interesses comerciais. E se disse descrente até mesmo da solução de dois Estados, que prevê a criação de um Estado palestino ao lado do israelense já existente — a alternativa geralmente é defendida pela comunidade internacional para dar fim ao conflito.

“O que estamos a ver agora podemos considerar uma solução final, essas palavras terríveis que vêm do Holocausto, do maior horror que o mundo conheceu no século 20. Mas é o que estamos a ver agora”, completou a autora.

Os jornalistas Eduardo Sterzi e Alexandra Lucas Coelho (Flavio Florido)

Não foi a única vez em que a comparação entre o Holocausto e o que acontece em Gaza foi enunciada na mesa, mediada pelo poeta, crítico literário e jornalista Eduardo Sterzi. Antes do início, o filósofo Peter Pál Pelbart subiu ao palco e leu uma carta em que urgia a comunidade judaica brasileira, da qual faz parte, a repudiar as ações israelenses contra os palestinos.

“Tudo é antissemitismo, todos estão contra nós, repetem eles [os judeus]”, disse Pelbart. “É hora de arrebentar esse espelho que nos devolve uma imagem de sermos as maiores vítimas da história. É hora de, quebrando esse espelho, enxergar o rosto de quem está do outro lado dele.”

Coincidentemente, ao mesmo tempo em que Alexandra Lucas Coelho fazia sua participação n’A Feira do Livro, um ato pró-Palestina se acercou da praça Charles Miller, com vários dos manifestantes trajando o mesmo lenço típico palestino que a autora trazia sobre os ombros, o kefiah. Mais tarde, parte deles entrou na praça bradando palavras de ordem diante do principal palco do evento.

A quarta edição d’A Feira do Livro 2025 acontece de 14 a 22 de junho, na praça Charles Miller, no Pacaembu. Realizado pela Associação Quatro Cinco Um, pela Maré Produções e pelo Ministério da Cultura, o festival literário paulistano, a céu aberto e gratuito, reúne mais de duzentos autores e autoras do Brasil e do exterior em uma programação com mais de 250 atividades, entre debates, oficinas, contações de histórias e encontros literários. Confira a programação e outras notícias do festival.

A Feira do Livro 2025 · 14 — 22 jun. Praça Charles Miller, Pacaembu

A Feira do Livro é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet – Incentivo a Projetos Culturais, Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão do livro e da leitura no Brasil, Maré Produções, empresa especializada em exposições e feiras culturais, e em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Quem escreveu esse texto

Clara Balbi