Capa,
Princípio explosivo
O Vesúvio pelo olhar de Laura Teixeira, feito de fitas adesivas coloridas, dialoga com a obra de Elena Ferrante na capa inaugural da revista Quatro Cinco Um
14dez2018 | Edição #1 mai.2017De mesma origem napolitana e eruptiva, o vulcão Vesúvio e a literatura de Elena Ferrante compõem a primogênita capa da revista Quatro Cinco Um, lançada em maio de 2017 e ilustrada por Laura Teixeira (@laura_teixeira) com o uso exclusivo de fitas adesivas coloridas – segundo ela, um material com voz firme, capaz de gritar.
Hilda Hilst, John Williams, John Banville e Raimundo Carrero estão entre os autores que tiveram suas obras ilustradas por Laura. A artista gráfica e ilustradora, mestre pela FAU-USP com especialização na Eina-UAB (Barcelona), colabora com veículos como Folha de S.Paulo, Le Monde Diplomatique e Stripburger (Eslovênia), e é autora de Pássaro-desenho e Bolinha branca (Mov Palavras). Dentre as exposições das quais participou, destacam-se Fantasias e experimentos – arte brasileira para crianças (Museu Struwwelpeter, Frankfurt) e Acrobatas das formas – Novas ilustrações do Brasil (Mundo Azul, Berlim).
Como foi seu processo de criação para essa capa? Quando me disseram que gostariam de que eu desenhasse o Vesúvio para a ilustração, achei curioso, pois havia acabado de assistir ao documentário do [Werner] Herzog sobre vulcões. Parei para pensar e percebi que estava mais mergulhada nesse assunto do que sabia, e por isso o processo de criação foi extremamente fluido.
Optei por trabalhar somente com fita adesiva colorida larga. A escolha da técnica tem a ver com o comportamento dos vulcões em geral. Essa fita não é um material fácil de controlar. Ela enruga, não desgruda fácil do rolo. E, quando enfim desgruda, faz um barulhão. Tem cores vibrantes, brilha! Enfim, fico lembrando dos bichos da Lygia Clark quando falo dessa fita. É um material que tem voz firme, que pode demorar para responder, mas quando responde, é capaz de gritar muito alto.
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Nesta edição, suas ilustrações acompanham textos relativos à literatura de Elena Ferrante. Você é leitora da escritora? Sim, e gostei muito de ilustrar uma matéria sobre sua obra. As personagens têm o poder de conduzir incisivamente a lugares simbólicos pouco acessíveis, o que faz com que a experiência de leitura seja fascinante e transformadora.
O que acha da representatividade das mulheres na ilustração contemporânea brasileira? O território da ilustração é bastante amplo. Me sinto à vontade para falar sobre as áreas em que mais atuo: livros ilustrados, revistas e jornais. Há várias mulheres que têm se destacado e mostrado trabalhos de muita consistência nesse meio. Veridiana Scarpelli, Mariana Zanetti, Sandra Jávera e Talita Hoffmann são alguns nomes de ilustradoras brasileiras por quem tenho grande admiração.
Pode descrever seu local de trabalho? Desenho no meu apartamento, que, apesar de ficar perto do centro de São Paulo, tem uma pseudo varanda com vista para árvores, com um belo coqueiro em primeiro plano. A proximidade com as plantas faz com que eu use muito esse espaço, apesar de contar com dois outros cômodos com estantes, mesas, livros, projetos em andamento etc.
O que a estimula profissionalmente? Em geral, trabalho para responder a algo que me acontece, ou para me apropriar de alguma experiência e compartilhá-la com as pessoas. A prática do desenho se desenvolve de forma paralela à minha atuação como ilustradora, e tem ganhado cada vez mais espaço nos últimos anos.
Matéria publicada na edição impressa #1 mai.2017 em maio de 2017.
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